Perguntas

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ANOS DEPOIS
Stuttgart
meados de 2003

John viu futuro para o menino no futebol e decidiu levá-lo para um time da própria cidade no ano anterior. O desempenho dele foi bom e Timo se transferiu para o VfB Stuttgart ainda em 2002, onde começou as categorias de base.

Werner chegou aos sete anos de idade. O relacionamento com os pais adotivos era o melhor possível e ele não se perguntava muito sobre o passado. Porém, no início de 2003, a neve atingiu em cheio o país. O menino ficou em casa a maior parte do tempo, sem aulas e sem jogos.

E com tanto tempo para refletir ele acabou pensando no próprio nome. Na própria origem. Em tudo. Então decidiu falar com os pais. John estava na cozinha cortando carne para o jantar e foi para a sala. Evelyn saiu do computador e reuniu-se aos dois, curiosa.

— Quero fazer algumas perguntas... — Timo anunciou.

— Tudo bem. Pode falar — John secou as mãos em um pano e sentou-se no sofá ao lado da esposa.

— Por que o meu sobrenome é Werner?

Os pais engoliram em seco. Eles se entreolharam e deram de ombros.

— Filho, tem algumas coisas que nós não podemos te explicar agora. É para o seu próprio bem.

— Eu só queria entender por que os meus amigos no time e na escola possuem os mesmos sobrenomes dos pais... — Timo olhou para o chão, como se medisse as palavras.

— Nós vamos explicar tudo daqui algum tempo. Por favor, filho... seja paciente. Nós sabemos que você está curioso e que vê algo diferente, mas acredite em nós... é para a sua segurança.

— Tudo bem. Eu amo vocês.

Timo os abraçou como se fosse um adulto e abriu um sorriso antes de voltar para o quarto sem fazer mais nenhuma pergunta.

— Ele já deve saber — John mordeu os lábios.

— Talvez suspeite, mas se realmente soubesse não teria agido dessa forma.

— A partir de agora começa a contar o prazo até o dia em que ele saberá de tudo. Será inevitável. Pior seria se ele descobrisse sozinho.

— Fique tranquilo, John. Você mesmo me diz que devemos ser pacientes...

— Só tenho medo de que ele sinta raiva de nós por conta disso.

— Você o ouviu dizer que nos ama? Não se preocupe, meu amor.

Ele concordou e voltou a preparar o jantar. Evelyn foi ao quarto de Timo.

— Quer ver um filme comigo e com o seu pai depois do jantar?

— Não...

— Você está bem? — ela olhou para o menino por cima dos óculos de leitura.

— Estou. Só queria voltar a treinar.

— Logo a neve vai embora. Quando isso acontecer eu quero acompanhar algum dos seus treinos. O que acha?

— Sério? — Timo se animou.

— Sim! Já faz algum tempo que não vou... depois vou te levar a uma loja para comprarmos um novo par de chuteiras. Você está crescendo muito rápido.

As incertezas tomaram conta do menino nos dias em que ficou em casa praticamente confinado por conta da neve. Porém, depois da conversa, Werner sorriu e se animou. Àquela altura, já não se importava mais com as respostas que procurou e sim com o quanto era amado pelos pais. No fim, apesar dos momentos em que tinha dúvidas, Timo não ligava muito por não parecer quase nada com John e Evelyn ou por sequer ter o sobrenome deles. 

My Brother | Kai Havertz & Timo WernerOnde histórias criam vida. Descubra agora