Se não fosse pela pequena pulseira em seu pulso, nem seu próprio nome, Agnes, saberia. Sem idade, casa e passado, foi assim que ela despertou deitada em uma cama, numa desconhecida e luxuosa mansão.
Agora, sem saber nada sobre si mesma, ela terá de...
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Faço o último cruzamento do jogo e escuto o juiz assoprar o apito, encerrando a partida que terminou em empate. Vencer é o que buscamos no coletivo, conseguindo a maior soma de pontos, no entanto, hoje, mesmo empatando, estou pessoalmente satisfeito, pois os dois gols marcados para o empate foram meus, e modestamente falando, foram gols bonitos.
Descemos juntos para o vestiário do estádio e sinto uma leve câimbra na coxa esquerda, me sento assim que vejo o banco e peço ao massagista a bolsa de gelo. Marcelo se senta ao meu lado e franze o cenho.
— Sentiu a coxa? – Ele pergunta, um eufemismo para saber se estou lesionado.
— Nada. – Rio. — Só um pouco de câimbra porque o preparador físico aumentou minha carga na academia.
— Menos mal, com esse empate de hoje a diretoria vai ficar na nossa cola no próximo jogo. – Marcelo comenta, e eu assinto concordando.
As coisas sempre caem nas nossas costas, as vitórias e as derrotas, ele como capitão do time e eu sendo o atacante principal, temos mais responsabilidade que o resto.
Pego a bolsa de gelo e coloco sobre a coxa, prendendo a respiração ao sentir a baixa temperatura fazer a minha pele queimar.
— Quando acaba o seu contrato? – Pergunto a ele, tentando me distrair.
— No final do ano. – Marcelo responde, e estica as pernas. — Já recebi a proposta de renovação, mas um time britânico também demonstrou interesse, então vou avaliar com meu empresário.
Assovio, admirado. Ele é um ótimo jogador, é claro que seria chamado por um time europeu mais cedo ou mais tarde, só não esperava que fosse antes de mim.
— Parabéns. – Digo, para não parecer invejoso. — Vai dar certo.
— Assim espero. – Ele suspira. — Como vai a Agnes?
— Não muito bem, ela desistiu do teatro e agora está pensando no que fazer. – Comento, sentindo repentinamente falta dela.
A última vez que conversamos foi pela manhã quando eu liguei e ela me disse que estava indo à casa da Suzana.
— Que tenso, cara. Não sou o maior fã de teatro, mas acho que ela atuava bem.
— Atuava bem pra'caralho. – Afirmo e me levantando do banco, deixando a bolsa de gelo para trás após anestesiar a minha dor. — Tem como você pedir para a Aruana conversar com ela? Acho que é bom ter uma opinião de fora.
— Peço sim. – Diz ele, e eu agradeço com um aceno de cabeça, antes de ir para o chuveiro.
Jogar sempre foi meu sonho, acredito que mesmo se eu não fosse filho de um jogador famoso também sentiria esse impulso de ir para o campo. É algo que está em mim, não me vejo fazendo outra coisa, e imagino que assim seja para a Agnes em relação a atuar. Não me darei por vencido fácil assim, ela só está chateada no momento, tenho certeza que com um pouco de conversa e paciência se dará conta que não há outro futuro para ela que não seja no teatro.