Não olhes para trás

Capitulo 28

Esmurrei a almofada com tanta força, que o enchimento se separou, deixando-me com monticulos irregulares que me massacravam a cabeça. "Não pode confiar nele próprio." A pior coisa que Liam podia ter dito era que me respeitava de mais. Tinha-me atirado a ele, e ele não o podia aceitar porque tinha escrúpulos e força moral, e outras qualidades completamente insurportáveis. O sono tardou a chegar e, quando finalmente veio, encheu-me de sonhos torturantes relacionados com Liam, nos quais ele não tinha absolutamente moral nenhuma. Aguardei com impaciência junto à janela, até o ver aproximar-se da casa do portão, e abri a porta antes de ele ali chegar. Ambos estávamos ligeiramente embaraçados depois da noite anterior, e Liam ficou desanimado ao saber que eu tinha pensado ir trabalhar. 

- Estás a falar a sério? - questionou-me. - Passa o dia comigo, Jessy. Sabes que não temos muito... - imterrompeu-se bruscamente e a palavra tempo ficou por dizer. Senti-me reconhecida por isso. 

Apoiei a minha face na sua, passando-lhe os dedos pelo cabelo, nesse momento entre o dever e o desejo. 

- Não me posso esquecer do Harry - disse-lhe. - A irmã Catherine ganhou e ela sabe disso. Ela disse-me que eu tinha de trabalhar catorze dias até encontrar as minhas respostas. Se não tiver pistas novas do Harry, não posso fazer mais nada.

Liam acariciou-me o pescoço, despoletando de imediato um calafrio na minha espinha.

- Então eu vou ajudar-te - propôs ele, com uma expressão determinada. - Juntos, conseguimos acabar o trabalho mais depressa.

- Tenho de fazer isto sozinha - repliquei cautelosamente. - Sinto que esta tarefa me cabe a mim, e apenas a mim - a minha testa franzida dava a entender que nem eu compreendia o porquê.

Fiquei à espera que Liam protestasse de novo, mas ele envolveu-me o rosto com as mãos e aproximou-o do seu. O momento que precedia o beijo era sempre o melhor; a expectativa e o desejo davam a tudo a aparência de um movimento em câmara lenta. Quando os nossos lábios se tocaram, prendi-lhe a nuca com as mãos e moldei o meu corpo ao seu. Encaixávamo-nos perfeitamente, as duas partes de um todo. Sorrri interiormente, a pensar que ele deveria ter mudado de opinião em relação a ir-se embora na noite anterior, e agora queria recuperar o tempo perdido. Com um movimento ágil, Liam fez-me recuar e ficar encostada à parede, com a perna a fazer pressão entre as minhas. O meu corpo foi percorrido por sensações deliciosas. Deixei cair a mão e introduzi-a por baixo da t-shirt dele, com os dedos a percorrer-lhe as costas, e sentindo-as arrepiar-se. Por momentos a imagem feliz de Liam a levantar-me nos braços e a levar-me para o quarto toldou a minha mente. Ele ia fitar-me com os seus olhos fascinantes cor de avelã, antes de...

Mas o sonho foi bruscamente interrompido como já tinha acontecido. Liam desenredou-se e forçou-se a tossir. 

- Esqueci-me das horas, Jessy. Devíamos ir já... a irmã Catherine deve estar à espera.

"A irmã Catherine deve estar à espera. Que diferença podiam fazer uns minutos? Tudo o que ela fazia na vida era esperar?" E por que razão estava Liam tão relutante? Era por minha causa? Talvez eu estivesse a fazer tudo mal. Contraí as bochechas, a refletir sobre a questão, enquanto nos dirigiamos para a casa principal. Separámo-nos ao chegar aos degraus da entrada.

A irmã Catherine aguardava-me junto à porta, mas eu fiquei surpreendida porque ela parecia inexplicavelmente... contente.

- Bom dia, Jessy.

Era a primeira vez que me cumprimentava com delicadeza, e eu tive a certeza de que ela continuava a congratular-se por me ter feito voltar. Estranhamente, não me deu quiasquer instruções, o que queria dizer que eu estava livre para trabalhar naquilo que me apetecesse. Mas nem me passou pela cabeça fazer uma folga. Andei a correr pela casa como se tivesse assas. Se aquela era a única maneira de descobrir o que tinha acontecido a Harry, então, estava disposta a trabalhar de corpo e alma.