Capítulo 9: Agnes

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Esperei tanto tempo pelo sábado que agora mal posso acreditar que finalmente ele chegou para trazer boas notícias

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Esperei tanto tempo pelo sábado que agora mal posso acreditar que finalmente ele chegou para trazer boas notícias. Pelo menos é o que eu espero depois de tantos elogios da Antônia quanto a minha evolução na fisioterapia.

Infelizmente, a mesma coisa não aconteceu com a minha memória, ainda continuo sendo assombrada pela voz do garotinho e o rosto severo da mulher que retornam sempre que tento dormir. Isso se tornou um problema, descobri que não gosto do escuro pois a pressão em meu peito aumenta quando as luzes se apagam, nem mesmo consigo respirar direito. E atendendo ao pedido da Neide, não chamei o Daniel para dormir comigo outra vez, então passo as noites em claro e durmo apenas quando os primeiros raios de sol entram pela janela.

Hoje em especial, não durmo nem mesmo à luz do dia, estou animada demais para isso. Para mostrar minha melhora imploro para que Neide me deixe sozinha no banheiro para tomar banho sem ajuda pela primeira vez desde que saí do hospital.

Não é tão difícil agora que minha mão direita criou uma fina camada de pele rosada sobre os machucados e não preciso mais usar curativos nela. A esquerda continua protegida pelo saco plástico, impedindo que o gesso molhe. Coloco esse como o melhor acontecimento dos últimos dias, apesar de ter um pouco de dificuldade para me curvar ainda sentada na cadeira e conseguir lavar até os dedinhos dos pés.

Procuro o condicionador à minha volta e vejo que ele ainda está na prateleira próximo a janela, mais distante do que eu consigo alcançar ficando sentada. Seguro firmemente o braço da cadeira de banho com a mão direita, planejando usar a engessada para derrubar o frasco no chão, aonde alcanço melhor para pegá-lo depois. Apoio o pé bom no chão e impulsiono o meu corpo para cima, me sinto meio zonza, mas estou de pé. Pela primeira vez em uma semana eu estou pisando no chão, apenas com uma perna... mesmo assim é uma vitória. As lágrimas mornas descem pela minha bochecha, estou melhorando fisicamente.

Estico a mão engessada e bato com as pontas do dedo no frasco, ele chega apenas um pouco para frente, repito com mais força, e tudo acontece tão rápido que caio no chão ao mesmo tempo que o condicionador derrama no piso branco. Minha cabeça rodopia com a dor lancinante abaixo do meu joelho esquerdo, sob os pontos da cirurgia.

— Neide! ‒ Chamo o seu nome com os dentes cerrados para não gritar de dor.

Meu corpo estremece sobre o chão úmido, não consigo fazer força para me agarrar em algo e levantar outra vez, a água continua caindo sem parar, abafando o barulho dos meus soluços. Chamo o nome dela mais alto, repetidas vezes, até minha garganta doer.

Minha visão fica turva por um momento e começo a ver o gotejar de uma água suja pingando na minha frente, sinto o meu corpo curvado como se estivesse sentada dentro de um buraco úmido. Logo em seguida consigo avistar um enorme rato entrando no mesmo lugar apertado que eu, tento correr, mas que uma mão pequena segura o meu braço com força.

— Eles vão nos achar. – Sussurra a mesma voz infantil dos meus sonhos anteriores.

Passo os braços finos entorno do meu corpo, sentindo mais medo deles do que do rato.

Ingênua [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora