Capitulo 25

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Soltei sem querer uma gargalhada nervosa e soprei o ar baixinho, deixando-me cair no chão do átrio e dando a seguir balanço para trás para me sentar no fundo das escadas. Apesar do calor, estava a tremer. As palavras da senhora Benedict eram bastante inquietantes, em particular depois de ter ouvido a voz de Harry nessa manhã. "Estava a ouvi-la no átrio juntamente com os outros." Não era só eu. Ela também tinha escutado alguma coisa.

O que é que Louis tinha dito em relação à lenda? "Ainda hoje se ouvem os lamentos dos condenados." 

"Já chega, Jessy. Estás completamente exausta." Apoiei a cabeça entre as mãos. A lista de acontecimentos estranhos crescia e o mesmo acontecia ao meu medo. Porque é que Liam não acordava? Não tinha coragem de irromper no seu quarto, de repente, mas precisava tanto de estar com ele, que o meu desejo se transformou em desespero, deixando-me a tremer num estado febril. Saí para o exterior, em frente à casa, mas persiana do quarto dele estava corrida para baixo. 

Liam devia estar convencido de que não ia chover na noite anterior, porque tinha deixado a capota do carro aberta. Os meus dedos percorreram lentamente o friso e estacaram. Havia uns riscos horizontais bem definidos na porta do lado esquerdo, com o tom prateado a surgir por baixo da cobertura metalizada. E detetava uma leva amolgadela que não estava ali no dia anterior. Liam não me tinha falado nisso. Levantei a mão do carro e olhei para as minhas unhas. Ainda estavam cheias de terra e particulas vermelhas nos pontos onde tinha arranhado a árvore nessa manhã. Coloquei lentamente o dedo sobre a pintura - condizia perfeitamente.

Uma memória engoliu-me, numa vaga de desespero ardente. Eu olhava para Eurídice, quando um carro passara por mim a toda a velocidade, roçando na árvore mais próxima e atirando comigo para o meio do mato. Mas não sem que eu antes visse de relance o perfil atraente de Liam. E, enquanto inspirava o cheiro da terra e da erva, o som de uma gargalhada ressoou nos meus ouvidos, a gargalhada de uma rapariga. Tinha sido a última coisa que ouvira antes de perder os sentidos. 

Liam tinha estado com outra rapariga. Durante todo o tempo que eu jazia inconsciente. Liam estava com outra rapariga, logo depois de me ter jurado o seu amor eterno. Como podia ter sido tão estúpida? Sentira até os dentes a ranger. Eu não tinha qualquer capacidade para avaliar o carácter das pessoas; à excepção do Louis. Felizmente não lhe tinha contado o que acontecera com Liam na noite passada. 

Mesmo no meio da infelicidade, um instinto de sobrevivência veio ao de cima. Ninguém sabia da minha noite no bosque e ninguém ia sabê-lo. Inspirei profundamente para impedir a dor de se alastrar, mas o meu peito latejava como se me tivessem apunhalado. Sentia-me completamente dilacerada e, se os meus sentimentos estivessem visiveis, eu seria candidata a fazer uma operação de coração aberto. "Aquilo que sinto pr ti é sincero, Jessy... não seria capaz de o fingir." Liam devia dizer o mesmo a todas as raparigas que conhecia. Devia ir-me embora dali enquanto era tempo, porque receava o que poderia fazer. A raiva só iria jogar a favor dele.

- Jessy... vieste cedo.

Esperei uns minutos até dar meia-volta, tentando controlar a minha raiva. Liam tinha-me aniquilado, na noite anterior, reduzindo-me a pó, e merecia que eu lhe fizesse o mesmo.

Voltei-me para ele com um brilho no olhar, e uma expressão doce e confiante estampada no rosto.

- Sim... vim cedo.

- Quase não preguei olho - disse ele com um suspiro, avançando para mim. - Sentia-te tão perto que quase podia tocar-te.

- Já eu... dormi como um túmulo - disse-lhe com indolência tentando não fazer um tom sarcástico. Liam vestia umas calças de fato de treino e uma T-shirt sem mangas, mas era óbvio que acabara de acordar, com aquela cabelo sedutoramente desordenado. Ele deve ter detetado qualquer coisa estranha na minha voz, porque uma ruga profunda apareceu na sua testa. 

Não olhes para trásOnde histórias criam vida. Descubra agora