Niquito autista

922 55 6
                                    

Nico narrando
Eu não percebi que estava mexendo as mãos de forma estranha até me policiar e parar. Will olhou para mim com um pouco de pesar antes de virar o rosto de volta para a janela. Ele pediu permissão a Quíron para me levar em algum lugar fora do acampamento, dizendo que era um "profissional da saúde altamente especializado" que por extensão era também um de seus irmãos (que surpresa). Chegamos a um prédio baixo, de dois andares, com uma placa com alguns símbolos curiosos e coloridos que eu não consegui ler. Will entrou e fez um sinal para que eu o seguisse. O local estava cheio de crianças com os pais, o que me fez questionar se aquilo era uma piada entre minha aparência e uma clínica pediátrica. Mas Will estava sério e não parecia disposto a brincadeiras. Não era a primeira vez que eu o via sério, acho eu (ler expressões é uma das maiores dificuldades que eu já tive na vida), mas dessa vez ele parecia... não sei dizer, mais sombrio? Isso não combinava com um filho de Apolo. Era estranho. Will falou com a recepcionista dizendo que eu tinha um horário marcado. Ela conferiu e confirmou dizendo que eu já já entraria e que podíamos nos sentar e esperar. Foram alguns minutos de espera até que eu fosse chamado. Eu não gostava nem um pouco de médicos, desde pequeno, e havia começado a aturá-los por causa de Solace. O homem era um senhor de meia idade de cabelos e olhos castanhos, pele bronzeada e um óculos de grau quadrado. Tinha um sorriso simpático e caloroso e me chamou com delicadeza para a sala. Ele me pediu para sentar e começamos a conversar. Foi engraçado, na realidade. Ele me ouviu por duas horas inteiras e não me mandou calar a boca. Até Bianca me mandava ficar quieto muitas vezes. Ele disse que marcaria outra consulta para a semana seguinte quando a conversa terminou. Achei meio engraçado, um médico que conversa. Will me disse que ele era um neuropsicólogo. Não entendo muito bem as divisões de tarefas da medicina, então apenas dei de ombros.

Na consulta seguinte, ele fez testes. Alguns eram num papel, que para facilitar, ele passava uma espécie de caneta laser que lia as perguntas para eu responder. Eram perguntas pessoais, que eu tinha que responder com definitivamente sim, parcialmente sim, mais ou menos, parcialmente não ou definitivamente não. E por algum tempo, de semana em semana, eu ia para aquele doutor. O nome dele era Maurício, e ele tinha uma paciência de Jó comigo que ninguém nunca teve. Depois de alguns meses, ele tinha um veredito e chamou Will para o anúncio que tinha a fazer.

M:- bom, os testes todos indicam pra mesma direção e não restam dúvidas. Nico di Angelo, além de TDAH e dislexia, você tem também o Transtorno do Espectro Autista. No seu caso, acredito que você seja nível 2 de suporte.

E a partir disso, ele explicou toda a questão do autismo e que eu precisaria de algumas terapias particulares pra trabalhar alguns aspectos onde eu precisava melhorar. Ele disse que eu podia ter também depressão e que possivelmente precisaria de medicamentos, que deveriam ser prescritos por um psiquiatra. Ele disse que havia um em sua equipe e que ele poderia cuidar disso e emitir um CID para mim. Eu fiquei meio confuso, então ele me entregou um áudio-livro pra explicar melhor.

Quando voltamos para o acampamento, eu escutei o áudio-livro, e simplesmente tudo ficou claro. Todas as manias esquisitas, o incômodo com ruídos altos, luzes fortes e cores vibrantes, a incapacidade de comer certas coisas, meus problemas de comunicação e interação social, o cansaço físico e mental constante e os momentos de descontrole e desligamento finalmente fizeram sentido. Eu sempre senti que não me encaixava e sempre atribui isso ao fato de ser filho de Hades, mas agora, eu tinha uma explicação muito mais plausível para isso.

Will veio me ver e conversar comigo. Me explicou que desde que eu passei três dias na enfermaria, ele percebeu que tinha algo de diferente em mim e que eu não me isolava simplesmente por ser um semideus do submundo. Ele procurou pelos sinais e viu que se encaixavam com os do autismo, e por sorte, um de seus irmãos mais velhos tinha uma clínica especializada em transtornos do neurodesenvolvimento. Ele perguntou se podia me abraçar, e eu deixei.

Partindo disso, eu finalmente me sentia um pouco em paz. Podia ser eu mesmo sem precisar mascarar. Podia demonstrar afeto do meu jeito e era acolhido quando o fazia. As terapias me ajudaram, e em breve os remédios também. Eu estava mais tranquilo, menos agressivo e deprimido que antes, tinha menos momentos de descontrole (que descobri se chamarem crises externas, ou meltdown) e menos desligamentos (que se chamam crises internas ou shutdown). Claro, esses momentos não deixaram de acontecer, mas diminuíram consideravelmente.

E como se já não tivesse se provado um excelente namorado várias vezes, Will não saiu do meu lado e ficou comigo até nos meus momentos de crise, além de me ajudar a me regular, me dar suporte quando eu precisava e me ajudar a remover todas as etiquetas das roupas. Ele parecia genuinamente feliz em me ver bem e aceitava meu jeito incomum de demonstrar afeto.

Com o tempo, todos os meus amigos ficaram sabendo da minha condição e me aceitaram de boa. Eu fiquei feliz de não ser abandonado por ninguém dessa vez e comemorei isso com Will. Acho que ele me deu um sorriso triste quando eu disse isso.

Numa noite, enrolado no meu cobertor de cachorros esqueleto, eu sorri pro escuro e agradeci internamente a Tique por ter tido sorte dessa vez e ter encontrado uma família.

Oi meu povo. Por favor não me matem. Primeiramente, desculpa pelos meus hiatos o tempo todo. É que ultimamente eu perdi o hiperfoco no riordanverso e acabei amainando quanto a isso. Mas solangelo ainda tem meu coração e eu ainda pretendo aparecer aqui mais vezes (inclusive com au do Nico autista). Essa ideia eu tive por dois motivos: primeiro porque, sem ideias, eu me lembrei que eu sou autista e que eu poderia fazer uma one shot de au autista. Segundo, eu tive certa inspiração na extinta fanfic "Desenho Amarelo" da Evanna LaRue (inclusive, as melhores fanfics de solangelo são as dela), que tratava exatamente do Nico autista e eu lembro que quando eu li, eu simplesmente amei. Fazem acho que mais de dois anos que essa fanfic sumiu, era antes de eu ter meu diagnóstico, mas ela sempre foi uma das minhas favoritas. É isso, não me matem pfv, beijos.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Feb 05, 2024 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

SOLANGELO NOSSO DE CADA DIA!!Onde histórias criam vida. Descubra agora