As belas cores do seu olhar

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Aviso importante: todas as condições genéticas (exceto a heterocromia) são inventadas, ok? Infelizmente não tem na vida real kkk. Bora.

Nico narrando

Observei minha imagem refletida diante do espelho. Ela era totalmente diferente da habitual. Minha aparência comum eram um tufo de cabelos lisos, compridos, negros e secos, um par de olhos pretos e sem graça, e uma pele alva que possuía apenas cicatrizes pequenas de batalhas. Mas essa aparência comum era montada. Na verdade, eu possuía cabelos ondulados com cachos volumosos nas pontas, que geralmente estavam hidratados quando não eram castigados pela chapinha, em minha pele, pontos prateados e brilhantes marcavam presença, sardas divinas, e meus olhos... eles foram xingados de esquisitos e tenebrosos por Bianca, que me fez usar lentes de contato coloridas para esconder as cores. Eu tenho pancromia luminosa e heterocromia. Meus olhos mudavam de cor conforme a luz, e até mesmo sem ela, sempre em cores diferentes e néon berrante. O fato de serem enormes não contribuía muito nessa questão. No escuro, o direito era verde e o esquerdo vermelho. Na luz do dia, o direito era azul e o esquerdo dourado. Contra a luz da lua, o direito era castanho e o esquerdo cinzento. À luz do fogo comum, o direito era róseo e o esquerdo calidamente azul. Contra a luz do fogo grego, o direito era laranja e o esquerdo roxo. Na luz das lâmpadas, o direito era branco perolado e o esquerdo azul cobalto. Na luz refletida pela água, o direito era um arco-íris ondulante, e o esquerdo uma aurora boreal. Pelo que meu pai me disse, a pancromia luminosa é herança de minha mãe, e a heterocromia era de sua parte (seu olho direito é negro e o esquerdo escarlate - ele sempre está com o cabelo sobre o olho esquerdo, por isso ninguém o vê). Eu gostaria de não ter uma aparência tão incomum. Bianca vivia dizendo que minha aparência era incômoda, e que não sabia se algum garoto gostaria de vê-la algum dia. Me pergunto se foi por isso que consegui namorar com Will, por não lhe mostrar minha real aparência.
Escovei meus cabelos calmamente, apreciando a falta de nós, vendo-os pularem de volta para suas ondas quando deixavam o contato da escova. Então pesquei a chapinha da gaveta. Eu não gostava de me esforçar tanto pra me esconder, mas não tinha muito jeito. Ainda mais agora que meu quadril alargou, me obrigando a usar roupas mais largas. Sentindo o tão conhecido cheiro metálico de cabelo tostado, deixei uma lágrima cair. Eu sentia a falta de Bianca, e esconder minha aparência me lembrava dela. Quando eu morei nas ruas, não havia chapinha para esconder os cachos em meu cabelo, portando, eu passava nele qualquer substância que o mantivesse liso. Incrivelmente, nada parecia danificar minhas madeixas, pois após o banho, elas sempre estavam impecavelmente onduladas em extensão e cacheadas nas pontas, sem fios duplos, sem oleosidade, sem desidratação.
Depois de terminar a chapinha, peguei a caixinha com as lentes, pondo-as nas íris, me deixando um pouco mais normal. Passei o disfarçante que escondia minhas sardas e fui para o quarto, escolhendo uma roupa larga e preta para o dia.

***

Como sempre, meu namorado lindo me esperava no pavilhão, sorridente. Meu dia foi como qualquer outro: café da manhã, treino, almoço, namorar um pouco, soneca, mais um pouquinho de treino e jantar. Geralmente eu não frequentava a fogueira, preferia ficar na minha, sem o peso do disfarce. Raras vezes eu ia, por insistência de Will. Mas não estava a fim hoje e ele também não chamou, então acreditei que estava tudo bem. Tomei meu banho (já se as lentes) e sequei os cabelos. Coloquei uma cueca e uma blusa larga cinza com uma caveira preta estampada na frente, saindo assim do banheiro.

Mas alí foi quando levei o maior susto da minha vida. Will havia entrado no meu chalé. Não sei como e nem porque, mas ele estava ali, escorado na parede ao lado da minha cama, me encarando. Sua surpresa não era muita ao me ver, ao contrário de mim. Estávamos com as luzes comuns do acampamento, seria impossível não notar meus olhos. Quer dizer... bom, sem as lentes, é realmente impossível não notar.

W:- então é mesmo verdade.

Eu não fazia ideia de como ele soubera da minha aparência excêntrica, mas não parecia horrorizado nem nada. Parecia mais admirado. Ele se aproximou de mim, enquanto eu encostava as costas na parede, completamente apavorado e envergonhado. Will chegou até mim, segurando meu rosto e me analisando de pertinho.

W:- deuses... É perfeito.

Ele parecia hipnotizado por minha aparência. Eu realmente não estava acostumado a mostrá-la para alguém. Assim como minha sexualidade, durante anos a única que soubera foi Bianca, que levou meus segredos para o Lete junto com suas poucas memórias.

N:- não era o que minha irmã dizia.

W:- acho que sua irmã te invejava. Caramba, é tão lindo quanto todo o resto!

N:- ela fazia cara de nojo.

W:- você está ouvindo meus elogios?

N:- sim, mas também remoendo tristezas passadas. E como caralhos você soube??

W:- seu pai é muito dedo duro.

N:- mas que merda...

W:- e eu me dando bem!

N:- idiota. Mas é sério, não me achou esquisito?

W:- quer que eu vire um papagaio de tanto repetir que você é perfeito?!

N:- besta!

Rimos.

W:- mas olha, eu adoraria te ver usando aquela saia preta rodada que você ganhou do seu pai.

N:- como...?

W:- ele me mandou print pelo WhatsApp.

N:- ah mas... PORRA PAI!!

O chão tremeu no mesmo ritmo da risada de Hades. Ah, o velho vai me pagar!!

W:- mais um motivo pra te invejar é o contato que você tem com Hades. Eu nem mesmo conheço Apolo...

N:- nem sempre foi assim honey. Ele já tentou me transformar em cinzas uma vez. Ou duas. Enfim, foi meio difícil fazer do deus dos mortos um bom pai mas funcionou.

Um bilhete bateu no meu ombro.

"Muito engraçado você viu?! Confie na besta do seu namorado antes que eu conte sobre a chupeta!"

PUTA QUE PARIU ISSO NÃO!!
Só pra esclarecer: eu tenho uma chupeta preta maior que as comuns, e eu só durmo a noite toda com ela na boca, não sei porquê.

W:- Nico? Você ficou pálido de repente...

N:- é... tenho mais uma coisa pra te contar. Mas promete que não vai rir? É meio humilhante.

W:- prometo.

N:- eu... eu tenho uma chupeta. E só durmo com ela.

Aí que vergonha!

W:- e eu durmo com um solzinho de pelúcia desde sempre. Mas põe a chupeta na boca só pra eu ver???

N:- tá bom. Mas ainda não pode rir!

W:- promessa é dívida.

Fui até a gaveta do meu criado mudo, tirando a chupeta de lá e pondo na boca. Imediatamente me senti mais calmo. Me virei para Will ver. O queixo dele caiu e as pupilas dilataram.

W:- devem ter uns 300 litros de serotonina nas minhas veias agora... meus deuses como pode ser tão tudo de bom ao mesmo tempo?

Tentei sorrir pra ele, mas estava com a boca ocupada e olhos pesados. Ele percebeu e veio até mim, me pegando no colo e me encarando nos olhos, sem as lentes, pela primeira vez.

W:- não tenha mais vergonha de mostrar as belas cores do seu olhar.

Ele beijou minha testa, enquanto eu me sentia o mais abençoado dos semideuses em seus braços.

Muito aleatório e soft aposto que tem gente querendo meu couro pelo excesso de fofura nos últimos caps,  desculpa, é que eu tô com uma gatinha carente aqui em casa que perdeu o irmãozinho faz pouco, então eu pego a fofura dela.

SOLANGELO NOSSO DE CADA DIA!!Onde histórias criam vida. Descubra agora