Ingênua [COMPLETO]

Capítulo 41: Agnes

Espero que o Daniel esteja enganado quando diz que "tudo que é bom, dura pouco", pois nas últimas duas semanas tenho vivido os melhores dias da minha vida. Não tenho muito com o que comparar, mas são os melhores dias da vida que me lembro, desde que acordei na maca daquele hospital.

As vezes tenho medo de descer as escadas e encontrar a Paola de volta, com mala e tudo na sala de estar, como fez da primeira vez que entrou pela porta. Mas então, me lembro da conversa que o Daniel e eu tivemos na manhã em que acordei e ele estava deitado ao meu lado, já desperto, e disse que havia acabado de uma vez por todas com ela. Ele não me disse os detalhes, do que aconteceu, no entanto, foi algo que deixou o Lúcio soltando fogo pela boca, pois apareceu horas depois e se trancou no escritório com o Daniel, gritando em plenos pulmões como ele era irresponsável.

Acredito que ele tenha conseguido convencer a Paola de que era melhor ir, antes que o Andrew viesse atrás dela. Fico feliz que tenha dado certo, mesmo ela sendo uma megera de marca maior, não consigo desejar que ela se dê mal na vida, acho que isso me colocaria em pé de igualdade com as maldades dela. Prefiro que ela seja feliz, tão feliz quanto eu estou sendo, e bem longe de nós de preferência.

Poder expressar o que estou sentido sem precisar esconder, é libertador, foi embora todo o peso na consciência, e já nem discuto mais com o Daniel. Aliás, nem temos tempo para isso, quando não estamos ocupados com nossas carreiras, nos dedicamos a outras coisas. Já fomos ao cinema, jantamos fora duas vezes, e chegamos ontem de uma viagem rápida as cachoeiras das Chapadas, um lugar tão lindo quanto a praia.

Marcelo e a Aruana foram conosco, ele é o único do time que já sabe sobre a gente, acho que no fundo eles sempre imaginaram que eu e o Daniel começaríamos a nos relacionar. Claro que disseram ser um pouco diferente ver dois "primos" juntos, mas que nos apoiavam acima de tudo. Felizmente, o Daniel contornou a situação dizendo que não somos primos de sangue, e criou todo um roteiro sobre isso, digno de novela das nove. Em sua história, eu sou filha adotiva da sua falecida tia, e assim sustentei esse papel nos três dias que ficamos na companhia de nossos amigos.

Estranhamente, gosto dessa história, na qual parece que um dia tive uma família, com tios, uma avó que nunca conheci pessoalmente, e primos não sanguíneos. Faz com que eu me sinta menos sozinha no mundo, como se tivesse alguém parar me acolher quando eu precisasse. Mesmo que os únicos que dê para contar, seja o Daniel e a Bia... bom, não sei se ainda dá para contar com ela, pelo menos, não depois que eu contar sobre o relacionamento com o Daniel. Me apego ao fato de que ela é minha melhor amiga no mundo, e que entenderá que os sentimentos falaram mais alto.

Relacionamento... ainda não definimos se é isso. Mas quando chegamos ao hotel, ele disse que havia reservado um quarto para ele e a namorada. Essa se tornou a minha palavra favorita, namorada, é tão bom dizer, e saber que é de mim que ele está falando.

— Namorada! – Exclamo, me jogando de costas contra o amontoado de travesseiros da cama dele.

Amigos, namorados, quem sabe o que virá em alguns anos, geralmente as pessoas  se casam. Claro que pretendo ir devagar, experimentando por completo essa fase tão desconhecida para mim, mesmo assim, não deixo de sonhar que um dia me chamem de Senhora Salles.