Capítulo 32: Agnes

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Suspiro, saboreando o gosto do meu sorvete de chocolate com pedaços de bombom, está um calor infernal, assim como esteve nos últimos dias

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Suspiro, saboreando o gosto do meu sorvete de chocolate com pedaços de bombom, está um calor infernal, assim como esteve nos últimos dias. É a primeira vez que tomo algo gelado, depois do resfriado que tive duas semanas atrás. Sei que não é saudável para a garganta, ainda mais que tenho uma apresentação hoje à noite, mas não pude resistir quando a primeira turma de teatro me convidou para ir com eles no horário do almoço.

Há três dias estou ensaiando da manhã até o anoitecer, para o papel que ganhei em uma peça junto a turma dos veteranos. Todo semestre, algum novato que se destaca, ganha um papel pequeno no roteiro da primeira turma, aqueles que estão prestes a se formar e conseguir o certificado de atores profissionais. Dessa vez, fui eu, a escolhida para o papel de Angel, a quarta de cinco irmãs, tenho poucas falas, e sou classificada como a irmã ambiciosa, insensata e cruel. É difícil representar tais características que nada tem a ver comigo.

Toda trama da peça gira entorno do casal principal, Jaqueline e Horácio, que são de famílias rivais da alta sociedade, quase um Romeu & Julieta dos tempos modernos. Para mim, os destaques são os personagens secundários, que dão outros rumos ao texto, criando situações de tensão no roteiro.

— Acha que serei uma boa Madame Cardam? – Pergunta Melissa, uma mulher da primeira turma, que já deve ter uns vinte e três anos, fazendo com que eu volte a prestar atenção na conversa da mesa cheia, dentro da sorveteria.

— Claro, o caos está nas nossas mãos. – Digo em tom de brincadeira, pois sou eu a responsável por levar à personagem dela, a notícia de que seu filho namora a minha irmã.

— Então faremos a maior intriga já vista. – Ela pisca para mim, em sinal de cumplicidade e rimos.

Apesar de não estar com os da minha turma, gosto deles, são animados, e tem uma energia artística mais aflorada.

Assim que terminamos o sorvete, retornamos para o teatro, gosto dessa rotina de ensaios exaustivos, poderia fazer isso todos os dias, mas a partir de amanhã retorno o meu cronograma de sempre. Temos dois ensaios gerais ao longo da tarde, o primeiro com o palco limpo, como chamamos quando não há roupas e cenário, e o segundo com quase tudo pronto.

Mesmo com o nervosismo borbulhando em meu estômago, consigo entregar um resultado que me satisfaz no primeiro ensaio. Sento na beirada do palco e fico com as pernas estendidas, tanta movimentação me deixou com um pouco de dor.

— Nervosa? – Melissa pergunta se sentando ao meu lado.

De todos os veteranos, ela é a que tem se tornado mais próxima de mim.

Gosto dela, está limpando a impressão que eu tinha de que todas as loiras são como a Paola.

— Muito, tenho medo de tropeçar ou esquecer minhas falas.

Isso seria uma tragédia, até porque a minha personagem é super refinada, jamais se comportaria como uma tola.

— Fica tranquila, você é muito boa. Tente não pensar muito no seus próximos atos, deixe que a personagem assuma o controle, ela tem voz própria e quer mostrar ao público a que veio.

Ingênua [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora