Durante toda a minha vida, fui sempre a número dois. E isso por culpa de míseros 1 minuto e 8 segundos.
Sempre gosto de pensar que se eu tivesse vindo ao mundo 68 segundos antes, eu seria a primeira. Mas quis o destino que não fosse assim. A primeira foi Hanna da Silva, minha irmã gêmea.
Eu gostaria até de poder contar que tenho uma grande história de nascimento como a de Jacó, que nasceu segurando o calcanhar do irmão, assim, talvez tivesse esperança, uma vez que o mais velho serviu o mais moço. Mas não, o destino quis os 68 segundos entre nós, e foi assim que nasci na sombra de minha irmã.
Hanna é a típica menina perfeita. Linda, inteligentérrima, delicada, educada e a primeira em tudo. Foi a primeira a engatinhar, a andar, a ler. A primeira a dizer mamãe, enquanto eu preferi dizer o nome do nosso cachorro na época. Não preciso dizer que, por isso, ela era a preferida de nossos pais.
Não para por aí. Ela era a primeira da turma na escola, a primeira a ser escolhida na hora das brincadeiras, a primeira a entregar os trabalhos. Não preciso mencionar que passou em primeiro lugar na federal para medicina.
Na igreja, Hanna continuava seu papel. Quis Deus que ela tivesse todos os dons necessários para servir. Canta, toca, sabe dar aula para crianças como nenhuma outra. Foi líder do louvor, líder da oração dos jovens, líder da equipe de eventos.
Mas não me leve a mal. Eu amo a minha irmã. Aliás, se quer saber a verdade, ela sempre foi meu exemplo. Éramos unha e carne. Ela a primeira, eu a sombra, Amber, a irmã gêmea da Hanna. Mas eu não me importava, contanto que estivéssemos sempre juntas.
E assim foi, até aquele fatídico dia.
Estávamos comemorando a aprovação dela e claro, meus pais não mediram esforços e organizaram uma festa para contar a todos que a filha — número 1 — de José e Maria da Silva havia conquistado o primeiro lugar mais disputado. Nossa família, amigos e igreja, todos queriam comemorar a conquista! E, claro, Matheus West, o garoto por quem eu era apaixonada desde os 12 anos também estava presente.
Bem, posso pular exatamente para o momento em que eu escutei, sem querer, a conversa dele com Hanna. Eles estavam no jardim e eu atrás de um vaso de plantas.
— Hanna, eu amo você! Por favor, me dê uma chance — ele pediu. Meu coração disparou, o prenúncio da queda que o despedaçou por completo. Claro, Hanna sabia o quanto eu era apaixonada pelo rapaz, éramos confidentes.
Segurei no meu peito, pronta para levar uma facada. Como uma pessoa em sã consciência recusaria um jovem como Matheus?
— Sinto muito, Matheus — ela respondeu um tanto nervosa. — Eu não sinto por você o mesmo. E, sinceramente, ainda que sentisse, isso é muito precipitado. Eu quero dedicar minha vida a Cristo antes de entrar em um relacionamento.
— E é exatamente isso que eu mais admiro em você, Hanna. E é isso que me faz desejar ser seu namorado.
— Matheus, por favor, eu não quero me relacionar com você, nem com ninguém.
Eu nada mais ouvi, sai despedaçada, chorando e me tranquei no banheiro para desaguar tudo que ardia dentro de mim. Depois, me recompus e retornei para a festa.
Hanna nunca comentou nada sobre o episódio. Talvez ela tivesse medo de me magoar. Mas o silêncio dela só aumentou o grande buraco que se ergueu entre nós. Um buraco silencioso, que usava como desculpa o estudo, a mudança de rotina e tantas outras coisas.
A verdade é que eu culpei os 68 segundos. Se eu tivesse nascido primeiro, seria eu a Hanna da Silva e eu quem seria a primeira. Eu seria a amada aos olhos do Matheus.
Maldito destino!
Contudo, foi no dia seguinte a esse acontecimento que, orando, suplicando a Deus para tirar de mim aquele amor não correspondido, que eu entendi o rumo da minha vida.
Sim, eu dedicaria minha vida a Cristo primeiro. Seria missionária! Eu iria aos lugares escuros, em busca das almas perdidas, e as conduziria a Cristo.
E foi também nessa mesma noite, quando eu tive um sonho. O sonho que me consolou e me garantiu que o amor da minha vida estava me esperando, pronto para ouvir dos meus lábios sobre o maior de todos os amores.
♥♥♥
E lá vamos nós, chuchuzinhos! Se esse capítulo tiver 30 curtidas, postaremos 3 capítulos por semana, se Deus permitir!
J.P.
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O dono do morro da Luz e a missionária cristã
HumorATENÇÃO: o livro é humor pastelão, uma sátira que brinca com os livros com essa temática, mas com uma mensagem importante no fim - bem diferente do que vocês estão acostumados a ler por aí! Tudo foi cuidadosamente pensado para fazer zoeira! Das mesm...