Mantive uma passada rápida e fui caminhando pelo meio do trilho para não podermos seguir lado a lado. Assim que entrei no templo senti o ambiente estranho, como se o bosque se tivesse enchido de vida outra vez, como se as trepadeiras fossem furar o telhado de vidro e estrangular-me.
Deambolei por ali, falando sobre as pistas de Harry e mantendo uma expressão serena. Atirei os paus que estavam no pequeno pedestal para o chão, irritada por aquilo se revelar um perfeito beco sem saída.
- Qual era a estátua que estava aqui? - perguntei a Liam por acaso.
Ele não precisou de pensar.
- A Eurídice. Era a minha preferida.
- Como é que ela era?
- Linda - disse Liam, e eu quase senti ciúmes. - Vestido comprido, flores no cabelo, a mão graciosa... sobre a testa...
O meu coração bateu com mais força.
- Vi uma estátua aasim nos terrenos, da primeira vez que vim cá.
- Mas... tenho a certeza de que elas foram todas doadas ao museu.
Fiz uma expressão preplexa.
- Acho que não imaginei isso. Tinha um branco luminoso e a mão pousada sobre a testa. A príncipio assustou-me, porque pensei que era real.
- Consegues econtrá-la outra vez?
- Eu... acho que sim. Não estava longe dos portões principais.
Saímos juntos e eu mantive um passo rápido, aborrecida comigo própria por ter deixado escapar algo tão óbvio. Harry tinha escolhido aquele pedestal em especial por alguma razão, e eu tinha de saber porquê. Algum tempo depois, Liam estava quase ofegante, e vi mais uma vez como ele continuava exausto, com as gotas de suor a brilhar-lhe por cima do lábios. Continuava preocupada com a sua apatia e as marcas nos braços, e estava sempre a olhar para ele disfarçadamente.
Procurei lembrar-me do local onde tinha vista a senhora de mármore pela primeira vez. Era difícil saber a posição certa e chegámos aos enormes portões sem encontrar vestigios dela.
- Ela via-se do caminho, tenho a certeza - disse eu.
Liam lançou-me um olhar cético, levando-me a perguntar a mim mesma se não tinha sonhado com aquilo tudo. Corri em frente, recuando na memória até à altura em que seguia na bicicleta e vira a cabeça dela brilhar através da vegetação. Ela não se via em parte alguma. Intrigada, pus-me a vaculhar no meio do matagal. Não demorei muito tempo a avistar a silhueta de mármore branco. A excitação fez-me falar com uma voz esganiçada.
- Lá está ela. deve ter mudado de lugar. Não... isso não é possivel. provavelmente, os arbustos espalharam-se e taparam-na.
Liam meteu-se por entre as folhas e juntou-se a mim. Esboçou um enorme sorriso e passou as mãos pelo mármore liso.
- Eurídice - declaru ele com orgulho. A seguir olhou em volta. - Mas, onde está o Orfeu? Eles nunca deviam ter sido separado.
- São um casal?
- Claro que sim. Não conheces o mito?
Abanei a cabeça.
- Orfeu e Eurídice - proferiu Liam. - A lenda grega refere que ela morreu no dia do casamento. Orfeu ficou cheio de desgosto e tocou músicas tão melancólicas na sua lira que o barqueiro o autorizou a atravessar o rio Estige com vida, para descer ao Mundo dos Mortos. As suas melodias impressionaram igualmente o rei e a rainha do Mundo dos Mortos, que autorizaram Eurícide a regressar a terra... mas com uma condição. Orfeu não devia virar-se a olhar para ela até chegarem ao mundo dos mortais. Contudo... ele olhou, e ela foi-lhe levada pela segunda vez, e Orfeu só pôde voltar a vê-la depois da sua morte.
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Não olhes para trás
FanfictionDurante toda a sua vida Jessy foi atormentada por Harry, o seu irmão manipulador. Agora ele desapareceu; no entanto, não parou de a perturbar. Quando a sua mãe autoritária a obriga a ir á procura do irmão, Jessy encontra uma série de pistas sisnistr...