Encontro

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Leverkusen
2016

Kai Havertz. O nome do jovem que foi promovido ao time profissional do Bayer Leverkusen estampava os jornais de Aachen e Leverkusen. Ele saiu da cidade natal em 2010 para continuar jogando em outro time mais estruturado.

Fora de casa, o garoto passou por surtos de crescimento. O clube entendeu as alterações temporárias na fisiologia de Havertz e cuidou dele com uma alimentação diferente dos demais. Porém as dores que ele sentia o deixavam muito mal nas noites de frio mais intenso. Os períodos de crescimento causaram alterações no humor e no desempenho em campo, fazendo com que a comissão técnica o liberasse das atividades de tempo em tempo até que se sentisse apto novamente.

Quando ele precisava se afastar dos treinos sentia-se levemente inseguro com o futuro no futebol. Por vezes achou que as dores seriam definitivas. Como alguns remédios para atenuar as sensações das mudanças no corpo entravam na lista de doping, Kai teve que evitar certas medicações — prolongando o sofrimento. Os médicos do clube chegaram a dizer que sentir dor seria um pouco melhor do que ser suspenso de fato dos campeonatos.

Mas a fase complicada e desconfortável passou. Ele chegou a quase um metro e noventa de altura. Magro, mas não fraco. Era forte. O clube deu toda a atenção necessária no processo, fazendo com que se sentisse mais tranquilo. Os exames feitos mostraram que estava tudo bem.

O ano de 2016 chegou. Com ele, a quase certeza de que ele seria promovido à equipe profissional no início da temporada. A transição feita na época chocou-se diretamente com os cronogramas da escola. Kai chegou a perder algumas partidas e treinos por conta dos compromissos com os estudos. Ele, a família e o time estavam bem alinhados: a prioridade também era a formatura com um desempenho aceitável.

Isso significou que todo momento de descanso teve que ser focado na escola. Porém, mesmo com toda a dedicação, ele aguentou. A distância entre Leverkusen e Aachen o colocava próximo dos pais sempre que era necessário, possibilitando que Anthony e Maria acompanhassem e apoiassem os primeiros passos do filho no time profissional. A viagem de carro chegava a durar menos de uma hora.

Kai se saiu bem no início. Quebrou alguns recordes: tornou-se o mais jovem atleta do Leverkusen a entrar em campo pela primeira vez e foi o mais jovem artilheiro do clube na Bundesliga, com apenas 17 anos. Outros recordes foram quebrados nos meses seguintes.

Em novembro de 2016, o Bayer Leverkusen enfrentou o RB Leipzig em casa. Foi a primeira vez em que Kai e Timo se encontraram. Antes do jogo, os dois ficaram próximos um do outro na zona mista. Timo foi titular e Kai entrou nos minutos finais da partida, logo após o terceiro gol do Leipzig.

Havertz entrou em campo mais para esfriar o jogo do que efetivamente ajudar, pois já não havia muito tempo para mudar o resultado. Werner o derrubou em um contra-ataque desastroso na tentativa do quarto gol dos visitantes.

O árbitro parou o jogo e marcou falta. Timo reconheceu que a entrada foi dura a ponto de receber cartão por aquilo e estendeu a mão para que Kai pudesse se levantar.

— Me desculpe — o mais velho balançou a cabeça. — Eu fui desastrado.

— Tudo bem, cara! — Kai riu. — Eu estava bem na sua frente.

Depois do jogo, Werner fitou os olhos de Havertz para tirar uma dúvida. Quando os jogadores do Leipzig já estavam quase indo embora, Timo passou por cima da fita de isolamento da zona mista e foi até a porta do vestiário do Leverkusen. Ele deu sorte, pois Kai saiu segundos depois.

— Veio se desculpar novamente? — ele foi até Werner e riu.

— Não... é que tem algo me intrigando muito desde que eu te derrubei no chão.

My Brother | Kai Havertz & Timo WernerOnde histórias criam vida. Descubra agora