Capítulo 16

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Dado ainda ao efeito da luz e refém dos sentimentos despertos pelo pânico por ter sido violentamente levada contra a minha vontade para sabe-se lá onde, aquela figura masculina à minha frente pareceu-me ainda mais assustadora. Prendi a respiração quando encarei seu rosto encontrando em sua feição traços que indicavam estar completamente atordoado e confuso.

— James — murmurei e então me dei conta de que era ele o suposto culpado por todo aquele momento de terror que me fizeram passar.

Então todo o medo e apreensão foram colocados para fora, fui incapaz de controlar minhas emoções, caindo em um choro sofrido e copioso, a angústia que abatia minha alma como assombro escorrendo por minha face.

— Amber — Céu também murmurou.

Inesperadamente, ele me tomou em seus braços de uma maneira tão terna que eu poderia jurar que estava juntado até os mais distantes cacos de meu corpo fragilizado. É incrível como um toque atencioso em momentos de caos é capaz de nos prover segurança e conforto. Deixei o calor de seu abraço causar em mim o efeito necessário para que eu pudesse voltar a ter controle de minhas emoções.

Quando me acalmei, pude prestar mais atenção nas palavras de afeto proferidas por aquele homem, que até então estavam abafadas pelo meu intenso choro.

— Que bom que está aqui — ele disse e suspirou. — Eu preciso de você, raio de sol.

Aquela sentença foi como um despertar para outro sentimento. Furiosa, me dei conta de que só estava ali, precisando de consolo, porque aquele brutamonte havia mandando alguém me raptar. Afastei-me bruscamente de seus braços e o encarei sentindo minha respiração se acelerar.

— Você só pode ser louco! — bufei me erguendo. — Tem noção do que você fez? Do medo que eu senti? — Sorri irônica. — Que jeito estranho de demonstrar o quanto precisa de alguém. Ah, claro! Mande três homens encapuzados e uma criança... Sim, você envolveu uma criança inocente nisso tudo! Me trouxeram a força, me vendaram, me amordaçaram, me ameaçaram... — Fechei os olhos sentindo meu peito subir e descer com a raiva espalhando-se por meu corpo. — Ameaçaram cortar minha língua! Faz ideia do que eu passei? E isso tudo porque você me queria aqui?

Tentei me controlar, porém, o turbilhão de emoções fez o choro voltar incontrolável, intensificando ainda mais a minha ira. Céu mais uma vez me abraçou. Ele parecia aflito, tentando me consolar enquanto acariciava meus cabelos.

— Me desculpe por isso — ele disse e se afastou. — Não se preocupe, eu vou resolver esse assunto.

Levei a mão até o coração, respirando profundo, enquanto ele saiu pela única porta do cômodo, fechando-a com brutalidade. Avaliei o ambiente ao redor e contatei que estava em uma espécie de porão, sem janelas. Procurei uma saída enquanto pensava o que o dono do morro queria comigo, até ouvir, do lado de fora, vozes indicativas da presença de outros homens, além de Céu.

Quem estava do outro lado da porta? Sobre o que estavam conversando? O que fariam comigo? Eu não tinha a menor ideia. Tudo o que queria era voltar rapidamente para a segurança do meu lar. Pulei de susto quando Céu alterou o tom de voz de maneira assustadora, ameaçando alguém.

— Não chefim, eu não gosto de escuro, prefiro a pimenta — aquela voz rouca que outrora foi tão severa comigo, agora parecia muito amedrontada. — Não me castiga assim não, se eu soubesse que a mina era especial pro senhor teria feito diferente.

— Verdade chefe, só fizemos como de praxe — uma segunda voz desconhecida justificou-se.

— Vocês três, saiam da minha frente, agora! — Céu ordenou com fúria. Houve um pequeno intervalo antes de do dono do morro falar novamente com autoridade. — Pão, eu vou te dar três ordens e espero que elas sejam cumpridas a risca.

O dono do morro da Luz e a missionária cristãOnde histórias criam vida. Descubra agora