Se não fosse pela pequena pulseira em seu pulso, nem seu próprio nome, Agnes, saberia. Sem idade, casa e passado, foi assim que ela despertou deitada em uma cama, numa desconhecida e luxuosa mansão.
Agora, sem saber nada sobre si mesma, ela terá de...
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Não, isso não pode estar acontecendo.
Encaro o corpo mais uma vez, os cabelos escuros estão cobrindo o rosto do cadáver no chão, ele está sem um dos tênis, com o pé todo ralado, as mãos estão no mesmo estado, quase em carne viva.
Olho envolta procurando uma testemunha, não vejo muita coisa, mesmo com o farol do carro ajudando iluminar a rua. Alguém deve ter visto, não existem crimes sem testemunhas, e ainda têm aquelas câmeras da prefeitura espalhadas para registrar o tráfego, que nunca funcionam, mas para o meu azar alguma pode ter filmado.
Me abaixo perto da sua cabeça, para conferir se há alguma poça de sangue, o asfalto parece molhado apenas da chuva que cai. Levanto os cabelos molhados com cuidado e vejo um rosto sujo com o que parece ser carvão, há sangue saindo de um corte no alto da testa, e não é pouco.
Todos meus instintos gritam para que eu saia daqui, não posso ser flagrado ao lado da pessoa que acabei de matar.
Estou prestes a me levantar quando vejo o peito dele inflar, mostrando que ainda está respirando. Droga! Cadáveres não podem falar, mas uma pessoa viva pode muito bem contar quem lhe atropelou e deixou seu corpo machucado jogado na rua.
Enfio a mão no bolso e pego o celular para ligar ao Lúcio, ele sempre sabe o que fazer para preservar minha carreira.
Enxugo o rosto com a manga da camisa, a chuva está engrossando outra vez, o que é bom, talvez ninguém passe por aqui com medo dos alagamentos constantes quando chove.
Lúcio atende e escuto o barulho de música ao fundo, ele ainda deve estar na festa paparicando os patrocinadores.
— Já chegou em casa, garoto? – Ele pergunta gritando.
Afasto o celular da orelha com o susto.
— Lúcio, eu preciso da sua ajuda.
— Não estou te ouvindo.
Inferno. Bela hora para esse filho da puta vir me passa raiva.
— Eu atropelei uma pessoa. – Grito usando toda a potência da minha voz, mas me arrependo ao pensar que posso ter atraído atenção.
Ele faz silêncio por alguns instantes e então o barulho da música diminui um pouco.
— Onde você está, Daniel? – Lúcio pergunta mais baixo dessa vez.
— Na marginal, eu estava indo para casa e atropelei alguém. Não sei o que fazer. – Me encosto na lateral do carro pensando na minha carreira indo por água abaixo, quero chorar pela primeira vez em muitos anos.
— Que merda, garoto. E você ligou para a emergência?
— Não. Eu estou sozinho aqui, acho que ele não morreu, mas deve estar para morrer. – Assim que digo, sinto o peso das minhas palavras, eu posso ter acabado de tirar a vida de alguém.