Capítulo 34

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Cavalo Manco vasculhou o porta malas, deu a volta no carro e voltou a se sentar ao meu lado.

Eu ainda tentava assimilar suas acusações raivosas contra James, quando um capuz fedorento foi colocado sobre a minha cabeça.

— Desculpe gatinha, a vista é linda — referiu-se a ele com imodéstia —, mas você não vai poder apreciá-la.

O veículo arrancou violentamente, me arremessando contra a janela. Gemi quando minha cabeça latejou com a pancada, e ouvi risos dos homens no carro. Aproveitei que meu rosto estava coberto e chorei, implorando a Deus que me socorresse e me livrasse daquela situação. Eu estava apavorada e realmente começava a achar que seria meu fim.

Pedi perdão pelos meus pecados e conforto para meus pais, imaginando como eles estariam e como ficariam se eu fosse dessa para melhor.

Os solavancos não pararam durante todo o trajeto e os marginais se divertiam com minha desgraça.

Um longo tempo depois o carro parou e fui arrastada pelo braço para fora do veículo.

A essa altura, minhas forças havia se esgotado. Eu mal conseguia sentir minhas pernas e meu corpo todo tremia. Meu estado pareceu irritar quem me puxava, pois fui atingida no rosto por algo que pareceu ser uma cotovelada.

Fui ao chão com o impacto. O gosto ácido de sangue invadiu a minha boca e o desespero cresceu ainda mais dentro de mim.

"Não permita que eu morra dessa maneira, Senhor!"

Fui conduzida por um lance de escadas e senti que estava em uma casa. Pouco tempo depois, me jogaram com força para dentro de um cômodo. Choquei-me contra uma parede e novamente risos desdenhosos ecoaram pelo ambiente.

— Isso está sendo mais divertido do que eu imaginei que seria. — Reconheci a voz repugnante do Cavalo Manco antes de passos virem em minha direção.

O capuz foi arrancado com violência da minha cabeça e um sorriso de escarnio surgiu nos lábios do meu raptor.

— Mina, tu tá um bagaço! — Cavalo tocou meus ferimentos de uma forma nada gentil, fazendo-me esquivar.

— Não toque em mim, seu porco nojento — falei com repulsa.

O sorriso irritante sumiu do rosto dele. Cavalo meneou a cabeça e seus olhos escureceram. Fúria tomou conta de seu semblante.

Isso é tudo que eu me recordo, antes da treva total.

***

Minha cabeça parecia pesar toneladas. Tentei abrir os olhos, mas as pálpebras não obedeciam aos comandos do meu cérebro.

O silêncio era absoluto.

Situando-me um pouco ao ambiente em que encontrava, pude perceber um colchão macio sob mim e as paredes brancas. Diferente de antes, aquele lugar não tinha cheiro de esgoto.

"Será que eu morri?"

Com dificuldade e sentindo cada músculo do pescoço doer, virei minha cabeça lentamente, meu corpo aos poucos obedecendo cada comando.

Pela pequena fresta que se abria em meus olhos, pude ver, ainda que desfocado, a presença de dois homens. Um estava em pé em frente a uma imensa janela de vidro, mirando algo do lado de fora. O outro estava ao lado da cama, sentado em uma poltrona, com a cabeça baixa e as mãos unidas em baixo do queixo, parecendo orar.

Reconheci o perfume do meu pai e um grande alívio me inundou.

— Pai... — sussurrei, e o homem na poltrona levantou a cabeça no mesmo instante.

O dono do morro da Luz e a missionária cristãOnde histórias criam vida. Descubra agora