Frutos do Pecado [COMPLETA]

5| Yabel

Naquela noite, não consegui dormir novamente, aqueles pensamentos oscilavam na minha mente tirando meu sono, só conseguia pensar e me questionar sobre tudo que “eles” haviam dito, principalmente sobre ter uma família.

Fiquei pensando tanto nisso que mal percebi o tempo passar, até que comecei a ouvir a movimentação dos carros nas ruas aumentar e os pássaros cantarem com mais frequência. Já eram seis horas da manhã e meus pais estavam acordados, arrumando a casa. Com intuito de evitar brigas, resolvi me levantar e ajudá-los nas tarefas.

Após tê-los ajudado comecei a tomar meu café da manhã, o que mais amo fazer é pão com queijo e presunto torrado na sanduicheira, eu amo comer isso.

Após terminar de me alimentar, minha mãe se dirigiu até mim e disse:

— Yabel, eu e seu pai vamos mais cedo hoje para o trabalho, nós dois temos uma reunião, mas não se preocupe porque logo estaremos de volta! — disse ela com um sorriso simpático estampado no rosto e me dando um beijo em meus cabelos.

— Tudo bem, mãe, pode ficar tranquila! — respondi.

E assim que a porta de casa foi fechada, terminei de fazer a limpeza da casa e resolvi tirar o resto do dia para esfriar minha cabeça, aqueles pensamentos não paravam de me perturbar

Peguei minha bicicleta e pedalei vagarosamente até o Raccoon Park, um parque gigantesco e belo que fica bem próximo a minha casa, é como se fosse o Central Park dos Estados Unidos, porém em Brighton.

Todas as pessoas da cidade vão até ele no final de semana para se divertirem, alguns fazem caminhadas ou corridas, muitos casais vão para fazer piquenique, algumas pessoas desenham, outros fazem yoga ao ar livre e outros passeiam com seus pets. Enfim, é um lugar calmo e perfeito para tirar aqueles pensamentos perturbadores da minha mente.

No caminho até o local desejado, conectei meus fones de ouvido ao meu aparelho celular e coloquei a música "Ride" da banda Twenty One Pilots, resolvi mudar um pouco meu estilo musical e optar por algo menos agressivo.

Chegando ao parque, percebi que o local estava cheio como todo sábado, comecei a pedalar e sentir o vento bater em meu rosto, algo que me tranquilizou muito. Fiquei pedalando e desfrutando daquela sensação de paz maravilhosa. Porém, começou a me dar fome. Por sorte existem vários carrinhos de lanches ao redor do parque.

Comprei um cachorro quente e um refrigerante, andei até um dos bancos de madeira do parque e comecei a comer vorazmente meu lanche, quando uma garota, que eu nunca havia visto, sentou-se ao meu lado e disse:

— Você é Yabel, não é? O garoto que deu uma surra no Henry ontem no colégio, não é?

— Sim, por quê? — respondi com outra pergunta para aquela garota, que me deixou muito impressionado. Nenhuma garota nem sequer havia se aproximado de mim como ela.

— Eu sou nova no seu colégio, desculpa, nem me apresentei direito, meu nome é Isabella, sou nova aqui em Brighton, eu morava no Brasil, estou me acostumando com a língua de vocês ainda. — ela respondeu meio sem graça, arrumando os cabelos por trás das orelhas e olhando fixamente para o chão.

— Você é do Brasil?! — respondi espantado quase me engasgando com um pedaço de salsicha na minha boca. — Eu nunca tinha falado com uma brasileira antes, seja bem vinda a Brighton, você tá curtindo a cidade? — perguntei.

— Estou sim, essa cidade é maravilhosa, mas estou precisando de alguém que me ajude a me comunicar melhor com as pessoas daqui, você quer ser meu amigo? Me ajudar talvez, pois eu tô muito confusa, tem coisas que eu não enten...

— Mas é claro que eu te ajudo, garota! — respondi de forma entusiasmada, impedindo que ela terminasse a frase. A garota riu delicadamente. — Isabella, você acha que sou estranho? — questionei.

— Eu te acho normal, como todos os garotos daqui. — ela respondeu de forma simpática.

— Finalmente achei alguém que não me acha estranho nesta cidade! — respirei aliviado.

— Eu preciso ir, desculpa, já está no meu horário de voltar pra casa. A família que está cuidando de mim é bem rígida com horários. — ela explicou enquanto levantava do banco.

— Tudo bem, eu também preciso ir. — Respirei fundo me levantando também. — Ah, só uma coisinha, tenta ficar longe do Henry, aquele cara é mulherengo.

— Tudo bem, não tenho interesse nenhum nele — ela me respondeu lançando um sorriso delicado.

Depois daquela longa conversa que eu havia presenciado, voltei para a minha casa. Uma felicidade exorbitante transbordava em meu peito, finalmente consegui socializar e fazer amizade.

Aquilo me fez tão bem, entretanto eu sabia que nossa amizade não iria durar tanto tempo, pois em questão de dias eu seria transferido de colégio. Isso me causou uma tristeza incalculável, mas mesmo assim resolvi desafiar minha mente e fazer amizades, eu precisava daquilo, precisava de alguém com quem eu pudesse conversar, sem ser um demônio.