1 - Adeus Alexandra.

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Dulce Maria

Acordei e o dia estava cinza, não que isso mudasse algo pra mim, afinal desde esse maldito acidente todo dia era cinza pra mim e falando assim até parece tristeza genuína né? Mas eu simplesmente não imaginei que existia uma maneira de eles me prenderem mais ainda sem estarem se quer conscientes. Hoje era o enterro de Alexandra, eu acordara com a incumbência de mostrar toda a minha dor e sofrimento por sua morte.

Estávamos a 2 semanas nessa, ela internada em estado grave, depois de caírem ela e meu pai, com o helicóptero da empresa. Eu estava trabalhando, como se nada houvesse, porque além de não saber direito como lidar com essa situação, não conseguia sentir tristeza nenhuma, afinal meu pai já havia acordado mas se encontrava em terapia intensiva. A 2 dias Alexandra morreu e eu ainda não sentia nada. Hoje era seu enterro e eu como o rosto da família, precisava prestar minhas condolências impecavelmente.

Nossa empresa era uma empresa tradicional da cidade, que expandiu tornando meu pai e Alexandra seres muito ricos. No entanto, exatamente pela tradição, muitos de nossos acionistas e o conselho da empresa, estavam a me observar de muito perto, aparentemente eu era herdeira única de um império.

Me troquei e eu tive que fazer uma pesquisa rápida no Google, não fazia a menor ideia de como deveria me portar, me vestir e as normais de etiqueta que Alexandra gostaria que eu seguisse se a mesma, tivesse organizado tudo isso. O fator é que eu não me importava, nunca precisei me importar de verdade.

Terminei os últimos retoques, colocando saltos Jimmy Choo pretos e pegando minha Reissue da Chanel também preta, em seguida caminhei para o carro. O caminho foi pacificamente silencioso, e por um momento eu até me esqueci para o que eu estava indo, comecei a pensar sobre o quão ridículo era o fato de eu ter que pesquisar pela roupa que não ofenderia as pessoas, enquanto eu caminhava para o velório da minha suposta mãe, que era supostamente perfeita também. Eu me perguntava porque continuar ali, se meu pai não poderia me prender mais e Alexandra estava morta.

Fui acordada do meu devaneio com a parada do carro em frente à única capela da cidade. Coloquei meus óculos escuros, não queria julgamentos por não ter derramado uma lágrima se quer pela morte de Alexandra. Caminhei sozinha para dentro, era a primeira vez em 29 anos que eu fazia algo realmente sozinha. Eu estava APAVORADA.

Cumprimentei os integrantes do conselho da empresa e suas famílias, como uma boa puxa-saco, por que aparentemente agora era a minha função na terra. Me sentei no primeiro banco, que fora previamente reservado a mim, a cerimônia começou depois de 5 segundos minha mente já estava voando pra um lugar não muito distante, o testamento. Era a única coisa que ainda me prendia ali, talvez eu pudesse apenas sumir depois da leitura, sinceramente era tudo que eu queria.

Fui novamente trazida a vida real com Roberto a pigarrear atrás de mim em seu acento, olhei para ele que me cumprimentou, ele era o advogado de confiança de Alexandra, retribui a gentileza e percebi que a cerimônia já havia se encerrado e agora caminharíamos para o enterro. Quando chegamos lá, me dediquei a olhar em volta uma vez que minha mente não conseguia se fixar em nada sobre o ritual social que estava se passando, percorri meus olhos sem interesse quando o vi. Olhei mais atentamente pra me certificar de que era ele mesmo, e logo Alex chefe da segurança estava encostado em mim me perguntando se Christopher deveria ser retirado dali, então eu tive certeza de que ele estava de volta.

Não permiti que ele fosse retirado, se alguém tinha o direito real de estar aqui pra se despedir, esse alguém com certeza era ele o filho dela. Christopher vestia uma calça jeans rasgada, tênis e uma blusa branca, meu Deus ele tinha o que dobrado de tamanho agora? Talvez seja só que eu não o vejo a muito tempo.. pensei, ele continuou a me olhar profunda e descaradamente, colocou uma rosa amarela no caixão e antes mesmo de a cerimônia acabar, saiu sem fazer alarde.

Voltamos para casa, onde haveria uma recepção, minha cabeça doía, só o que eu queria era aproveitar minha solidão. Fui a cozinha e me deparei com Christopher e Rodrigo aparentemente esperando por algo. Fiz minha melhor pose de quem sabe o que fazer quando está no controle e perguntei:

- Posso ajudar senhores? - Eles me olharam imediatamente, Christopher parece tenso quando me viu adotou uma postura que eu não conseguia ler direito.

Rodrigo foi o primeiro a responder

- Estávamos te aguardando senhorita, Julia acabou de sair daqui afim de te chamar - Rodrigo disse em um tom levemente apreensivo.

- Sem essa de senhorita Rodrigo, você me viu crescer! - disse amenizando seu nervosismo. Ele sorrio de lado e assentiu. Eu então segui perguntando...

- O que ele faz aqui? - apontando para Christopher com se de fato ele não estivesse lá.

Desde tudo que aconteceu entre nós, eu tinha muita dificuldade em seque pensar na presença dele no meu passado, que dirá lidar com a presença real dele na minha frente agora.

Christopher me encarou tão enraivecido com a minha postura que eu podia sentir a lateral do meu rosto queimar. Rodrigo quebrou a tensão respondendo de pronto.

- Ele faz parte do testamento e dos últimos desejos de Alexandra. - eu assenti e logo Rodrigo perguntou se poderia ir ao escritório para realizar a leitura. Eu assenti prontamente e logo estávamos no escritório.
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