Capitulo 5 - parte II

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 Aqui está mais um capitulo. Desculpem mas como tive teste intermédio tive de estudar. E acreditem aquela porra era mesmo dificil (até o meu professor o disse) . Parvoices à parte, vou deixar de vor chatear e deixar-vos ler. 

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Continuei a conversar com Louis, sem conseguir no entanto, concentrar-me inteiramente no que dizíamos. As palavras de Harry no bilhete não paravam de girar sucessivamente na minha cabeça, com as expressões a dividir-se para se entrosarem noutras, como dicas para palavras-cruzadas.

De repente, endireitei-me.

 - “O lago que flui vermelho”… já me lembro. Na Irlanda, existe realmente um Lago Vermelho. A mãe falou-nos dele quando éramos crianças. Foi algo que o Harry achou sempre fascinante.

 - Continua – disse Louis num tom encorajador.

Levei as mãos à cara horrorizada. No meio da confusão, tinha-me esquecido de telefonar à minha mãe. Ela devia estar morta de ansiedade. Tirei à pressa o telemóvel da mochila, deixando escapar um gemido perante as mensagens e chamadas não atendidas. Tinha-lhe tirado o som na esquadra da polícia. Liguei para casa, com um aperto no coração.

A minha mãe passou-me um sermão durante cinco minutos, pelo menos, sem que eu dissesse uma palavra em minha defesa. Não valia a pena, já que ela estava enervada e eu estava habituada a carregar com as culpas. De súbito, ela calou-se, exausta e fora de si. Tentei acalmá-la, dizendo-lhe que Harry não tardaria a aparecer, e que eu ia ficar em casa dele e telefonar-lhe assim que houvesse novidades. Aquilo pareceu resultar. Desliguei com um suspiro de alívio. Louis sorria, apoiando-me em silêncio. Revirei os olhos e atirei com o telemóvel por cima do tapete. O jantar abundante tinha-me deixado ensonada e os meus olhos começavam a lacrimejar. Abafei o bocejo e estiquei-me, estremecendo de dor. Sentia os músculos dos braços completamente tensos e havia vergões a despontar nas minhas mãos feridas.

- Lago Vermelho? – Lembrou-me Louis, mas a voz dele parecia vir de muito longe e tive de fazer um esforço para regressar à realidade.

Encostei-me a uma poltrona já velha para arranjar uma posição mais cómoda.

 - A minha mãe veio da Irlanda para o Norte de Inglaterra quando se casou com o meu pai, mas ela sempre gostou de nos contar as lendas irlandesas. Lembro-me muito bem da história do Lago Vermelho, porque o Harry costumava assustar-me com ela.

- O que é que o lago tem de tão assustador?

 - É que este fica em redor de Station Island… um lugar místico, árido, rochoso, envolto em nevoeiro, e… - fiz uma pausa – considerado há muito uma passagem para o outro mundo.

 - Muito bem – disse Louis cautelosamente.

- Isto relaciona-se com São Patrício. Sabes que é o santo padroeiro da Irlanda, não é?

 - O fulano das cobras.

Lancei-lhe um olhar severo a fingir.

- Sim, o fulano que correu com todas as cobras que havia na Irlanda.

- Oque fez ele nesta ilha?

 - Humm… quando São Patrício andava a converter os Irlandeses ao Cristianismo, teve uma revelação numa caverna ou num fosso, onde se pensa que lhe foi dada a ver a vida depois da morte. A partir daí, o sítio tornou-se um centro de peregrinação. Alguns dos peregrinos faziam relatos de visões horríveis e a sua sobrevivência à provação implicava que eles estavam a salvo do castigo do…

- Inferno? – Concluiu Louis.

Franzi o sobrolho.

- Há quem pense que existe outro lugar, mais ou menos a meio entre o Céu e o Inferno.

- E era isso que te deixava assustada?

Ergui os olhos.

- Não… era o fosso que me deixava aterrorizada. O Harry costumava dizer-me que ele era insondável e que nunca mais se saía de lá. Não posso acreditar como era tão ingénua para ir na conversa dele.

 - Mas… para que quereria ele que tu te lembrasses do Lago Vermelho e dessa ilha?

 - Não faço a mínima ideia. Talvez haja aí mais alguma pista – inclinei a cabeça para o lado – Sabes uma coisa? Parece que passei a maior parte da vida a fazer isto.

 - Então deixa de fazer, Jessy. Deita fora essas pistas estúpidas, volta para casa e recusa-te a fazer parte dos jogos cretinos do Harry.

Cobri os lábios com as mãos em concha e bufei.

- Não posso. Sei que ele se foi embora e que eu devia estar livre dele, mas não consigo deixar de…

- Ele andou a fazer-te uma lavagem ao cérebro durante muito tempo – lembrou Louis.- É por isso que não consegues parar.

Suspirei, arrancando pequenos bocados de lã do tapete de Harry.

- Não se como evitar ir atrás dele e… lá no fundo… ele precisa de mim.

Louis estava com uma expressão triste, mas não insistiu mais. Sentia-me tão cansada, que subi para o sofá e pousei a cabeça numa almofada. A luz ia-se extinguindo e o pôr-do-sol estava magnífico a seguir ao temporal, com as tonalidades rosa, amarelo e azul-turquesa a envolverem-se umas nas outras, como se alguém lançasse uma paleta de tintas para uma tela. A temperatura mantinha-se quente, mas os tetos altos do apartamento de Harry criavam uma ressonância naquele espaço, algo que não se fazia notar durante o dia, e havia correntes de ar a passar pelas frestas do soalho. Estremeci. Harry não se tinha dado ao trabalho de colocar cortinas e perguntei-me a que horas nasceria o Sol, questionando-me sobre se deveria pendurar um lençol nas janelas.

Louis remexeu-se, ansioso, alisando o cabelo.

 - Se calhar… não devias… quero dizer, ficar aqui sozinha pode ser algo arrepiante… eu podia ficar a dormir na poltrona, não achas?

Reprimi outro bocejo.

 - Não há problema… pode ser que o Harry apareça a meio da noite e isso tornava-se embaraçoso.

Era uma desculpa, e ambos o sabíamos, mas Louis acenou com a cabeça com ar compreensivo. Aquela situação crítica em torno de Harry tinha-me feito sentir mais próxima dele, mas não o queria magoar ao dar-lhe falsas esperanças. No entanto, por vezes, não sabia como evitar fazê-lo. Devo ter dormitado e não me apercebi que Louis ainda ali estava. Os lábios dele roçaram pela minha face e um cobertor depositado suavemente sobre mim. Os meus olhos estremeceram, mas mantive-os deliberadamente fechados.

- Eu sei que não sentes o mesmo por mim, Jessy, e estou disposto a esperar… só que não para sempre.

 - Não te pediria isso, Louis – murmurei, enquanto a porta se fechava atrás dele. 

Não olhes para trásOnde histórias criam vida. Descubra agora