Capitulo 27

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A irmã Catherine não sabia que eu ia ficar na casa do portão. Como poderia ela saber? Isto era apenas paranoia minha. Se calhar, ela estava a convidar hóspedes para ficarem ali e aquilo não tinha nada a ver comigo. Mesmo assim, o meu coração palpitava de ansiedade. E em relação a Liam? Eu tinha estragado completamente as coisas entre nós, mas não era tarde de mais. Porque não ia simplesmente ter com ele? O bater do meu coração estava a deixar-me louca. Pousei a mão sobre o peito, mas isso não contribui para acalmar aquele batimento incessante, que refletia a minha solidão, o meu desejo de estar com ele, e cada segundo de infelicidade em que não estava. Porque não vinha Liam ter comigo? Por desconhecer a razão que me levara a dar-lhe com os pés e, provavelmete, por me considerar uma pessoa horrorosa. Podia sair neste momento da casa do portão, ao luar, ir até à casa principal e atirar-lhe pedras à janela. Era tão fácil... Então, porque não fazia isso mesmo?

Já passava da meia noite, quando finalmente adormeci. Sonhei que estava parada em frente a uma fila de portas de madeira idênticas, com a chave de Harry na mão. Introuduzi-a no primeiro buraco de fechadura e a porta abriu-se para um espaço vazio, imaculadamente branco e sintético. Desesperada, corri para a seguinte. Ao olhar à distância, as postas tinham-se reunido em circulo e eu voltara ao principio. Mas não conseguia parar de procurar. Tinha a sensação de que aquela busca vã continuava pela noite fora. Já fora de mim, comecei a bater na madeira com os punhos. 

Sentei-me na cama com o corpo hirto e o coração a palpitar sob o efeito do sonho. Estremeci. As pancadas na porta eram mais reais e Liam gritava por mim. Olhei á minha volta, procurando qualquer coisa para me tapar. Enrolei-me no lençol branco, dirigi-me num passo vacilante à casa de banho para lavar a boca com pasta de dentes, e corri depois a abrir a porta. 

- Pareces a Eurídice - Liam sorria, observando o meu robe improvisado.Estendeu-me outro cesto com comida. - Já passa das nove. continuas com uma grande pedrada. 

Não lhe perguntei como é que ele sabia isso, porque só havia uma resposta. A casa do portão era minúscula e as cortinas finas não encaixavam na perfeição; ele devia ter-me visto, enquanto dormia. Pousei o cesto, segurando o lençol antes que ele me escorregasse.

- Não trouxe um roupão ou um toalha - expliquei com acanhamento.

Liam apresentou-me um saco que trazia atrás das costas.

- Está aqui uma toalha e as outras coisas que te prometi - murmurei um agradecimento com ar embaraçado.

Ele afastou-se uma dezena de metros e não resistiu a olhar para trás, com os olhos semicerrados por causa do sol. Aquele era o momento para lhe dizer alguma coisa. Podia atirar-me para os braços dele, sem me esquecer de agarrar no lençol. As saudades eram tantas, que eu fiquei calada, a olhar para ele como uma idiota. Liam lançou-me um sorriso triste e virou-se para se ir embora. Vi-o afastar-se, mortificada pelo desgosto. Era assim que me ia sentir quando ele voltasse para sua casa, e tomei a decisão, naquele momento e lugar, que não ia assistir à sua partida. A dor levaria o meu coração a deixar de palpitar.

"Mas ele não ia partir para a Austrália. Estava apenas a voltar para a casa principal. Outra oportunidade de ouro desperdiçada. Porque é que fui tão pouco enérgica e tão impotente para lutar pela felicidade? Eu sabia que Liam gostava de mim. Ele não podia tornar isso mais óbvio. O que aconteceu à minha decisão de tirar partido de cada momento?"

Como uma enorme descarga de adrenalina, fechei a porta com estrondo, despejei o saco de Liam no chão e agarrei um par de calções compridos e uma t-shirt. Não demorei mais de meio minuto a enfiá-los à pressa e a calçar as sapatilhas. Liam dispunha apenas de um pequeno avanço, mas já não estava à vista. As minhas pernas compridas muniam-se sempre de uma boa capacidade de arranque e eu tinha a certeza de que o apanhava facilmente. No entanto, corri e voltei a correr, estimulada pelos nervos, até atingir o ponto onde as àrvores se tornavam mais dispersas e era possivel avistar a casa e o pátio de entrada. Ele não estava à minha frente. Olhei em redor, e Liam não estava em lado nenhum. Senti uma dor no peito e fiquei de novo furiosa comigo própria. Ele devia ter seguido noutra direção. 

Não olhes para trásOnde histórias criam vida. Descubra agora