G I R L S

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Nicole narrando (vocês já vão entender)

Lá estava eu, amolando minha espada, nas sombras, em guerra com meus pensamentos fodidos em uma mente fodida. Nada além do de sempre. Eu estava alheia aí resto do mundo, não gostava muito dele. Meus melhores amigos eram Héstia, Irene (deusa da paz), Bia (deusa da violência), Cratos (sim, eu conheço ele), Íris e Morfeu. Ou seja, um pequeno grupo de imortais não muito favorecidos pelos olimpianos. Então eu estava sozinha, considerando que meus amigos estavam fazendo suas deusisses por aí. Os amigos mais acessíveis, que pra falar a verdade são tão bons quanto meus amigos deuses, são os 7 do Argo II. E o Hedge, a Reyna e a Thalia. A tenente de Ártemis até me convidou pra caçada, mas uma outra filha do submundo já havia morrido com elas, então apesar do meu respeito, eu não tinha muita confiança e também tenho um coração mole, me apaixono fácil. Um grito interrompe minha deprimência matutina. Alguém chamando meu nome. Ergo meus olhos e simplesmente penso: "será que uma lésbica não pode nem existir em paz?!”. Quem vinha até mim era a desgranida na Willow. Essa garota me atormenta desde que eu dei a sentença de que moraria aqui, me arrastando pra cima e pra baixo. Ela vinha sorridente, balançando seu mar de cachos loiros em câmera lenta, ensinando ao próprio pai como se brilhava, vestindo uma camiseta do acampamento transformada em regata, um shortinho de verão jeans verde berrante, com algumas pulseiras  destacando as mãos delicadas e curativas. Rosnei, aquela garota otária tinha que ser bonita pra caralho?

W:- oi Nikkie! O que está fazendo nessa sombra toda? Vai virar cinzas se vier no sol por acaso?

N:- Willow, sai do meu pé.

W:- vamos lá Nikkie, ânimo! Vem, uns amigos meus fizeram picolés de morango! Você quer?

N:- não e seus amigos me odeiam, sabe disso.

Na verdade, eu queria sim um picolé, mas os amigos dela...

W:- eles não odeiam! É só ser mais gentil com eles, ué!

N:- tá, eu posso tentar.

W:- ótimo! E aliás, tá me dando calor só te ver com esse sobretudo, não tá quente aí não?

"E te daria calor de eu estivesse sem ele e sem o resto?” me veio na cabeça, mas mordi a língua, não posso falar as coisas que penso pra ela. Tirei o sobretudo e levantei. Ela me olhou dos pés à cabeça. Ok, eu sou uma garota meio marombada, mas poxa, precisa olhar tão estranho?! E daí se eu tava de cropped e short, era proibido agora?!

N:- perdeu alguma coisa?!

W:- Nikkie...

N:- desculpa.

W:- ok. Vamos!

Willow me puxou pela mão, me fazendo ficar vermelha ao sentir sua pele macia contra a lixa que eu chamo de mão. Pelo menos eu podia dizer que era o calor. Os amigos dela estavam no anfiteatro, rindo de algo que Connor havia falado. Mas a risada cessou assim que me viram. Fiz um esforço pra não fazer uma cara feia pra eles. Cumprimentei todo mundo com uma educação que eu realmente não lembrava que eu tinha, mas não foi o suficiente pra desfazerem as caretas. Então Miranda começou a distribuir os picolés. Só que quando chegou no meu, que era o último que tinha, ela derrubou no chão e pediu uma desculpa falsa. Eu segurei a raiva e disse que tudo bem. Gentil, afinal. Então começou uma cantoria entre eles, com uma música que eu amava. Só que quando eu fui cantarolar baixinho junto, todo mundo parou e me olhou de testa franzida, menos Willow é claro.

W:- gente, por que pararam?

M:- é que perdeu a graça de repente, sabe Willy?

Então decidiram fazer um jogo de adivinhações. Eu bem que tentei participar, mas não validavam meus palpites e pularam a minha vez de jogar. Eu respirei fundo e repeti pra mim mesma que era tudo coisa da minha cabeça e que eu que estava me vitimizando naquela história. Meu próprio psicológico queria que eu fosse a vítima.
Então, veio o jogo de verdade ou desafio. Caiu Connor para mim.

C:- verdade ou desafio, querida?

N:- verdade.

C:- por que você força a amizade?

Olhei pra ele achado que era uma piada. Uma piada sem sentido algum.

N:- como assim?

C:- ninguém te quis aqui a tarde toda. Por que ainda está aqui?

W:- Connor que brincadeira é essa?

M:- não é brincadeira Willow. Você é a única que vai com a cara dessa aí.

Eu não precisei ouvir mais nada. Chamei uma sombra e sumi dali. Eu disse e eu disse, não gostavam de mim. Eu não conseguia ser algo ou alguém suportável, não conseguia e deu, não tem como! Eu era uma maldita suicida e isso não ia mudar! Peguei o violão e só... Toquei. Por um bom tempo, cantando Hurts like Hell e Ghost town, um pouco de Hallo também. Depois deitei e chorei um pouco. Daí abracei a caveira de pelúcia que meu pai mandou no meu último aniversário e tirei um cochilo.
Acordei com murros na minha porta. Murmurei um já vai rouco e levantei, esfregando os olhos. Do outro lado da porta, estava Willow.

N:- a... Oi. Desculpa por hoje eu... Só... Não sei, foi culpa minha.

Se ela ouviu algo do que eu disse, não deu a mínima. Ela entrou no chalé e deixou algo na mesa de cabeceira. Uma bandeja com comida. Provavelmente já passou da hora do jantar.

W:- vem cá.

Fui até ela, com medo de receber uma bronca por hoje.

N:- olha, eu juro que não fiz nada por mal, eu só...

W:- Nicole cala a boca!

Eu calei. Eu me sentia mal por hoje. Depois que ela me mandou calar a boca, eu fiquei com medo que ela me desse um tapa, não sei bem porque. Willow não ficava brava com nada, mas ela estava claramente puta. E eu tinha a mania de conceber que quando alguém estava mal de alguma forma, a culpa era minha, mesmo que eu não tivesse muito a ver. Então, na minha cabeça ela tava puta comigo. Eu sempre concebia que eu era a errada e o resto era o certo. Willow fez um sinal de mais perto, e eu avancei um passo. Eu estava a uma distância segura para não levar uma bolacha na cara. Mas Willow continuou me fazendo aproximar dela. Isso até que estivéssemos a centímetros de distância. Então ela me abraçou.

W:- para de achar que tudo é culpa sua. Eles foram babacas com você mas eu tenho certeza que se te conhecessem, te defenderiam com unhas e dentes. E não se preocupa, eu já disse que ninguém mexe com minha namorada.

Eu levei um susto com o que ela disse. "Minha namorada?”, que caralho foi isso?! Willow me deu um selinho. E mais um. E outro. E mais outro.

N:- Willow, para de enrolar mulher! Me beija logo!

Ela riu e me beijou, agora de língua.

W:- ok, eu sei que gosto de alugar a sua boca pra isso, mas você precisa comer.

N:- médica chata.

W:- paciente que não é paciente.

Fiz eles meninas, não sei nem porque, mas fiz e taí (◕ᴗ◕✿)

SOLANGELO NOSSO DE CADA DIA!!Onde histórias criam vida. Descubra agora