Capítulo 5: Agnes

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Tíbia e Fíbula, são dois ossos da perna, e os meus se romperam, segundo o que diz a mulher que esfrega meus cabelos com tanta força que a cadeira-de-rodas se move para frente e para trás sobre o piso branco do banheiro

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Tíbia e Fíbula, são dois ossos da perna, e os meus se romperam, segundo o que diz a mulher que esfrega meus cabelos com tanta força que a cadeira-de-rodas se move para frente e para trás sobre o piso branco do banheiro.

Não queria ficar nua na frente dela, mas não pude fazer muita coisa quando ela e uma outra me tiraram da cama e removeram aquela camisola verde folgada. Enfiaram o meu braço esquerdo que está imobilizado com gesso dentro de um saco e me empurraram para o banheiro tagarelando algo sobre o bebê de uma tal de Lurdes.

A sensação de vergonha é tão forte que meu corpo trava, dificultando o trabalho delas, deve ser por isso que a mais velha está tentando arrancar meus cabelos com as mãos. Fecho os olhos e cubro os seios usando o braço ''bom'', que está apenas em carne viva, mas sem nenhum machucado interno.

Pelo menos a água é bem quente e o sabonete tem um cheiro bom. Respiro aliviada quando elas terminam, mas o alivio não dura muito tempo, sou submetida a nova etapa de tortura ao começarem desembaraçar meus cabelos.

A mais magra e alta, com os cabelos loiros na altura do queixo me faz uma pergunta ao se abaixar para enxugar minhas pernas, e eu não escuto. É a segunda vez que elas falam comigo.

       — Oi? – Pergunto atordoada.

       — Como é acordar sem memória? – Ela pergunta de novo me encarando parecendo ansiosa. — Tipo, você não se lembra de nadinha da sua vida?

Desde que percebi estar faltando algo na minha cabeça, e senti aquela escuridão sufocante me engolir, não tentei checar outra vez as coisas de que me lembro. O médico pediu para eu não me esforçar demais, pois ainda posso estar sentindo os efeitos da anestesia pelo meu corpo, e segui seu conselho. Acima de tudo, porque me dá medo pensar que posso buscar algo em minha mente e continuar sem encontrar nada além daquele vazio.

        — Não, eu não me lembro. – Respondo vagamente enquanto minha visão fica turva brevemente, pisco algumas vezes para recuperá-la.

       — Ah, tadinha! – Ela aperta meu joelho direito levemente, dando-me algum consolo. — Não se preocupe, tenho certeza de que a senhora Salles irá pagar um ótimo terapeuta e logo você irá se lembrar de tudo. – Com cuidado ela remove o saco transparente que cobre o geso.

      — Aquela mulher é um anjo. – Diz a outra atrás de mim ainda puxando meus cabelos. — Você viu a última campanha dela para arrecadação de alimentos? Passou até no jornal, foram toneladas doadas.

       — Sim, e pelo visto todos eles são boas pessoa, até o jogador bonitão.− Ela diz indo até a prateleira onde pega uma outra camisola larga como a que eu estava usando. — Achava que ele era arrogante como todos esses famosos. Mas parece que ele não quer que ninguém saiba da ajuda que ele tá dando para a menina.

      — Bonito e bonzinho, queria eu que ele me salvasse. – A velha ri por fim soltando meus cabelos que caem escorridos sobre os ombros até cobrirem os meus seios. — Prontinho. Quando for tomar banho em casa peça ajuda de alguém, você não pode fazer movimentos bruscos.

Ingênua [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora