Capítulo 5

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Se eu pudesse descrever a felicidade, seria assim.
Da cor desses olhos, misteriosos, sonhadores e meus, tão meus.
Quando eu era pequenina, costumava sentar-me com o meu avô no jardim de casa dele, na aldeia.
Ele tinha os olhos cinzentos também.
Uma vez, estava curiosa porque os olhos dele não tinham nenhuma cor.
"Os olhos cinzentos, existem para que quem os ame, os pinte da cor que quiser."
Ele dizia-me isto sempre que me via perdida na cor cinzenta.
Depois do meu avô falecer, o Castiel foi a única pessoa que conheci com os olhos exatamente da mesma cor.
De que cor é que eu os pinto?
Qual será a cor do amor?
Avô, se estivesses aqui, conseguias me responder?
O meu transe é cortado, assim que ouço a voz doce e quente dele, soar pelo microfone.
Sinto que eles estão a falar para mim, mas eu não consigo mesmo, sequer, esboçar alguma palavra.
Assim que ele começa a cantar, ganho anos de vida.
Os meus olhos, parecem que estão a ver melhor.
O meu coração, está a bater melhor.
Eu toda, estou melhor.
Ele está igual, apenas com as expressões mais velhas. As tatuagens que percorrem os braços dele, completam a sua atitude livre e espontânea.
O cabelo dele está maior, porém amarrado, o que lhe dá um ar sexy e rebelde, se é que poderia ficar mais.
Não consigo ouvir a música, mas consigo ler perfeitamente o que os lábios carnudos e rosados dele estão a projetar.
Estou num transe, isto, até os olhos dele cruzarem os meus.
Sei que ele me viu, por momentos, hesitou continuar a cantar. Está em choque, nota-se pela cara dele.
Os olhos dele, a encarar os meus, a lerem-me até a alma, a medir os meus pecados e a julgar o meu amor por ele.

"Allayah, estás bem?" A Rosa sussurra ao meu ouvido baixinho. Com a mão no meu ombro. Não falei, apenas abanei com a cabeça. Tenho a sensação de que não ia conseguir falar mesmo que tentasse.

"Sabias que era hoje o show dele, certo?" Ela volta a perguntar.
Claro que não sabia. Se soubesse não tinha vindo. Ou tinha?

"N-não." Digo quase sem força nenhuma na voz.

"Lamento, não te teria trazido aqui se soubesse. Queres ir embora? Eu falo com eles e vamos a outro lado." Imediatamente abano com a cabeça em negação. Não quero ir a lado nenhum. Eu quero estar aqui, perto dele.

"Não, eu... eu estou bem." Respiro fundo. Tenho de me recompor. Vim para festejar o meu emprego e para estar com os meus amigos. Ele viu-me, sabe que estou aqui. Provavelmente, vai ignorar e continuar com a vida dele, então não vale a pena ficar assim.

"Allayah, pensei que sabias que era o show dele. Tínhamos combinado." A Melody diz. Claro que ela tem de falar em momentos inoportunos.

"Eu realmente pensei que hoje era Sexta-Feira. Varias pessoas comentaram comigo que era Sábado e eu nem prestei atenção." Admito. Provavelmente, o sonho atordoou-me tanto que confundi o dia.

"Talvez isso seja o seu Karma." A Chani diz. Essa menina é demais.

"O meu Karma?" Franzo a sobrancelha.

"Sim. Esta foi a forma do destino vos fazer reencontrar. Porque raio haverias de achar que era Sexta-Feira, sendo que todos os sinais te dizem que é Sábado? Isto foi o teu destino, a trazer-te para aqui." Ela diz. Todos na mesa estão atentos e interessados. Todos menos eu, só me consigo concentrar na voz do Castiel. Doce, quente, a ecoar pelo bar.

"Surpreendentemente, isso faz muito sentido." Ouço o Alexy dizer.

Não demora muito até que a música acaba e todos aplaudem, os meus amigos também. Eu fico indecisa se aplaudo ou não, então limito-me a fazer um gesto qualquer com as mãos, que nem eu sei.

"Foi um prazer estar aqui esta noite com vocês. Estar de volta a casa, depois de uma turnê, é uma sensação única. E tudo graças a vocês." O Castiel fala no microfone. Incrível como ele não tem vergonha do palco. Pelo contrário, realça a atitude dele, combina tanto.

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