Capítulo 78

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"Podemos falar disso noutro lugar? Estamos em frente ao prédio dele." Reclamo, afastando o meu braço dele.
Começo a caminhar, tentando me distanciar o máximo possível, enquanto ele vem atrás de mim.

"Allayah! Você tem noção do que acabou de fazer, foda-se?" Ele grita. Fecho os olhos e tento caminhar mais depressa. Tenho medo dessa conversa.

"Allayah!" Ele grita de novo.

"O que é?" Estalo. Paro no meio da rua, me virando para ele. Quase chocamos, por eu ter parado de repente.

"O que é?! Você está brincando comigo?" Nunca imaginei que teria o rosto dele assim tão perto do meu e não o ia querer beijar. Dessa vez, só quero gritar com ele. Mesmo sabendo, que em certa parte ele tem razão por estar assim.

"Não, Nathaniel. Você não pode esperar até chegarmos em um sítio seguro, caramba?" Grito. Me virando novamente, pronta para voltar a caminhar. Respiro fundo. Só mais um pouco, estou vendo a entrada de um parque lá na frente.

"Não eu não posso esperar, foda-se! O que raio foi isso?! Não era suposto conseguirmos provas?" Ele continua gritando como um doido então dou graças a Deus por já serem quase três da manhã e as ruas estarem vazias.
Ignoro, quando vejo a entrada do parque e entro nele.
Tudo parece vazio ao redor, então acabo diminuindo o passo. Ele faz o mesmo.

"O que raio aconteceu consigo? Você destruiu as nossas chances! Tem noção disso?!" Ele passa a mão no cabelo, assim que me viro para ele.
Está caminhando para lá e para cá, como um maluco em pequenos círculos.

"Desculpe." É tudo o que eu digo. Vejo ele parar.
Ao mesmo tempo, o meu coração também faz isso.
O olhar dele fixa no meu, como se estivesse tentando ler todos os meus pensamentos, como só ele consegue fazer.
Em toda a minha vida, sempre me senti incompreendida, menos com ele.
Ele sempre foi a única pessoa nesse mundo que me
conhece até mesmo melhor do que eu.

"Porque fez isso?" Ele suspira.

"Eu... Não sei. Você ouviu tudo o que ele disse, então pode perceber que ele é apenas um garoto que escolheu o caminho errado." Estou exausta. É bastante tarde, tenho a impressão de ter levado com um carro em cima de tão dorida que estou e agora ainda tenho de ter uma discussão com ele.

"Ele não é apenas um garoto, foda-se! Ele é um adulto muito consciente das escolhas dele. Se ele está fazendo isso é porque ele quer! Como pode ser tão ingénua? Até quando você vai tentar ver sempre o melhor das pessoas?" O meu sangue começa a ferver, mal essas palavras saem da boca dele.

"É tão ridículo, Nathaniel." Estalo.
Ele arregala os olhos, confuso.

"Ridículo?" Vejo ele franzir a sobrancelhas e isso me dá nostalgia.

"É. Se eu não tivesse visto o melhor em si, se eu não tivesse acreditado até ao final, sabe onde estaríamos agora?! Provavelmente, estaria te visitando na prisão, porra!" Grito.
Ele engole em seco, posso perceber. Quer falar, mas nenhum barulho sai dos lábios dele.

"Eu fiz aquilo que fiz, por ele ser igual a si, tão igual que chega a ser ridículo! Você também é adulto e cometeu todas as escolhas erradas, mas teve alguém que acreditou que ainda havia bondade aí dentro! Ele merece o mesmo, Nathaniel! Você sabe perfeitamente disso, apenas está demasiado chateado para me dar razão." Suspiro. Vejo uma árvore atrás de mim e me apoio nela. Estou exausta.

"Isso custou-nos muito caro, sabe? Sem esse garoto na prisão, vai demorar ainda mais para eu conseguir a merda da gravação." Os olhos dele estão postos no chão, perdidos por completo.
Parte o meu coração vê-lo dessa forma. Eu sabia que ia ser assim, eu também me sinto assim. Completamente despedaçada por dentro.

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