Capítulo 6: Daniel

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Quando minha mãe me liga pela manhã ao sair do hospital, para me atualizar sobre o estado de Agnes, eu imagino as manchetes de jornais se formando caso a noticia vaze:

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Quando minha mãe me liga pela manhã ao sair do hospital, para me atualizar sobre o estado de Agnes, eu imagino as manchetes de jornais se formando caso a noticia vaze:

"Atacante da série A, se envolve em acidente e vitima fica gravemente ferida"

"Diretoria rompe contrato com novo atacante após ele negligenciar atendimento imediato à vítima de acidente causado por ele"

Se isso acontecer eu não conseguirei nem ser treinador de escolinha de futebol.

Peço para que Lúcio me informe quanto eu tenho em conta, por sorte ele também pulou cedo da cama, e possuo um bom valor, sete dígitos. Digo que felizmente dá para pagar um bom suborno em troca do silêncio dela. Mas Lúcio retruca que essas coisas são como filme, sempre alguém irá oferecer mais, basta ela ir à uma grande emissora e dizer que tem um furo de reportagem e no fim a merda vai ser atirada no ventilador de qualquer jeito.

Já estou pensando em uma nova carreira para mim, quando o celular toca, é Lúcio novamente. Segundo ele, o André ligou para minha mãe informando boas novas, ele ficou sabendo pelo ortopedista que operou a Agnes, que ela acordara sem memória alguma. Não apenas do tipo confusa que se esquece dos últimos segundos antes do acidente, ela nem ao menos sabe quem é.

    — Bom, então a gente paga um psicólogo ou sei lá o que para ela. ‒ Digo me sentando à mesa da sala de jantar para tomar café da manhã

    — Você é burro, Daniel? ‒ Ele pergunta aumentando a voz.

    — Cuidado com essa sua boca de sacola, Lúcio. Tá cheio de empresário por aí querendo me agenciar. ‒ Ameaço sem paciência para esse sequelado. Depois de tudo que passei nas ultimas horas ele ainda quer tirar uma comigo?

   — Presta atenção, garoto. Ela acordou com amnésia, isso é melhor que suborno. Como ela vai poder denunciar se não lembra de nada?

   — Mas e se ela lembrar um dia? ‒ Já dizia minha avó, quando a esmola é demais o santo desconfia.

   — Eu tenho um plano. ‒ Declara com aquela voz de maníaco viciado em dinheiro que só ele sabe fazer quando vê a oportunidade diante de si.

Me preparo para a asneira que estou prestes a escutar às dez da manhã, sem nem ao menos ter dado um gole no meu café.

   — Você vai ser legal com ela. Não estou dizendo do tipo tolerável que dá bom dia e ponto. Quero que você seja um perfeito cavalheiro, dando flores e chocolates, atento à cada necessidade dela.

Não consigo segurar, dou uma sonora gargalhada. Rio até perder o fôlego e meus olhos lacrimejarem. Lúcio só pode ter ficado senil, não é surpresa, já que está quase na casa dos sessenta. Velho maluco!

   — Para de rir, Daniel. ‒ Ordena ele. — Estou falando sério.

Uso o guardanapo para secar os olhos, não rio assim desde meus últimos dias no outro time, conversando bobagem com os caras no vestiário.

Ingênua [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora