Ingênua [COMPLETO]

Capítulo 33: Daniel

Desperto cedo, como de costume, o que é um benefício e tanto, já que ninguém acordou ainda e preciso voltar para o meu quarto sem ser visto.

Observo por um instante a expressão tranquila da Agnes, enquanto dorme, nem parece a atriz vilã de ontem, ainda bem, gosto dessa versão boazinha. Me inclino e dou um beijo em sua testa antes de me levantar, ela resmunga algo e vira para o outro lado, me fazendo rir.

Saio do quarto com cuidado, sem fazer barulho, a Neide já deve estar acordada arrumando o café da manhã, mesmo ela sendo gente boa, irá julgar se me ver saindo do quarto da Agnes na ponta dos dedos, enquanto minha namorada dorme no cômodo ao lado. De volta ao meu quarto, vejo que a Paola ainda está dormindo profundamente, vou direto para o banho, a fim de terminar de despertar.

Preciso dar um jeito de me livrar dela, algumas ideias passam pela minha cabeça. Posso tornar esse relacionamento tão insuportável que ela mesma caia fora por vontade própria... no entanto, ela pode se vingar entregando tudo para a Agnes e a polícia. Há também como possibilidade, mandá-la para o exterior, e viver um relacionamento de fachada no qual eu nunca mais precise ver a sua cara, mas nesse caso, é a Agnes que não vai aceitar ficar comigo enquanto a Paola for a "oficial". A última alternativa é dar à Paola o que ela quer, fama. Se ela ficar famosa de verdade, eu posso me tornar desnecessário na vida dela, assim ela mesma cai fora, e não sofrerei nenhuma retaliação.

Não é o melhor dos planos, mas é o que tenho para agora. Vai exigir muita paciência minha, algum investimento também, e com certeza a Agnes vai ter que esperar por mais tempo, me apego ao fato de que é fácil lidar com ela, diferentemente da megera. Aliás, nem esperei que a Agnes fosse reagir daquele jeito, dizendo que não quer nada sério, apenas respeito da minha parte, foi uma surpresa boa saber que os milhares de filmes de romance não a fizeram criar ilusões de "felizes para sempre". É claro que gosto dela, isso no presente, sem nenhuma certeza do dia de amanhã, e quero aproveitar para estar com ela enquanto esse sentimento durar, só preciso me livrar da pedra loira no meu sapato.

Me arrumo rapidamente e desço a fim de tomar café da manhã, para o meu completo choque, a Bia também já está de pé.

— Caiu da cama? – Brinco, ao me juntar a ela na mesa.

— Minha orientadora de pesquisa me convocou para uma reunião de emergência. – Diz ela, enquanto pica uma fatia de mamão no prato.

— No sábado? – Pergunto, com incredulidade.

— Na faculdade não existe fim de semana, queridinho. – Ela rola os olhos e volta a comer. — E você, vai fazer o que hoje?

— Tenho treino durante à tarde. – Lhe informo. — Hey, você bem que poderia me ajudar com uma coisa. – Começo, ao ter uma ideia repentina.

— Já aviso que se for algo muito complicado eu não vou fazer. – Diz ela, com um desânimo aparente na voz.

— Preguiçosa. – Bufo. — É o mínimo, depois de eu ter te abrigado por tantos dias.