Nico narrando
Eu não sou um garoto sociável. Nem agradável, alegre ou do bem. Eu sou depressivo. Sou ansioso. Sou violento. Sou gay. Sou uma decepção. E eu não escolhi ser nada disso. É por isso que eu amo tanto dançar. Eu escolhi dançar. É engraçado como o ser humano precisa sempre ter o controle de tudo, mas nunca tem, não é? Na verdade, eu escolhi, mas não escolhi, dançar. Sempre achei os movimentos incríveis e tentava sempre copiar. Acabei aprendendo com 8 anos. Senti que aquilo era parte de quem eu sou e se tivesse que morrer por isso, eu morreria. Na verdade, eu quase morri por isso uma vez. Alguns colegas idiotas meus descobriram que eu dançava quando eu tinha 11 anos, e então quebraram minha caixinha de som e me encheram de pancadas, xingamentos e risadas sarcásticas. Eu me odiei de novo e sobrevivi por alguns dias, mas eu não conseguia ficar sem dançar. Os garotos disseram que eu iria pro inferno por ser uma bichinha que dança, e eu fiquei com medo. Então eu iria pro inferno? Eu achava que quando morresse, reencontraria minha mãe e minha irmã, mas elas eram boas e estariam no céu. Então mesmo que eu morresse, eu jamais as veria? Era justo? Deus separaria uma família desse jeito só porque eu faço o que gosto? Eu não sabia e tinha medo, mas eu não aguentava. Eu estava com a faquinha em mãos, pensando que era justo, e que eu tinha que pagar por algum pecado naquele momento. Eu não sabia por qual pecado eu estava pagando, eu nem sabia que tinha pecado. Minha família acreditava em Deus, mas sempre disseram que ele era amoroso e não tinha ódio de ninguém. Mesmo dos pecadores. Mas os meninos disseram que Deus me odiava por dançar. Então, quel era a verdade? É o que eu iria descobrir. Me lembro de doer muito, de ter muito líquido vermelho saindo do pulso. Eu mal tinha noção do que eu tava fazendo. Só queria que acabasse tudo. Mas eu acordei de novo. Dois meses depois de tentar o suicídio. Eu me lembro de perguntar ao médico: "eu fui corajoso ou covarde por tentar chegar no inferno?” até hoje, não sei qual é a resposta. O doutor não respondeu, só me olhou em choque, anotou algo na prancheta e saiu. Eu continuava me sentindo mal. Eu deveria estar morto, era tudo o que eu sabia. Eu deveria estar no necrotério, não na cama do hospital. Meu pai não veio me ver por um tempo. Eu não sei quanto, o tempo é muito relativo para quem está em uma crise depressiva e existencial. Eu achei que ele tivesse desistido de mim. Eu não sabia nem se isso era melhor ou pior pra mim. Mas ele não tinha. Ele foi atrás dos melhores médicos do país e até do mundo pra cuidarem de mim. Ele passou um mês e três semanas do meu lado a fio até que um médico dissesse que eu acordaria logo. Foi um borrão. Um borrão muito ruim. Eu perguntei ao meu pai o mesmo que eu havia perguntado ao médico, mas ele também não respondeu, só chorou. Eu fiz uma reabilitação e voltei pra casa. No dia seguinte, eu fui colocado em uma sala com vários psicólogos, psiquiatras e terapeutas para me consultar. Eu não tinha nada a perder além do meu pai, então só falei e falei por algumas horas. Falei de tudo o que sentia e tudo o que tinha feito. Patético, mas foda-se. Uma semana depois, chegaram os resultados dessa consulta: depressão, ansiedade, carência afetiva e transtorno explosivo intermitente (TEI). Que legal, agora só me falta ficar tetraplégico. Também haviam sequelas na minha saúde física. Eu tinha 7,5 quilos a menos que o recomendado para o peso mínimo, já que não comia direito desde os 10, quando perdemos mamãe e Bia. Meu pai se trancou no escritório, e eu sei que foi pra ter uma crise de choro. Nós dois estávamos sempre em crise. Eu perguntei pro médico se tinha problema dançar. Ele disse que não, muito pelo contrário, mas que deveria começar devagar se eu quisesse. Eu estava determinado a não tentar me matar de novo. Doía muito e não só em mim. Meu pai pareceu se sentir melhor quando eu mencionei que gostava de dança e queria praticar. Ele me comprou roupas adequadas e perguntou em que academia de dança eu queria entrar. Não demorou muito para nós dois melhorarmos. Meu pai preferia praticar tênis, e eu ia para a escola de dança. Estávamos bem. Eu achei que não podia ser melhor até elas chegarem. Perséfone e Hazel. Perséfone era uma pequena empreendedora de uma floricultura. Hazel era sua sobrinha, à qual ficou com a guarda depois da irmã, Marie, abandoná-la. Meu pai conheceu Perséfone depois de defendê-la de um assediador. Não demorou para que as duas fizessem parte da família. Demorou um pouquinho mais para que meu pai, Hades, e Perséfone, acabassem admitindo um pro outro que estavam apaixonados. Eu tinha 14 quando isso aconteceu. Eu adorei ver os dois felizes lado a lado e sonhava amar alguém como meu pai amava minha madrasta. Mas não iria ser tão fácil. Eu sou gay, como já disse antes. E mesmo em Nova York, tinham muitos homofóbicos. Eu temia não encontrar ninguém, mas falava para mim mesmo que não precisava de tanta nóia, eu ainda tinha tempo. Mas esse mantra não funcionava e eu queria achar um namorado a qualquer custo. Foi decepcionante receber tantos foras em apenas dois anos. Eu comecei a implicar com a minha aparência a partir daí, me achando um palito de fósforo pintado de cal.
Mas foi aí que um sol me apareceu. Um sol com estilo de surfista ativista pela paz. Will Solace, um garoto que eu jamais imaginaria que me notasse, chegou pra mim logo no primeiro dia, me abordando com essa exata frase: "oi! Te achei gatinho, qual é o seu nome?”.
Sim, ele chegou em mim falando isso. E ele não tava mentindo ou me zoando, ele realmente me achava bonito. E depois de um tempo, disse que me achava interessante, e depois incrível, e depois esperto, e depois... Gostoso. A essa altura, eu quase não me surpreendia com o Will. Ele literalmente falava qualquer coisa que viesse na cabeça dele. Ele já se meteu em muitas enrascadas por isso, mas ele não parava. "Faz parte de quem eu sou”, foi a resposta que ele me deu quando pergunte porque não refreava os próprios pensamentos. Essa frase fez meu dia. E minha semana, e o mês, e bom, fez o resto da minha vida. Fazia parte de quem eu era. Fazia parte dançar, ser gay, amar um garoto ensolarado, ter uma família maravilhosa. Eu beijei Will algumas horas depois de ele me dizer aquela frase. Não tenho ideia de onde veio essa coragem. Talvez do mesmo lugar de onde viera a tal coragem pra me matar. Agora eu sabia que podia usar isso para propósitos bem melhores. Will retribuiu meu beijo. Eu aceitei o pedido dele. Os pedidos, no caso. O segundo veio alguns anos mais tarde, acompanhado de um anel de noivado e um chocolate. Eu pude crescer, me formar, fazer faculdade, e junto com o melhor e único médico do meu mundo, William Andrew Solace, fiz uma parceria com um hospital para atender pessoas que precisavam de ajuda e podiam encontrar essa ajuda na dança. Tiveram muitos obstáculos e com crises de brinde, mas eu tinha Will, meu pai, minha madrasta e minha irmã do meu lado. E eu sentia que minha mãe e minha outra irmã também me apoiavam. Eu soube, através de um sonho tido recentemente, que ser quem você é não é pecado. Pecado é fazer um mal intencional a alguém, ou então saber que fez um mal e não se redimir. Aqueles garotos que me bateram vão para o inferno. Mas eu jamais vou encontrá-los de novo.Eu não sei se ficou bom, acho que não, mas taí, me veio na cabeça. Inté.
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SOLANGELO NOSSO DE CADA DIA!!
FanfictionOi tudo bem? Pois é, meu povo, me vem na cabeça muita ideia pra solangelo, mas eu nunca consigo concluir uma long fic (acho que é assim que se chama, não lembro kkkk), então vou postar as coisas de solangelo que me vem na cabeça aqui, pegando empres...