Capítulo 10: Agnes

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Antes de ir para a cama ando com a ajuda das muletas outra vez, sendo supervisionada pela Neide que parece prestes a ter um piripaque a cada passo vacilante que eu dou

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Antes de ir para a cama ando com a ajuda das muletas outra vez, sendo supervisionada pela Neide que parece prestes a ter um piripaque a cada passo vacilante que eu dou.

— Cansou? – Ela pergunta quando eu me sento ofegante na cama.

— Estou com um pouco de sono. – Murmuro olhando para os meus próprios pés que finalmente diminuíram o inchaço.

— Não me admira, hoje foi a primeira vez na semana que você não dormiu a manhã toda. – Ela ri e começa a mexer nos frascos de remédio. — Estava começando a pensar que você era uma dorminhoca.

— Eu não durmo direito à noite. – Digo e dou um bocejo logo em seguida. Comprovando que estou mesmo cansada.

— Devia ter contado isso ao seu médico, não é normal passar a noite em claro. – Neide me passa três comprimidos e um copo d'água. — Vai que é uma reação dos remédios.

— Acho que não. – Franzo a testa, pensando na possibilidade. — É que eu tenho medo do escuro e de ficar sozinha também. – Respiro fundo enrolando a barra do shortinho de pijama no dedo. — Quando o Daniel dormiu comigo eu consegui ter a melhor noite de sono da semana.

— Por que não me disse isso antes? Eu posso te fazer companhia! – Ela coloca as mãos na cintura, sobre o uniforme cinza. — Durmo que nem pedra, você nem vai notar minha presença. – Um riso divertido escapa pelos seus lábios. — Claro que não é a mesma coisa que dormir com o corpo saradão do Daniel ao lado, mas dá para o gasto.

Rio alto até minha barriga doer, Neide é a pessoa mais engraçada que eu já conheci... não que conheça muita gente. Pelo menos não mais.

— Ai, Neide! – Murmuro secando os meus olhos lacrimejantes. — Se você não trabalhasse aqui a minha vida ia ser um tédio. O Daniel não para em casa, e aqueles outros dois lá me causam arrepios.

— Que bom que você gosta de mim, porque quando começarem os campeonatos interestaduais, o Daniel vai passar semanas fora de casa. – Ela pega o copo na minha mão e coloca sobre a mesinha outra vez. — O Lúcio geralmente vai junto e leva a Marisa a reboque. Vamos ser só nós duas, fazendo companhia uma para a outra.

— E demora para esse campeonato começar?

— Acho que menos de dois meses. Agora ele está jogando o estadual, as viagens são bem curtinhas, no máximo dois dias.

— E o que ele foi fazer hoje?

Pergunto, já que a última vez que o vi foi quando ele trouxe o meu lanche da tarde, pois a Neide estava arrumando alguma coisa importante para ele.

— Do jeito que ele saiu cheiroso e bem arrumado, com certeza foi encontrar com mulher. – Ela balança a cabeça dando um sorrisinho estranho. — O que não falta é pretendente para ele.

— Hmn. – Murmuro abaixando a cabeça, sentindo algo estranho no meu peito.

Não é o mesmo aperto que sinto quando estou sozinha no escuro ou quando vou ter uma lembrança ruim... é diferente, é mais parecido com uma chama, arde em vez de sufocar.

Ingênua [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora