Entre as Chamas e o Sangue.

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A chuva começou a cair pelos campos verdes primaveris da Escócia, transformando em lama boa parte do terreno da Reserva Weasley. Os aurores andavam pelo lugar com suas varinhas, protegendo as evidências que poderiam ser perdidas pelos pingos e tentando conversar com os funcionários, sem assustá-los.

Charles caminhou sentindo suas roupas grudarem sob a pele. Ele não se importava. A culpa estava o cobrindo e o assustando. Se ao menos ele não tivesse os trazido até lá. Sempre estiveram tão seguros na Romênia.
Como aquilo pudera acontecer?

Abriu devagar a porta do ninho e sentiu-se sufocar.

Estava destruído.

O enorme dragão albino estava deitado entorno do ninho, que estava com seus galhos e entranças desfeitos e rasgados. Havia sangue sob a palha no chão, sendo boa parte sendo do pobre dragão que, cego, provavelmente tentara proteger em vão os filhotes e a fêmea, pelo que poderia ser identificado pelas marcas de fogo no chão e algumas chamas que ainda queimavam sob a palha do celeiro. Charles começou a sentir enjoo e uma enorme tontura.

-Audax? -A voz de Charles saiu fraca, e ele sentia as mãos tremerem. O dragão abriu os olhos dourados e levantou a cabeça rapidamente, a sua procura. Ele tentou levantar, mas com a dor, suas patas falharam e ele fez um alto grunhido. O ruivo, sem pensar duas vezes, pisou na palha e se ajoelhou, usando de seus braços para abraçar e acalmar o réptil. -Shhh...Eu estou aqui, eu estou aqui. -Audax fez um barulho de tristeza. -Eu sei...Nós vamos encontrá-los.

Charles continuou ali por um bom tempo. Fazendo carinho no dragão e tentando acalmar a si mesmo. Assim, mal percebeu que aquele se manteve ao seu lado o tempo todo, se aproximou e tocou em suas costas, o dando um pequeno susto.

Tirou o rosto do pescoço do dragão e o olhou. Edward estava tão triste quanto ele, mas se mantinha firme. Sorriu fraco e se abaixou, fazendo carinho na cabeça do dragão, que fez um barulho feliz, deitando a cabeça no braço de Teddy.

-O que eu faço, Eddie? -Charles perguntou, abaixando o rosto. Estava com tanto medo.

Aquelas criaturas eram muito mais do que apenas sua profissão, eram parte de si. Desde que se formara, lutará contra contrabandistas e banqueiros que usavam daqueles dragões como fonte de proteção e recurso. Construíra sua casa, sua reserva, graças aos seus trabalhos entorno dos conhecimentos que adquiriu junto a eles. Não conseguiria sequer pensar em um deles estando ferindo, quiçá morto.

Sua respiração estava completamente desregulada e forte. Ele sentia que não estava conseguindo ar direito, fazendo sua visão ficar turva.

-Agora? -Teddy disse em um tom macio e caloroso. Charles havia já ouvido o rapaz falar assim consigo milhares de vezes, era o tom que ele usava para acalmá-lo.

Quando os dois contaram de seu relacionamento para seus pais, Molly, havia dito que era bom que Teddy tivesse alguém para o acalmar e o ajudar, ainda mais depois da guerra. Realmente, Edward era o mais novo e possuía traumas enormes, alguns cortando a própria pele. No entanto, era mais comum que fosse o contrário.

Fazia pouco tempo que ele descobrira que Ronald tinha inveja de si quando criança, por serem sempre comparados. Nisso, Charles sentira que tinha que explicar para o irmão que realmente não havia o que sentir inveja, muito menos do seu período em Hogwarts.
Quando era um simples estudante, o segundo filho dos Weasley sentia que precisava ser o melhor. William era um aluno acima de média, e admirado por todos os professores e outros alunos. Enquanto Charles era mais tímido e tinha algumas dificuldades. Com a pressão colocada sob si, sendo sempre questionado se ele não seria como seu irmão, não demorou para que ele se esforçar mais do que precisava, correndo atrás de milhares de matérias e querendo mostrar que era tão bom quanto o irmão, como todos queriam que ele fosse. E ele conseguira, sendo um excelente jogador de quadribol e o melhor em quase todas as turmas, logo o sobrenome Weasley começou a ser sinônimo de sucesso entre todos. Mas somente ele sabia quão mal ele ficava quando um jogo ou prova se aproximava. Não foram poucas às vezes que seu irmão mais velho o encontrara trancado em uma sala vazia, sentindo-se sufocar e com medo de que seu coração fosse parar.

Os Herdeiros dos Marotos em: O Epílogo.Onde histórias criam vida. Descubra agora