Capítulo 3: Daniel

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Ninguém ousa cortar o silêncio, os dois parecem tão surpresos quanto eu, jamais imaginaria que a criatura coberta de foligem e sangue não era um garoto

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Ninguém ousa cortar o silêncio, os dois parecem tão surpresos quanto eu, jamais imaginaria que a criatura coberta de foligem e sangue não era um garoto. Mas agora consigo prestar mais atenção nas curvas femininas, as coxas roliças, a cintura fina e até mesmo os seios pequenos alegam indiscutivelmente que é uma mulher. Sem falar no ninho embaraçado que é o cabelo que lhe cai sobre os ombros, combina muito mais com o a realidade.

— Derramei água na escada, cuidado quando forem descer. ─ Diz minha mãe ao entrar novamente no quarto. — Ele morreu?

      O seu tom de voz, alegre demais, me faz virar para ela com um olhar repreensor. Ela está segurando uma jarra nas mãos e com uma toalha de rosto pendurada no ombro direito.

— Descobrimos que é uma mulher. ─ Diz o doutor André quando ela se aproxima da cama. — Coloque sobre este aparador. – Ele pede apontando o móvel ao lado da cama, que uso como apoio para um abajur.

— Quem poderia imaginar, com tanta sujeira. – Ela diz franzindo o nariz em repulsa. — É bom pedir para a empregada trocar os lençóis, vai saber que tipo de doenças essa garota tem.

       Apenas ignoro o comentário, quem escuta o que saí da boca dela, pensa que ela nasceu em berço de ouro, e não na região mais pobre da cidade, e por muitos anos trabalhou como copeira numa empresa.

      André calça as luvas descartáveis nas mãos e molha a toalha na jarra, me sento na beirada da cama e assisto ele limpar o ferimento da cabeça primeiro, o sangue vermelho volta a jorrar assim que ele molha a casca que havia se formado. Vejo o talho de uns cinco centímetros desde a raiz de seus cabelos até acima de sua sobrancelha esquerda, não é preciso ser médico para saber que ela precisa de pontos.

— O Senhor acha que conseguimos levar ela para o hospital sem chamar atenção? ─ Pergunto para André, não dá para resolver em casa a perna quebrada dela que fica mais vermelha a cada minuto.

— Daniel! ─ Lúcio chama pelo meu nome em tom de aviso.

— Com a quantidade de dinheiro certa, tenho certeza de que todos ficarão em silêncio, Senhor Salles. ─ Diz André pegando um frasco de remédio na maleta. — Consigo dar uns pontos nela, e até passar uma pomada para as esfoliações, mas ela vai precisar de um ortopedista para essa perna.

       Minha mãe contorna a cama e coloca a mão sobre meu ombro.

— Isso é perigoso, Daniel. Se a notícia vazar você pode perder tudo, meu filho.

— E o que eu faço mãe? Deixo uma pessoa sofrendo por causa de algo que eu fiz? ─ Levanto o olhar a encarando e ela suspira.

— Eu a levo para o hospital, não saia de casa. Você sabe como são esses paparazzi.

      Não me sinto confortável com esse acordo, alguns minutos atrás ela estava querendo que a garota morresse, mas de certa forma ela tem razão, é arriscado demais.

Ingênua [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora