Ingênua [COMPLETO]

Capítulo 20: Daniel

Durante as últimas três semanas eu não consegui pensar em outra coisa que não fossem os jogos e a volta da Paola. Acreditei que estava pronto para devolver na mesma moeda, ela me magoo anos atrás, merecia a mesma coisa. Entretanto, quando ela apareceu aquele dia no centro de treinamento e me contou a sua versão dos fatos, eu fiquei balançado. Me veio a memória o primeiro momento em que percebi que ela havia ido embora e torci para que tudo não passasse de um engano. Então ela reaparece sem aviso me provando que realmente foi um engano.

Não sou idiota, com vinte e três anos já vivi muito mais coisas que a maioria das pessoas com o dobro minha idade, fiquei me perguntando se haveria algo a mais por trás da história dela. Paola é ambiciosa, isso não é nenhum crime, eu também sou, mas me perguntei até que ponto a sua ambição não era interesse nos meus bens. Deixei que ela ficasse de molho no hotel enquanto eu pensava melhor na situação, todas as vezes que nos encontramos ela parecia a Paola de sempre: a minha menina extrovertida dos olhos verdes que se sentava atrás de mim na escola

Foi a conversa que tive com a Agnes que me ajudou a perdoar a Paola de vez, não tinha razão para guardar rancor. Ontem, antes de começar o jogo liguei para ela e disse que estava pronto para recomeçar outra vez, como ela havia me pedido. É claro que eu não esperava chegar em casa e dar de cara com ela.

Por Deus, como lhe explicaria a presença da Agnes? Não dava para falar que éramos primos, Paola sabe muito bem quem são os membros da minha família. Então, disse a ela a primeira versão da mentira, a que a minha mãe contou no hospital logo que a Agnes foi atendida. A garota havia sido atropelada por um motorista irresponsável e eu a encontrei logo em seguida, decidindo lhe ajudar... pois sou assim, uma pessoa com o coração enorme.

Seus olhos verdes me encararam surpresos, mas ela não discutiu, voltou a atenção para a mala e continuou guardando suas roupas no meu closet. Eu estava a ponto de perguntar se ela pretendia ficar muito tempo, mas não consegui pronunciar uma palavra sequer depois que ela tirou a roupa, é, o tempo fez MUITO bem a ela.

Por mim, o recomeço seria devagar, estou acostumado com a minha vida de solteiro saindo com quem eu bem entendo, só que as roupas recém penduradas no meu closet mostram que para ela o recomeço quer dizer relacionamento sério e morar juntos. Eu até que poderia contestar, mas tenho uma força de vontade muito fraca com pessoas que usam sutiã acima do 44. E é por esse mesmo motivo que concordo em levá-la a uma nova boate da cidade, mesmo estando morto de cansaço após o dia inteiro de treino intenso e aquele embate desnecessário com a Antônia pela manhã.

Antes mesmo de sair de casa já me arrependo ao ver o Renato e a Agnes perto de se pegarem no sofá da sala de estar. Se já estão assim comigo em casa, imagina quando eu sair.

— Posso saber que pouca vergonha é essa na minha casa?

Pergunto aumentando o tom de voz para chamar a atenção dos dois. Renato levanta num pulo e a Agnes se senta arrumando o vestido que já estava mostrando coisa demais. Filho da mãe, eu sabia que não iria demorar para ele começar a mostra à que veio.