Um bom relacionamento

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Nico narrando

Batidas na porta interrompem minha concentração.

H:- filho. Sai um pouco desse quarto. Aquele garoto loiro irritante está na sala. Tira ele dessa casa por favor.

Suspirei. Sabe a família Addams? Pois é, é tipo a minha família, exceto pelo fato de que não temos um Tropeço nem um Mãozinha. A Mortícia seria minha madrasta, Perséfone, o Gomes seria o meu pai (com a grande diferença de que ele tem bem menos emoções do que o personagem) a Wandinha seria minha irmã (apesar de que ela é bem mais amorosa) e o Feioso seria tipo, eu.

O garoto irritante em questão se chama Will Solace. Ele é um ano mais velho, mora na vizinhança e descobriu recentemente que eu sou gay. Desde a citada descoberta, ele aparece aqui em casa com buquês de flores, chocolates e outros presentinhos, além de flertes descarados e passeios não combinados. Meu pai não gosta muito dele, por, sabe, motivos tipo ele realmente irritar os outros por diversão, apesar de não ligar se ele me namora ou não.
Suspirei. Deixei meu bordado de lado e desci as escadas, encontrando Will sentado no sofá, de pernas cruzadas com um buquê de flores vermelhas na mão. Ele sorriu quando me viu.

W:- Nico! Como vai meu príncipe?

N:- frustrado com a vida.

W:- eu imagino.

Ele pegou minha mão e beijou, para depois entregar as flores. Encarei as pétalas e depois levantei os olhos de maneira pesada para ele. Cheirei as flores, pra não parecer que eu fiz desfeita. Coloquei o arranjo na água e voltei para a sala.

W:- o que acha de uma voltinha? Você precisa de mais vitamina D.

Grunhi e saí pela porta. A moto elétrica dele estava estacionada ali perto. Ele saiu atrás de mim, trancando a porta e me entregando a chave. Ele me alcançou um capacete pequeno. Subimos na moto e ele nos levou numa praça.

W:- uma caminhada?

Dei de ombros. Ele ofereceu o braço pra que eu segurasse. Ele saiu andando comigo ao seu lado.

W:- como tem passado os dias?

N:- estudando. Bordando, costurando. Fazendo tricô e crochê. Ouvindo música. Você conhece meu dia a dia. E o seu?

W:- bem legal. Fui a um parque de diversões semana passada. O Kamikase não é para fracos.

Ele riu.

Andamos mais um pouco em silêncio.

W:- vai querer pipoca?

Concordei com a cabeça. Ele comprou dois pacotes, um doce e outro salgado. Ele me alcançou o salgado. Achei interessante a estratégia simples de conquista dele: em todo momento deixou claras as suas intenções, mas sempre agiu devagar e com paciência. Sentamos num banco para comer a pipoca, esporadicamente jogando alguns grãos para os pombos.

W:- seu pai não gosta muito de mim.

N:- no geral, não. Mas ele não liga muito pra isso.

W:- o plano de cursar moda continua em pé?

N:- uhum.

W:- legal.

Ele beijou minha têmpora. Mais um tempo em silêncio, até a pipoca acabar. Ele pegou algo no bolso.

W:- faz tempo que eu queria pedir isso e acho que você notou.

Ele tinha dois anéis prateados na mão.

W:- quero saber se quer namorar comigo.

Senti um frio no ventre, mas evitei transparecer.

N:- uhum.

SOLANGELO NOSSO DE CADA DIA!!Onde histórias criam vida. Descubra agora