Caminhos cruzados

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Nico narrando
É um pouco complicado começar, portanto, não me julge se esse começo dor ruim. Não me dou bem com começos. Mas acho que gosto de histórias. Não sei bem.
Olá, meu nome é Nico di Angelo. Sou um dos filhos de uma família não convencional. Meu pai é dono de uma funerária. Ele teve a mim e a minha irmã mais velha, Bianca, antes de minha mãe falecer. Então ele conheceu outra mulher e namorou com ela por um tempo antes de sumir no mundo, e durante esse namoro nasceu minha irmã mais nova, Hazel. Um tio por parte de mãe de Hazel apareceu querendo fazer parte da vida dela, por senso de responsabilidade ou algo do tipo, e acabou desenvolvendo interesse pelo meu pai, sendo assim, nós três ganhamos um padrasto. Meu pai é uma pessoa peculiar que cresceu em uma família margarina sendo a ovelha negra. O nome dele é Hades. Ele é adepto do Homeschooling, ou seja, eu e minhas irmãs recebemos aulas em casa, geralmente durante a noite e sobre coisas até que bem bacanas. É muito comum a família passar a noite acordada e frequentar  eventos noturnos, além de ignorar datas comerciais, criar os próprios feriados e as próprias tradições familiares. Nós também temos uma inclinação ao que é popularmente chamado de vintage: coisas antigas. Nossa casa foi mobiliada a partir de móveis encontrados em lojas de antiguidades. Não é incomum ter alguém ouvindo rádio ou vendo filmes antigos. Se nesse ponto você já nos considera estranhos, aguarde. Nossa casa é quase toda pintada de preto ou outras cores escuras. Temos cortinas bordadas que tapam as janelas durante o dia. Temos três animais de estimação: um Rottweiler chamado Cérbero, um corvo chamado Hipnos e uma gata chamada Nix. No corredor principal da casa, há um quadro de tinta a óleo feito por Hazel mostrando nossa família atualmente, e embaixo, uma foto de uma câmera leica em um porta retratos que serviu de inspiração para o quadro. A arquitetura da casa lembra uma mistura de castelo em estilo gótico e templo grego antigo, onde a varanda é sustentada por colunas pretas, temos duas torres na parte de trás da casa (os quartos de Hazel e Bianca) e o telhado é de telhas de barro, claro, pintadas de preto. Meu quarto é o porão, e o quarto dos nossos pais, o sótão. Tem um bunker na parte de trás da casa, da época da guerra fria, que nós descobrimos quando a propriedade foi comprada. Nós o limpamos e deixamos o lugar como um refúgio de emergência. Na parte que não é ocupada pelo bunker, há uma horta e um canteiro de chás, ambos suspensos. Quem passa mais tempo em casa e geralmente cuida dos afazeres domésticos e meu padrasto, Tânatos. Bianca atualmente está fazendo faculdade de necropsia, enquanto eu e Hazel ainda estudamos em casa, normalmente a noite. Temos uma biblioteca, que além de livros antigos, conta também com várias obras de Edgar Allan Poe e alguns outros autores de livros de suspense, terror e outros gêneros do tipo.

Como se fazer parte da minha família já não me rendesse olhares tortos o suficiente, eu ainda tenho um emprego num cemitério. Eu trabalho com assistência de coveiro, ou seja, eu mantenho o cemitério limpo e ajudo a cavar algumas covas e fazer algumas exumações. O interessante desse trabalho é que às vezes, quando alguém vem visitar os parentes falecidos, eu posso ouvir algumas histórias. Mas tem uma pessoa que ultimamente tem me deixado intrigado. É um garoto, loiro e de olhos azuis, sardento e bronzeado, que pelo menos duas vezes ao mês vem para o cemitério com um buquê de rosas amarelas e o deixa entre duas covas. As covas pertencem a dois jovens falecidos no mesmo dia, chamados Lee Fletcher Solace e Michael Yew Solace. As vezes, eu penso em me aproximar do garoto, mas normalmente ele para em frente aos túmulos, parece fazer uma oração e sai. Quando chego perto, ele se assusta e sai com passos apressados de perto de mim. Obviamente que ter toda a paleta de cores em preto e com padrões longos e largos não é algo que deixe a maioria das pessoas confortáveis, mas poxa, eu não vou trabalhar num cemitério com, sei lá, uma bermuda verde, vou?

No momento, estou o observando do portão, com as mãos nos bolsos, esperando abordá-lo quando sair. Ele termina sua oração silenciosa e vem andando até onde estou de cabeça baixa, como costuma fazer.

SOLANGELO NOSSO DE CADA DIA!!Onde histórias criam vida. Descubra agora