Capítulo 54

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"Eu não fazia ideia..." Diz, ainda abalado.
Sinto que estou flutuando com isso. Com a intensidade dos meus sentimentos por ele, como eles sempre estiveram lá e eu apenas os ignorava.

"É... eu também não, acho." Claro que não sabia. Ou se sabia, nunca me permito pensar nisso.
Ele sempre esteve presente, mesmo quando tentava afastar por causa do Castiel. No fundo, sabia que haviam ali sentimentos que não podiam existir.
Um sorriso enorme cresce no seu rosto e então, ele se aproxima lentamente, depositando um beijo cheio de amor e carinho nos meus lábios.
Quero dizer algo, quero dizer que o amo.
Mas, ainda não dissemos isso um para o outro e parece ser algo tão importante. Ao mesmo tempo, parece injusto dizer isso sendo que andamos em segredo e escondidos. Somos dignos sequer desse sentimento?

"Devia colocar essa frase no trabalho. Não é sobre ser a melhor, é sobre viver a Arte." Explica. O Nathaniel leu mais livros do que aqueles que posso contar. O conhecimento dele vai muito além, mesmo assim parte de mim ainda não compreende o motivo do romance policial.

"Há algum motivo em especial para você gostar tanto de romances policiais?" Pergunto, na hora. O olhar dele se admira por uns segundos, mas logo se recompõe.

"Acho que gosto da adrenalina." Encolhe os ombros.

"Está sendo vago." Sorrio, mentalmente, por usar a frase dele contra ele mesmo. Ele faz o mesmo, quando percebe a minha intenção.

"Acho que todos os livros são fantásticos. Eles transmitem emoções, pensamentos, curiosidade e nos fazem viver vidas completamente paralelas à nossa. Mas, há sempre aquele género de livro, que se pudéssemos escolher, viveríamos nele para sempre. Uma história de adrenalina, onde a rotina nunca é a mesma, sempre coisas novas para descobrir, coisas inesperadas. Além de que, existe um romance. Um romance que é baseado na confiança, na esperança de que tudo vai correr bem." Diz tudo isto, sem retirar os olhos dos meus. Sinto que estou sem fôlego, mesmo não tendo dito uma única palavra.

"O quê? Agora não vai dizer nada?" Solta uma risada leve, retirando-me do meu transe.

"E-Eu só não esperava esse tipo de resposta..." É verdade. Ele arranja sempre formas de me surpreender.

"Tudo bem. Vamos continuar, ok?" Apenas assinto com a cabeça, ainda atordoada e consumida pela resposta dele.
Levemente, ele arrasta o computador para ele e olha para mim.

"Então, devemos inserir esse momento chave no seu texto." Concordo. Apenas observo enquanto ele começa a escrever. O meu olhar viaja para os seus dedos compridos cobertos com anéis e para o ecrã do meu computador.
Então, ele começa a escrever.

"Somos feitos de momentos. Não importa o quão insignificante ele pareça, por vezes, são esses que nos tornam que somos realmente. A Arte entrou na minha vida, inesperadamente. E, claro, também eu tive o momento em que descobri que era nisso que queria ficar, para o resto da vida. Podem pensar que o resto da vida é muito tempo, mas isso é relativo.
Quando me foquei em viver a Arte na sua mais pura forma, ao invés de me esforçar para ser a melhor nela. Foi aí que descobri, que era na Arte que eu queria viver. Não só naquele momento, mas para sempre. Seja qual for o tempo que o meu sempre dure."

Não reparo nas lágrimas dos meus olhos, até que vejo uma delas cair na mesa.
Eu sei que ele não está falando apenas da Arte, ele está falando de nós. Essa é a forma dele me dizer que me ama, sem realmente o dizer.
E as minhas lágrimas, são a minha forma de dizer que o reconheço e que o sinto também.
O dedo suave dele na minha bochecha, limpa a água que escorre nela.

"Está bom assim?" Pergunta, com a voz baixa.

"Está perfeito." Sorrio.
Só pode estar, somos nós. O nosso amor, a nossa história.

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