Camila POV
Havia acabado de chegar na floricultura e fui logo para os fundos da loja onde eu arrumava as mudas e os arranjos, falei com Mani no caminho essa que estava bastante ocupada com um grupo de mulheres. Me sentei na mesa e quando comecei a retirar umas mudas dos vasos pequenos de barro senti dois dedos nas laterais de minha cintura e um "Buh" o que me causou um pequeno pulo por conta dos dedos em minha cintura, lugar onde sou muito sensível.
— Não me fez medo - olhei a garota a minha frente que tinha uma expressão chateada e um grande bico em seus lábios.
— Mas você até deu um pulinho - ela encenou meu pulinho e eu revirei os olhos sorrindo e ela me acompanhou.
— Você sabe que essa região aqui - apontei as laterais de minha cintura - é muito sensível e eu sinto cócegas facilmente.
— Trouxe isso aqui pra você - ela ergueu um saco de papel branco e me estendeu - são rosquinhas da melhor cafeteria - falou orgulhosa.
— Duvido que seja a melhor cafeteria - eu sabia que não era da cafeteria da Lauren - não estou dizendo que as rosquinhas são ruins - arregalei os olhos e ela semicerrou os dela.
Deixei o saco em cima da mesa e ela começou a me contar o que tinha acontecido com ela na noite passada, o que foi uma história muito engraçada e eu como uma boa besta pra rir já estava com a barriga doendo. Ela contava que acordou de madrugada com fome e foi mexer na geladeira a noite e não acendeu as luzes e se assustou quando sua mãe apareceu com um cabo de vassoura achando que havia um ladrão na cozinha, deixei minha cabeça cair pra trás e dei uma risada alta e levei as costas de minha mão direita até minha boca tentando parar de rir.
— Para de rir de mim palhaça - ela falava e ao mesmo tempo sorria comigo - você é muito bobinha Camila.
Ela se inclinou em minha direção e deixou um beijo demorado em minha bochecha quando ela se afastou eu ouvi algum barulho do meu lado e olhei na direção e o que eu vi, ou melhor, quem eu vi, me surpreendeu. Lauren estava com uma mão no ombro de uma mulher e falava algo pra ela meio acanhada e então seu olhar se encontrou com o meu e eu tinha um sorrisinho em meus lábios. Ela pareceu se assustar e eu tive a impressão de que ela iria sair correndo.
Me levantei do banco rapidamente e ergui o dedo em direção a garota a minha frente e fiz sinal para que ela me esperasse e então fui na direção de Lauren que dava pequenos passos para trás e só parou pois se chocou levemente a prateleira de flores.
— Fiquei me perguntando quantos dias eu iria ter que esperar até que você resolvesse aparecer aqui - falei enquanto passava um tecido marrom claro em minhas mãos que estavam sujas de adubo.
— E- eu - ela piscou os olhos várias vezes e então olhou na direção da garota que estava sentada no banco a qual eu estava a segundos atrás - eu não queria atrapalhar vocês, eu já estava indo embora.
— Mas creio que você acabou de chegar ou estou engana? - ela negou com a cabeça - e você não está atrapalhando nada, a Normani já te viu?
— Eu falei com ela assim que entrei - ela agora olhava seus pés e segurava a barra de sua blusa com um pouco de força - se você quiser e-eu posso voltar de-depois.
Fiquei encarando seu rosto, eu queria que ela me olhasse mas sempre que estávamos perto ela olhava até a formiga que passava menos nos meus olhos. Levei uma mecha do meu cabelo até a parte de trás de minha orelha e cruzei os braços, resolvi não a responder para ver se ela estranharia e olharia em meu rosto, e não é que deu certo?
— Tá achando que eu sou filha de Fórcis e Ceto por um acaso Lauren? - falei assim que ela ergueu o rosto e me olhou e então ela negou diversas vezes com a cabeça.
— N-não camila, meu Deus, você não tem nada a ver com a Medusa, quer dizer - ela estava se atrapalhando no que queria falar.
— Você nunca me olha diretamente, eu não vou transformar você em pedra - dei um sorriso em sua direção e vi que a lateral de seus lábios deu uma leve curva e eu sorri mais ainda pois vi que ela também queria sorrir - vem.
Andei até onde eu estava anteriormente e olhei por cima de meu ombro pra ver se ela me acompanhava e para a minha surpresa ela vinha caminhando devagar e timidamente bem atrás de mim.
— Essa aqui é minha amiga, Billie - apontei a garota que se levantou do banco e estendeu a mão para Lauren - Billie essa aqui é a Lauren.
— Muito prazer em te conhecer Lauren - Billie falou sorrindo e Lauren apenas concordou com a cabeça e apertou a mão dela.
— Bom eu vou indo, minha mãe acabou de ligar e eu preciso ir no mercado com ela já que peguei o carro - ela ergueu o molho de chaves em sua mão e se aproximou de mim mais uma vez e beijou minha bochecha com força e acenou para Lauren.
— Está com fome? - falei assim que Billie saiu pela porta - tenho rosquinhas aqui e sei que não vai ser tão boa quanto a sua mas é o que temos? - dei de ombros e ela me olhou como se quisesse me perguntar algo mas não tivesse coragem de o fazer.
— Acho que deve estar boa, mas eu não quero, estou cheia - eu puxei um banco e deixei próximo ao meu e sinalizei pra que ela sentasse e ela sentou, me sentei também no outro depois de lavar as mãos e puxei o saco e tirei uma rosquinha, dei uma mordida generosa no doce - ela foi a pessoa que você saiu naquele dia?
— Hum? - deixei um som nasal sair já que estava com a boca cheia e tentei lembrar do que ela estava falando e então lembrei e concordei com a cabeça - sim, foi com a Billie que eu saí semana passada - ela estava mexendo em uma muda e mais uma vez ela não me olhava e percebi suas bochechas um pouco vermelhas - quer me perguntar algo a mais?
— N-não - ela passou a ponta da língua em seus lábios e eu acompanhei com o olhar. Ela parecia em uma luta interna com ela mesma, ela se ajeitou inquieta no banco e puxou bastante a respiração - vocês namoram?
Ela me pegou de surpresa com aquela pergunta e eu fiquei a olhando com as sobrancelhas erguidas e então ela me olhou e senti como se seus olhos estivessem lendo cada canto dentro de minha alma, eu já havia notado que seus olhos eram bonitos pelas vezes em que ela me olhou. Mas agora aqui com ela me olhando por tanto tempo como se fosse a primeira vez em que nos olhássemos eu pude ver melhor suas orbes verdes e clarinhas, terminei de mastigar a rosquinha e apoiei meu braço na mesa ainda a encarando, irei aproveitar esse surto de coragem que deu nela de ficar me encarando.
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Soul Meraki
Roman d'amourMeraki (v); do grego μεράκι, fazer algo com alma, criatividade ou amor. Colocar parte de si em algo que esta a fazer. Uma tarde chuvosa em Melbourne na Austrália obriga uma jovem de cabelos castanhos a entrar em uma pequena e aconchegante cafeteria...