9| Yabel

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 Caminhando devagar, eu ia até o colégio, no celular tocava “Demons” da banda Imagine Dragons, eu deixava o ritmo da música fluir em minha mente, causando uma sensação de conforto exorbitante

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Caminhando devagar, eu ia até o colégio, no celular tocava “Demons” da banda Imagine Dragons, eu deixava o ritmo da música fluir em minha mente, causando uma sensação de conforto exorbitante. Não estava com pressa de chegar ao colégio, nada de interessante acontecia naquele lugar, e eu não entendia como diversas pessoas gostavam de estar naquele lugar.

Ao chegar ao colégio, fui recebido por um sorriso sincero do porteiro e caminhei até a minha sala. Chegando nela, apenas cumprimentei o professor de geografia com um “bom dia” e me desloquei até a carteira, tirei meu material e comecei a copiar os longos textos que o professor passava no quadro.

Após as três primeiras aulas, estava no intervalo sentado em uma das cadeiras que tem no pátio jogando em meu celular, achei estranho Isabella não ter aparecido no colégio, mas ao mesmo tempo me sentia aliviado por também não ter visto Henry, torcendo para que ele tivesse faltado.

De repente vozes invadem minha cabeça, eram os demônios com quem eu não falava já fazia muito tempo. Um deles indagou:

— Tá com saudades da amiguinha?

— O quê? Sim, quer dizer, não! Sei lá! — respondi gaguejando.

— Ele esqueceu da gente. — um outro demônio disse de forma melancólica.

— Esse moleque é arrogante. — disse outro demônio furioso.

— Espera um pouco! — falei interrompendo todos eles. — Vocês não estão com ciúmes só porque eu achei outra pessoa pra conversar, né? — inquiri.

— Estamos! — um dos demônios falou com frieza.

— Eu não estou, acho fofo vocês, por que não pede ela em namoro, Yabel? — o mais engraçadinho do grupo de demônios disse.

— Que namoro , você tá maluco? Vocês me conhecem melhor do que eu mesmo e sabem que eu não sou capaz de amar ninguém, eu não amo e nunca vou amar! — respondi impressionado com o que eu tinha acabado de escutar.

— Relaxa bobão, é brincadeirinha! — o demônio engraçadinho disse.

— Caralho, por que vocês não me deixam em paz? — Gritei enraivecido, fechando meus olhos o mais forte que eu podia, quando abri eles a escuridão foi lentamente desaparecendo do meu campo de visão, consegui ver diversas pessoas me olhando e criticando minha atitude.

Naquele momento a vergonha tomou conta de mim, meu rosto começou a ficar avermelhado e a única ação que tive foi sair de lá e correr até o banheiro o mais rápido que eu podia, desviando de todos os alunos que apareciam em minha frente.

Chegando ao banheiro, respirei fundo e comecei a lavar meu rosto, tentando me acalmar ao máximo. Às vezes eu odiava minha descendência, odiava o fato de falar com demônios, e odiava o fato da minha existência.

Talvez as pessoas se afastam de mim por causa disso, por acharem que eu sou um
louco. Eu só queria ter uma vida normal, como todo ser humano tem, ser fruto de pais normais, não ter nenhum poder, essas coisas que todo mundo tem.

Naquele momento o que eu mais sentia era ódio de mim mesmo, por que Deus não tirou a minha vida ao invés de me entregar a outra família. Por quê?

Eu precisava esfriar minha cabeça, mas em um lugar silêncioso, sem gritos, risadas e falas vindas por todos os cantos. Pensei em ir para a biblioteca do colégio, porém não seria tão silêncioso, daria pra ouvir as vozes de todos mesmo estando lá. Olhei para meu celular e ainda faltavam trinta minutos para o intervalo acabar, era tempo suficiente pra eu escapar e ir à um lugar mais tranquilo.

Sem pensar duas vezes, fui até a área menos movimentada do colégio, que ficava atrás do ginásio e me concentrei ao máximo e pensei no que queria me transformar: um falcão peregrino. Uma ave de rapina que, além de bela, é um dos animais mais rápidos do reino animal, podendo alcançar 80 km/h em questão de instantes.

Comecei a sentir as trevas frias envolverem meu corpo e em questão de segundos eu me transformei na ave e sai voando o mais rápido que eu podia, rumo ao lugar mais tranquilo que eu conhecia: o Raccon Park. Esse, sem dúvidas, era um lugar ótimo para me tranquilizar.

Pousei perfeitamente no chão — que era muito raro pois sou péssimo em pousos quando me transformo em aves — e voltei a minha forma normal, comecei a chorar incontrolávelmente no meio daquele gramado.

Eu sentia vergonha, como jamais senti em toda a minha vida. Após alguns minutos, as lágrimas cessaram, e forcei minha recomposição, estava mais calmo. De certa forma, chorar me fez bem, minha mente já estava leve novamente e voltei novamente ao colégio, obviamente voando.

Chegando no colégio o sinal de término do intervalo já estava tocando, as pessoas continuavam me olhando de forma estranha, confesso que me importava. Mas decidi ignorar. Era algo que eu estava acostumado a presenciar todos os dias.

Voltei para a sala de aula, e fiquei rabiscando em meu cadernos. Desenhei as visões que tive enquanto voava, o mundo é muito mais belo, visto de cima. Desenhar as paisagens que eu contemplei me tranquilizou mais ainda e me fez esquecer totalmente o que tinha ocorrido.

 Desenhar as paisagens que eu contemplei me tranquilizou mais ainda e me fez esquecer totalmente o que tinha ocorrido

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