Capitulo 4 - parte I

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Louis tentou esboçar um sorriso, mas parecia estar seriamente abalado e mal conseguia curvar os cantos da boca para cima.

- Ainda bem que és tão magra.

Não lhe repliquei, mas estendi a mão para ele a agarrar. Fui focando a visão, espantada com o que estava a ver. Louis tinha a ponta de uma corda atada ao cinto e a outra ponta ao gancho da parede.

- Acabaste de ma salvar a vida – disse-lhe com a voz rouca.

- Eu sei – reconheceu ele. – Mas não tentes agradecer-me.

Louis continuava a ser capaz de gracejar, sabendo que eu não tinha muito jeito para me mostrar reconhecida. Concentrei-me em tentar respirara normalmente, dominada pela constatação de continuar viva. Alguns minutos depois ele agarrou-me para me pôr de pé e ajudou-me a descer as escadas, detendo-se a apanhar o pedaço de papel que eu tinha conseguido deslocar, e que deslizara graciosamente para o chão como um avião de papel. As minhas mãos tremiam do choque e do esforço. Lavei-as com cuidado, surpreendida por ainda ter capacidade para me sentir uma perfeita idiota. A seguir, fui juntar-me a Louis na sala de estar e sentei-me no tapete de Harry de pernas cruzadas, extraindo farpas das palmas das mãos, com a necessidade desesperada de me concentrar em alguma coisa.

- Tens de pôr ligaduras – recomendou Louis, preocupado.

- Está tudo bem, Louis.

- Não está tudo bem; tens as mãos feridas e devias beber um chá doce para o choque passar.

Ele estava a ser imensamente atencioso, mas eu rejeitei a sua preocupação com um aceno da mão. Apenas me interessava uma coisa.

- Posso ver o papel?

Louis estendeu-mo e eu abri-o com os dedos a tremer. Tinha quatro linhas preenchidas com um texto em latim, escrito numa letra curvilínea.

- Arriscaste a tua via por isso? – Inquiriu ele com ar incrédulo, espreitando por cima do meu ombro. – Mais latim!

Fiz-lhe um aceno de cabeça, com ar sinistro.

- Tenho a certeza de que o Harry me está a deixar mais uma mensagem, desta vez com a sua melhor caligrafia.

- Para quê dar-se a todo esse trabalho?

Encolhi os ombros e levantei-me num salto, com os ouvidos ainda a zumbir. Talvez fosse da adrenalina provocada pelo choque de quase ter morrido, ou apenas do sangue que circulava no meu corpo de uma maneira disparatada, mas sentia-me completamente elétrica. Dei uma volta ao apartamento com os pensamentos a fervilhar. O desaparecimento de Harry; o apartamento a reluzir, as palavras secretas na agenda, a chave e agora este papel preso no mostrador do relógio…

- O Harry tem uma mente brilhante – afirmais mais para mim do que para Louis -, apesar das tentativas que fez para destruir os neurónios, e teve sempre um prazer especial em deixar-me enigmas para decifrar, só que nunca tinha feito nada tão complicado.

- O que é que tu pensas a sério? – Quis saber Louis.

- Acho que isto significa que o Harry continua a dedicar – se aos seus jogos mentais, tentando levar-me a segui-lo embora… eu tenha o pressentimento de que há algo mais. Acho que ele pode estar realmente em sarilhos.

- Que espécie de sarilhos?

Tentei dominar-me, recordando os pormenores dos relatórios psiquiátrico do meu irmão sobre os quia tinha ouvido os meus pais discutir ao longo dos anos. Eles confirmavam o quanto ele estava perturbado. Louis observava-me a andar na sala de um lado para o outro.

- Ele pode ter tido algum tipo de esgotamento – acabei por dizer.

- E as mensagens e pistas esquisitas correspondem a uma espécie de grito de ajuda? Para tu ajudares, Jessy?

 - Talvez.

Fui para a cozinha preparar um café para os dois. Depois de estar pronto coloquei-o em duas chávenas lavadas á pressa. De repente senti-me dominada pela convicção absoluta sobre o que tinha de fazer.

Falei com ar decidido.

- Tenho de encontrar o Harry, custe o que custar.

Louis olhou-me com um olhar furioso.

- Jessy, lembra-te do que te disse. Tens de te libertar dele e pensar em ti para variar.

- Depois de encontra-lo, vou conseguir seguir em frente. Tu disseste que ias ajudar.

Louis fez uma expressão abatida, mas resignada.

- Então começamos por onde?

- Por decifrar as pistas dele… onde quer que isso me leve.

- Sabes que podes confiar em mim, Jessy.

Ele estava sempre ao meu lado, ainda que eu não o tratasse tão bem quanto merecia. Odiei-me por ser assim. Eu tinha qualquer coisa de perverso que me levava a atacar as pessoas que se preocupavam comigo. Porém tudo isso iria mudar. Pus-me a olhar para Louis. Ele não se preocupava minimamente consigo, com aquele cabelo acabado de sair da cama e o ar de quem nunca se vê ao espelho. Tornava-se impossível não gostar dele depois de o conhecer.

Louis juntou-se a mim no tapete, cheio de impaciência. Só nessa altura, quando a temperatura aumentou é que ele se tinha finalmente livrado do gorro. O meu estômago emitiu um barulho sonoro.

- Tens fome? – Perguntou ele.

Limitei-me a murmurar, com os olhos ainda a analisar o papel. Duas palavras em latim tinham despertado a minha atenção. Anos passados a ir á missa implicavam que eu sabia traduzi-las; domus dei, Casa de Deus.

- Vou buscar qualquer coisa para comermos – insistiu Louis, pondo-se de pé num salto e dirigindo-se para a porta. – Fica aqui a descansar.

Abanei a cabeça.

- Ainda não posso descansar. Tenho de passar por outro sítio.

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Peço imenssaaasssss desculpas por só publicar agora mas estou no 12º ano, tenho imensos teste, viagens de finalistas e para ajudar à festa a minha et deu o berro. Mas a partir de agora vou conseguir publicar mais frequentemente, até porque consegui adiantar bastante a a história. 

Gostava que me dessem a vossa opinião sobrea afic e se acham que devo continuar até porque me está a dar um gozo enorme escrever esta fic (o que é raro :) 

Kisses para todas xx

Não olhes para trásOnde histórias criam vida. Descubra agora