Epílogo

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Agnes Foroni de Azevedo, é este o meu nome.

Eu nasci no dia 02 de junho de 1997, em Buenos Aires, Argentina.

Meus pais se chamam Suzana Foroni e Jorge de Azevedo.

É isso que diz o papel escaneado em minhas mãos trêmulas. Não sou mais uma pessoa sem identidade, eu tenho uma família, um sobrenome, e uma história, que ainda não sei por completa... no entanto, me sinto tão ou mais perdida do que antes.

Todo esse tempo desejei saber quem eu era, se havia algo além do nome Agnes, coisas que todas as pessoas sabem sobre si, mas que eu sequer imaginava ao meu respeito. Ter esse papel em mãos, deveria me deixar feliz, só que tenho a mesma sensação de quando recebo um roteiro no teatro, essa Agnes que estou conhecendo agora, não sou eu, é uma personagem que nasceu 20 anos atrás e só me foi apresentada nesse instante. Há um buraco em minha mente, onde estão todas as informações sobre o meu verdadeiro eu, e não importa o quanto eu tente, ele permanece inacessível.

Achei que uma surpresa desse nível, seria capaz de me forçar a lembrar aquilo que esqueci após o acidente, todavia, continuo na mesma, vivendo conforme a informação que terceiros me passam. Pelo menos dessa vez, as informações vêm de uma fonte confiável, os meus pais.

— Não gostou? – Jorge pergunta para mim. — Achei que seria um bom presente de aniversário, por isso pedi para o meu advogado mandar sua documentação original escaneada.

— É... eu adorei. – Digo, forçando um sorriso.

Deposito novamente as folhas dentro da embalagem de presente.

Ele é sério, não de um jeito assustador, apenas de uma forma que nos passa segurança. Entendo porque os dois se completam, pois Suzana as vezes me parece completamente avoada... bem parecida comigo.

Os dois organizaram uma comemoração para o meu aniversário, somente nós três sentados envolta da bancada da cozinha, com várias caixas de presente. É estranho comemorar o meu próprio aniversário apenas dois dias depois de descobrir a data exata dele. Me lembro do aniversário da Beatriz, foi algo que ela planejou durante meses, pois sempre soube qual era o dia.

Todos os outros presentes eram "lembrancinhas" bobas segundo eles, mas para mim, já eram super presentes, ganhei mais roupas, um celular novo, notebook, bolsas... havia mais coisas para colocar no meu guarda-roupa do que tive algum dia. Os presentes oficiais eram os documentos, e uma última caixinha, que está nas mãos da Suzana.

— Ahora, abre mi regalo. (Agora, abre o meu presente.) – Pede ela, me estendendo a caixa embrulhada em papel laminado.

Desfaço o delicado lacinho e vejo que é uma caixinha de veludo, do tipo que guardamos joias, dentro dela há uma pulseira igual à que encontrei na caixa dela.

Suzana e Jorge estendem o pulso para mim, e mostram que no deles há duas pulseiras, uma escrita Agnes, e na outra, Sophia.

— Agora sim, somos uma família outra vez. – Jorge diz, me ajudando a colocar minha própria pulseira, com meu nome.

É um gesto bonito, em condições normais eu choraria, afinal sou a maior chorona do mundo, mas permaneço em estado de choque desde o instante em que eles me contaram a verdade. Então forço um sorriso nos lábios.

— É linda, Suzana. Muito obrigada. – Agradeço, e admiro o brilho da joia recém polida.

— No tienes que llamarme Suzana, eres mi hija. (Não tem que me chamar de Suzana, você é a minha filha.) Esclarece ela, com um tom empolgado demais.

— Suzana, permita que ela se adapte, deve ser estranho chamar dois desconhecidos de pais. – Jorge pede, em minha defesa, e eu respiro aliviada, pois é exatamente assim que me sinto.

Ingênua [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora