Aqui está mais um capitulo. Espero que gostem. Talvez lá para terça ou quarta publique mais um (ou dois quem sabe), segunda vou tentar escrever mais um pouco e aproveitar enquanto não entro em testes para escrever. Vou deixar de vos chatear e deixar-vos ler
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Os meus olhos abriram-se de repente e levei as mãos à garganta, respirando com dificuldade. Por um momento, era de novo criança, regressando ao meu quarto em casa, com a noite a adensar-se à minha volta e a escuridão a asfixiar-me. Cheguei a agitar as mãos no ar, até perceber onde me encontrava. Estava no apartamento de Harry. Estava a salvo. Eram três horas da manhã e ainda não havia luz. Apurei os ouvidos. Por um segundo, pensei ouvir qualquer coisa à porta, mas devia ser apenas o meu pesadelo ainda a fazer efeito. Nunca o tinha sentido tão real, com a sensação de asfixia mais forte e aterradora do que nunca. Dirigi-me lentamente à cozinha a enchi um copo com água. Aproximei-me da janela, com um sentimento de ansiedade. Debaixo do candeeiro de iluminação pública estava um vulto com os olhos postos no apartamento que me fez recuar para o meio das sombras. Vi nele qualquer coisa familiar e, no meu estado sonolento, convenci-me de que só podia ser Harry.
Sem refletir, saí a correr pela porta, desci as escadas e cheguei ao passeio a gritar por ele, mas a rua estava deserta nesse momento. Atravessei-a em direção ao candeeiro e pus os olhos na beata incandescente que jazia no chão. Quem quer que fosse, tinha estado a fumar um cigarro. Tê-lo-ia apagado só que estava descalça.
Foi preciso mais um minuto para me aperceber do perigo que corria ao estar ali, no meio da cidade, às primeiras horas da madrugada. De repente, havia sombras por todo o lado, nos umbrais das portas, atrás dos carros e nos becos, num milhão de sítios onde as pessoas podiam esconder-se. Devia estar sonâmbula para vir assim para a rua. Envolvi o corpo com os braços e atravessei a rua em bicos de pé para regressar ao apartamento, aliviada por a porta não se ter fechado, porque ela tinha um trinco automático e as minhas chaves estavam no interior. Regressei à cama de Harry, mas sabia que o sono não viria ao meu encontro: estava num quarto estranho, horrivelmente irrequieta, e parecia que as preocupações se adensavam sempre nas primeiras horas da madrugada. Os meus pensamentos levaram-me de novo para a torre do relógio, revivendo aqueles que receara serem os meus últimos momentos. “É sempre mais tarde do que imaginas.”
Só quando a alvorada começou a despontar é que passeio novamente pelo sono; desta vez, a minha mente povoou-se de sonhos delirantes, todos em torno da minha busca de Harry. O mais profundo e marcante surgiu próximo do despertar, eu trepava um monte escarpado, seguindo no encalço de um vulto com ar determinado e que se recuava a abrandar ou a olhar para o lado, mas que eu sabia se Harry. Comecei a chamar por ele aos gritos, cortando o ar com os punhos, quando ele parou abruptamente e se atirou para baixo com a destreza de uma ave de rapina a cair sobre a presa. Queria ir atrás dele, mas a queda era enorme; eu encontrava-me á beira de um precipício. E, quando olhei para as profundezas, elas pareceram-me o interior de um vulcão, com o fumo a elevar-se e as cinzas a crestarem-me o cabelo e a face. E Harry foi tragado para o interior. Nessa altura, começaram os gritos, tão violentos que tive de cobrir os ouvidos.
O alarme do meu telemóvel emitiu um bip e um zumbido, um som estridente e incomodativo que me fez despertar imediatamente em estado de choque. Ao tentar desliga-lo, deixei cair o telemóvel do móvel e ouvi-o deslizar pelo chão de madeira. Saí da cama a cambalear, ainda atordoada, e gatinhei até o agarrar com as duas mãos e acabar os bips. Pus-me de pé e espreguicei-me, tentando focar os olhos estremunhados. A porta estava aberta, e pestanejei perante o espetáculo insólito que vinha ao meu encontro, piscando os olhos de novo para me certificar de que não continuava a sonhar. Corri para a sala de estar, aturdida, e passei a mão trémula pela imagem assustadora que cobria agora um metro quadrado, pelo menos da parede branca.
Havia uma igreja, reconhecível pela grande cruz no topo do telhado. Estava posicionada no flanco de uma falésia escarpada que despontava de uma espécie de abismo cheio de camadas sobrepostas de corpos, numa massa ondulante e fervilhante, com os braços a elevarem-se, suplicantes, e os rostos destroçados. Árvores disformes ressaltavam do rochedo. Alguns vultos atormentados tinham ramos entrelaçados à sua volta como se fossem trepadeiras. E o cabelo de outros era formado por serpentes que os manietavam da mesma forma. Na sua maioria, a imagem estava traçada a preto, mas havia um lago a rodear o abismo, com a água a ondular num vermelho-vivo aterrador. Aquilo era irreal. Fui dominada pelo pânico, as pernas deram de si e voltei a cair no chão. Com as mãos a tremer, enviei a Louis uma mensagem de cinco palavras apenas. “Urgente. Vem para cá JÁ.”
Louis deve ter ficado extremamente preocupado com a minha mensagem. Mesmo no meio do choque, reparei que ele tinha a t-shirt do avesso e que calçara uma meia de cada par. Ao levá-lo para dentro e mostrar-lhe a parede, a cara dele ficou sem pinta de sangue.
- É um desenho a tinta da China ou uma pintura? – Preguntou, reproduzindo o meu primeiro gesto e passando a mão sobre a superfície.
- O que é que interessa a técnica? – Reclamei. – Isto só pode ser o Harry a mostrar-me o Lago Vermelho e o fosso da Station Island.
- Está muito bem – continuou ele. – É uma espécie de desenho gráfico?
- Louis! Estás a desviar-te de essencial – isto era uma maldade da minha parte, porque eu tinha ficado empoleirada aos pés da cama de Harry até ele chegar, demasiado assustada para me mexer. – Passei aqui a noite inteira… a dormir. Como é que isto foi feito? Quando é que foi feito?
Louis ainda estava demasiado estupefacto para falar. Deu um salto e foi examinar a porta de uma maneira estranhamente masculina. Ele não tinha qualquer sentido prático e não seria capaz de perceber se a fechadura tinha sido arrombada, mas a sua preocupação era comovente.
- Não me parece que tenham arrombado a porta, mas não podes continuar a ficar aqui, Jessy.
Semicerrei os olhos.
- O Harry está por detrás disto.
- Não sei como – retorquiu Louis.
Levantei cuidadosamente o pé, com uma lembrança a infiltrar-se devagar. Ainda havia marcas minúsculas na planta do pé, nos sítios onde a brita tinha arranhado a pele. Não se tratava de um sonho.
Tossi, retorci o corpo e reuni coragem para fazer uma confissão.
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Não olhes para trás
FanficDurante toda a sua vida Jessy foi atormentada por Harry, o seu irmão manipulador. Agora ele desapareceu; no entanto, não parou de a perturbar. Quando a sua mãe autoritária a obriga a ir á procura do irmão, Jessy encontra uma série de pistas sisnistr...