Capítulo 70

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"Armin, eu juro por Deus, se você não sair desse banheiro nos próximos dois minutos, será um homem morto!" Já perdi a conta das vezes que luto com o Armin pelo banheiro, logo de manhã cedo. Faz cinco meses, que estamos em Paris e o ele está aqui nos últimos dois. Claro que não me importo, a Chani está feliz com isso e o Armin é dos meus melhores amigos, mas é demasiado irritante viver com um garoto.

"Qual é a pressa? É Sábado, Allayah! Você nem sequer tem estágio hoje." Ele grita, do lado de dentro do banheiro.

"Não é o estágio, seu idiota. Faço o turno da manhã no café." O quão irónico é, trabalhar noutro café aqui em Paris? Sabia que queria um dinheiro extra, assim posso me dar ao luxo de comprar algumas roupas melhores e sair mais vezes depois do estágio, além de que estou poupando algum para um carro, depois da faculdade. Ao contrário do Cosy Bear, a minha chefe é bastante simpática e até já aumentou o meu salário, então estou a adorar.

"Pronto, princesinha. O banheiro é todo o seu." Diz, com um ar provocador, enquanto sai do banheiro. Limito-me a colocar a língua de fora para ele, enquanto vou direta para o duche.

Estes meses têm sido uma aventura, uma vida diferente da que tinha lá. Tudo isto é incrível: Acordo com vista para a Torre Eiffel todas as manhãs, trabalho num dos melhores museus do mundo, estou dividindo a casa com a minha melhor amiga e nunca na vida tive tanto dinheiro. Mas, não consigo evitar em me sentir... Vazia.

Por mais triste que pareça, eu e o Nathaniel nunca mais falamos, desde que vim para Paris. Exceto uma vez, quando a Rosa, o Alexy e a Priya me vieram visitar, fomos a um bar aqui perto de casa e bebi demais... Acabei por lhe ligar às duas da manhã e fizemos uma espécie de sexo pelo telefone, depois de termos dito que estávamos morrendo de saudades um do outro, mas já se passaram três meses depois disso. Não sei como está o progresso de deixar o cartel de droga, ou muito menos as provas para a Rosa, mas provavelmente ainda não houve progressos, caso contrário ele teria telefonado, eu espero. Algumas mensagens que troco com a Ambre são a única coisa que me impedem de ficar maluca e ir correndo de volta para a cidade, saber como ele está.

Os primeiros dois meses foram muito difíceis para mim, na realidade. Quase não conseguia comer e se não fosse entusiasmo de ir para o estágio, não me conseguiria levantar da cama. Mas, aos poucos fui recuperando a força, com muita ajuda da Chani e da magia natural de Paris, claramente.

Tudo isso tem sido perfeito, um sonho tornado realidade de tão incrível que é, mas torna-se tão triste, sem ele para poder partilhar. Sinto a falta do meu parceiro, da minha cara metade, da única pessoa que me entende, que entende a minha alma. Mas, já me acostumei com a ausência dele, em certa parte, teve que ser.

Nada mudou muito, desde então. Ah! Uma coisa mudou: pintei o meu cabelo de preto, pois é. Foi uma estúpida brincadeira numa noite em que a Yelleen e a Melody vieram cá dormir e no final, adorei como ficou! Então tenho pintado dessa cor. Já pensei em mandar uma foto ao Nathaniel, mas seria estranho, por isso acabei esquecendo a ideia.

"Podemos passar no museu depois do seu turno? Tenho de ir buscar uma papelada ao escritório e não me apetece atravessar metade da cidade sozinha." A Chani pede, enquanto me sento para tomar o café da manhã. Posso dizer que a vida em Paris combina com ela, anda sempre por aí com a sua pasta e os fones nos ouvidos, uma verdadeira estudante de arte.

"Sim, claro. Mas, o que o seu namorado vai fazer o dia todo que não a pode acompanhar?" Digo, provocando o Armin, que passa os dias dormindo e jogando.

Os dois se olham entre si, com uma expressão meia sem jeito, antes de olhar para mim.

"O que foi?" Pergunto. A Chani mexe-se desconfortavelmente na cadeira, enquanto o Armin se encosta ao balcão da cozinha.

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