Capítulo 31

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"Não acredito que fizemos realmente isso!" Quase grito assim que entramos no carro. Estou demasiado feliz, viva e excitada. Os meus dedos brincam com cuidado com o meu novo piercing. O Nath solta uma risada e os meus olhos brilham, quando percebo que é visível o seu piercing quando ele se ri dessa forma.

"Nem eu, foda-se. Tenho um caralho de um metal na língua." Ambos rimos. Parece que estou bêbeda, mas não estou. É apenas, extrema felicidade e adrenalina.

"Nunca imaginei que você fosse mesmo fazer isso, pensei que estava brincando." Digo.

"É esse o efeito que tem em mim... Eu faço coisas que nunca pensei fazer, se isso significar esse sorriso que você tem agora." Ainda é um pouco estranho para mim, ter esse tipo de carinho da parte dele. Ele é alguém que conheci a vida toda, que sempre tive uma ligação forte, mas só agora o consigo ver. Só agora me dei uma chance de o ver. Esses dois dias que passámos juntos, parecem meses. É surreal a maneira como ele me faz sentir.
A mão dele faz carinhos na minha coxa, enquanto dirige de volta para a cidade. Dou uma pequena vista de olhos no meu celular. Já são onze da noite e eu novamente me esqueci de ligar aos meus pais.

"Como conhece esse sítio? Parece ser bem... pesado." Digo. Se não posso saber tudo sobre o que ele anda escondendo, então ao menos algumas pequenas partes devem me tranquilizar.

"Houve uns tempos em que costumava vir aqui todos os dias. Foi aqui que fiz os meus brincos na orelha." Não consigo imaginá-lo a frequentar esse lugar. Por mais que ele tenha mudado, isso é um lugar com demasiado mau ambiente.

"Então, você a conhece daqui?" Pergunto, referindo-me à Stacy. Não gostei do olhar que ela deu a ele, mesmo que ela seja mais velha, senti maldade.

"Bom, mais ao menos." Franzo a sobrancelha.

"Como assim, mais ao menos?" Tenho a impressão de não estar preparada para o que vem aí.

"Eu..." Ele não termina a frase. Sinto um nervosismo vindo dele, principalmente quando leva a mão ao cabelo.

"Deixe-me adivinhar. Mais um segredo?" Estalo. Não quero sentir que não sei nada dele. Eu o conheço, conheço a sua alma. Mas, até que ponto, é que posso manter algo assim, se não sei nada?

Ele encosta numa rua vazia e tira o cinto, virando-se para mim. Fico apreensiva durante uns segundos, mas acabo fazendo o mesmo.
Ele solta um longo suspiro antes de começar a falar.

"Há dois anos atrás, eu briguei feio com o meu pai." A voz rouca dele está ainda mais grossa do que o costume. Eu tenho a impressão de que parte de mim não quer ouvir essa história. Não suporto ouvir que ele esteve mal e eu não estive aqui para ele.

"Eu dei um soco nele e fugi da cidade, por umas semanas, eu acho..." Lembro-me de como o pai dele o tratava na época da escola. Ele gritava, batia e o castigava. Ele era praticamente o criado deles. O meu sangue começa a ferver só de pensar nisso...

"Ao início, a minha ideia era... ir ter com você." O meu coração acelera, literalmente. Ele queria ir ter comigo?

"Comigo?"

"Sim. Eu estava desesperado, sentia que estava a cair num caralho de um poço sem fundo. E, sem perceber, só vinha você na minha mente. Eu estava louco, podia-se dizer." Esse homem... ele procurou por mim. Muito antes de eu perceber que ele podia precisar de mim, ele pensou em mim. Ele nunca deixou de pensar, mesmo quando eu estava disposta a deixar tudo isso para trás. Eu fui uma egoísta....

"P-Porque não veio?" A minha voz está a falhar. Não consigo evitar em sentir a tristeza dominar cada parte do meu corpo.

"Na verdade, eu já estava quase indo. A Ambre insistiu para eu não ir. Ela foi no meu apartamento no dia em que eu ia. Começou dizendo que não valia a pena, você já deveria estar seguindo a sua vida e só ia preocupar você sem necessidade..." É impossível não sentir a dor que os seus olhos e a sua voz carregam. Só de pensar, que ele vinha ter comigo, no momento de maior desespero....

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