Capítulo 44: Daniel

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Não dormi durante a noite, remoendo a minha culpa diversas vezes, sempre que eu fechava os olhos tudo voltava à minha cabeça, como os fantasmas do passado assombrando o Natal do Scrooge

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Não dormi durante a noite, remoendo a minha culpa diversas vezes, sempre que eu fechava os olhos tudo voltava à minha cabeça, como os fantasmas do passado assombrando o Natal do Scrooge.

Agnes dormiu profundamente, com a cabeça sobre o meu braço. Após chorar por horas ela parecia tranquila, e isso me deixou com a consciência mais pesada ainda.

Eu devia ter agido diferente, tinha que ter permanecido no local do acidente e chamado por socorro, talvez minha atitude tenha prejudicado ainda mais o seu estado. Fui idiota, egoísta e medroso, todos os adjetivos ruins cabem à minha atitude, mas me arrependo, ela me ensinou novos valores na nossa convivência diária, valores que me transformaram e me fazem querer voltar no tempo e fazer tudo da maneira correta.

Minhas ações se tornaram meu pior inimigo, pois é impossível mudar o que eu fiz e disse, por mais que queira. A Agnes já tem uma completa aversão há quem causou o acidente, e isso só piorará se souber que fui eu, e que estive mentindo esse tempo todo, me aproveitando da sua ingenuidade. Eu sempre disse, desde o início, que aquele plano do Lúcio era uma merda, a Agnes não vai ficar com menos raiva por estar apaixonada por mim, pelo contrário, ela ficará decepcionada, e isso é muito pior que o ódio.

Gosto dela, de um jeito que nunca gostei de nenhuma outra, sou grande o suficiente para saber que não é eterno, nada é, pelo menos não na vida real, mas nesse momento é muito intenso. Se ela descobrir agora a verdade, nunca saberemos o que poderíamos ser juntos, e se fosse só por mim, esconderia ainda por muito mais tempo, só que tenho de lutar contra a própria memória dela e a minha mãe que não está nada disposta a colaborar.

Respiro fundo e desvio o olhar para o seu rosto sereno, nem mesmo parece que ela estava tão mal ontem, após desistir do seu sonho, por minha causa, diga-se de passagem.

Contorno seus lábios pequenos e cheios com o polegar, sentindo a maciez da sua boca, eu não quero perder isso.

Seus olhos castanhos se abrem e ela pisca algumas vezes, se adaptando à claridade.

— Bom dia! – Ela sussurra e dá um longo bocejo. — Me observando?

— Um pouco. – Confesso, e ela estreita os olhos. — Nada demais, é que você fica linda enquanto dorme.

Agnes ri e nega com a cabeça, se afastando para ficar sentada na cama.

— Você mente muito mal, Daniel Salles. – Ela me acusa de brincadeira, e eu dou uma risadinha nervosa, torcendo para ela estar errada. — Mas me diga, eu acordei muito cedo, ou por algum milagre você ficou na cama até mais tarde?

— O milagre é seu, nunca te vejo levantando cedo.

— É que fomos dormir cedo demais ontem.

Ela pisca para mim e estica os braços, se espreguiçando.

— Vai fazer o que, hoje? – Pergunto, agora que sei que ela não pretende mais ir para o teatro.

— Estudar, trabalhar...– Ela suspira e dá de ombros. — Não sei, irei me reprogramar.

Ingênua [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora