Capítulo 72

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"O que raio você está falando, Nathaniel?" Tenho a impressão de que estou com tantos nervos, que pareço uma louca. Mas, realmente, não quero saber.
O que ele tem para explicar, ele vai explicar, agora mesmo.

"Alguma vez na vida, depois de tudo o que vivemos, eu ficaria tanto tempo sem falar consigo, por opção?" Mas o que ele está dizendo?

"Não estou entendendo nada, foda-se." Reclamo. Ele se aproxima um pouco mais de mim, o que me faz ficar ainda mais nervosa.

"A razão para eu estar trabalhando na polícia agora, é para conseguir ter acesso às câmaras de segurança da rua da loja do Leigh, naquela noite. É a única forma, tentei pedir para o Eric, mas ele diz que é extremamente proibido passar essa informação para alguém de fora, então tive de me tornar alguém de dentro." Oh... Antes que possa raciocinar, ele continua falando.

"Não contei nada sobre isso porque achei que apenas iria deixar você mais estressada e o processo de deixar o cartel não foi fácil, acredite. Foram noites sem dormir, várias estratégias até chegarmos ao chefe, mas finalmente conseguimos. Só faltava a gravação daquele dia e eu achei que ia ser simples, que não tarda nada podia voltar para si, mas parece que me enganei." Isso explica muita coisa... Mas, foda-se, ele podia ter me dito algo. Detesto não estar aqui para ele, para o ajudar e para o ouvir.

"Nathaniel... Você podia ter me contado essas coisas, caramba. Não gosto de sentir que não sei nada de si, que não sei o que está passando. Não gosto de sentir que não posso estar do seu lado, quando mais precisa." Suspiro. Vejo o olhar dele sobre mim, cada vez mais intenso. Esse é um daqueles momentos onde eu sei, que ele está tentando ler o meu pensamento.

"Eu sei que você não quer que eu fique mal, ou que passe pelo mesmo duas vezes. Mas, isso e algo que só eu posso resolver, então confie em mim. A razão para eu ter vindo... Eu estava sufocando com a sua falta. Então, fracassei um pouco e vim te ver." Vejo o seu rosto ficar vermelho. Já vi o Nathaniel em tantas situações, que custa acreditar que ele ainda fique envergonhado.

"Você... gosta?" Pergunto. A expressão dele fica confusa.

"Do quê?" Franze as sobrancelhas.

"De ser policial..." Um sorriso tímido aparece no rosto dele. Um sorriso que há muito tempo já não via... Visto daqui, a minha mente me relembra da conversa que tive com a mãe dele há uns tempos. O Nathaniel sempre foi um garoto que apenas queria a aprovação dos seus pais e por isso se perdeu dele próprio. Ele nunca pediu excelentes notas, ou uma grande carreira. Ele só queria ser reconhecido.

"Deus, tenho morrido para falar disso com você." Ele solta uma risada fraca, que me faz sorrir, inconsciente.

"Ao início, achei uma palhaçada. Só estava fazendo isso por causa da merda da gravação e estava me sujeitando a treinos físicos bastante puxados, noites em branco aprendendo as leis, como trabalhar com o equipamento... Tudo isso parecia ridículo." Uma vez, numa aula de psicologia na minha antiga faculdade, falamos de um estudo que comprova que as pessoas com inteligência acima da média, não são capazes de desfrutar da vida com a mesma paixão que os outros. Muitas vezes senti isso nele, a forma como ele vê a vida, não permite que a aproveite na maioria das vezes.

"Até que uma noite, em especial, tivemos de sair em emergência resolver um caso. Era sobre um cara que tinha roubado um banco e desapareceu sem deixar rastro. Foi aí, quando cheguei ao banco e vi tantas provas, provas que mais ninguém parecia conseguir ver..." O olhar dele é carregado de adrenalina, posso sentir o corpo dele vibrar, só de falar da sensação...

"Pela primeira vez, senti que pertencia em algum lugar. Ficou tudo tão claro para mim, quando reparei, já não queria fazer outra coisa. O Eric reparou no meu potencial e exigiu que me formasse mais cedo. Então, foi assim que começou." Durante muito tempo, perguntei a mim mesma, se seria capaz de estar com alguém, que não tinha paixão por nada, a não ser por mim. Claro que o amor que tenho por ele, era o suficiente para me fazer aceitar isso. Agora, vejo que não tenho que me preocupar com isso. O jeito que eu o estou vendo agora, foi como eu nunca o vi: feliz, entusiasmado e ... intrigado. Ele sempre foi uma pessoa que sempre esperava tudo de todos. Nunca se surpreendia com nada, exceto agora.

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