Capítulo 27

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"O que os seus pais pensam de ter voltado para a cidade?" Estamos sentados no sofá. O Nathaniel foi trocar de roupa, mas está sem camisa. Ele insistiu para que eu a usasse. Então, aqui estou eu, de calcinha, sutiã e a camisola preta dele, que tem o cheiro de felicidade.

"Ao início ficaram um pouco tristes com a ideia de eu ir embora. Mas, eles sabem a minha paixão pela Arte. Nada me podia parar de vir fazer o que eu quero." Ele sorri. Tudo isso, me faz lembrar de que não falei muito com os meus pais desde que voltei. Amanhã devia ligar.

"Nunca entendi. Porquê Arte?" Os meus pés estão no colo dele, enquanto ele faz leves carinhos neles com os seus dedos. Podia ficar assim para sempre.

"Simplesmente... É algo que sinto. Sinto que nasci para fazer isso. Pode parecer estranho, mas desde a época da escola, que não me imagino fazendo outra coisa." Explico. Há pessoas que passam as suas vidas tentando encontrar algo que se identifiquem. Eu não precisei procurar tanto tempo.

"Nascer para fazer algo... Acredita mesmo que existe um propósito para nós nesta vida?" Ele está pensativo. O olhar dele está pesado e... escuro.

"Acredito. Apesar de, ser ou não verdade. Mas, senão nos agarrarmos a algo para acreditar, vamos viver uma vida vazia. Não acha?" Não existe verdade absoluta nesta vida. Apenas, enquanto cá estamos, devemos certificar-nos de viver uma vida preenchida de sentimentos e algo para acreditar. Caso contrário, não passaremos de corpos sem alma a andar neste mundo.

"Nunca pensei nas coisas assim. Acho que sempre fui uma pessoa muito lógica. Provavelmente, pela quantidade ridícula de livros que já li. Mas, gostava de acreditar que o meu propósito também existe. Apenas, tenho de me encontrar com ele..." Acho que nunca consegui conversar dessa forma com ele. De uma forma tão aberta, tão genuína. Eu o conheço tanto, mas ao mesmo tempo tão pouco.

"Ou talvez já tenha encontrado." Ele termina, levantando o olhar para mim. Deixo de respirar por momentos quando os seus olhos cruzam com os meus.

"E-Eu..."

"Você ainda tem sentimentos por ele?" Entalo-me com a minha própria saliva. De todas as perguntas, esta é a que eu menos esperava. Ainda não falamos sobre isso. Sinceramente, tinha a mínima esperança de que tão cedo não falássemos. Estou tão bem com ele, que não quero estragar isso falando de algo que eu mesma não sei.

"Eu, realmente, não sei." Ele solta um suspiro.

"Quando eu cheguei aqui, nunca imaginei voltar para ele. Muito menos, estar nessa situação contigo.  Eu sei que não me sinto tão ligada a ele como me sinto a você. No entanto, ele foi o meu primeiro amor." Estou sendo o máximo sincera que eu posso. Não quero que fiquem espaços abertos entre nós. Já chega os segredos que ele guarda, não quero fazer o mesmo.
Ele retira os meus pés do seu colo e o meu coração congela. Ele está chateado?
Observo-o levantar do sofá enquanto se dirige ao banheiro. Oh, por favor, isso não.
Estávamos tão bem, caramba.
O meu instinto obriga-me a segui-lo.
Ele está com as mãos apoiadas na pia, pensativo, olhando para ele mesmo no espelho.

"Nath..." Chamo-o, aproximando-me dele. Eu o abraço por trás. Sentir o calor dele contra mim, é viciante. Hipnotizante.
Ele não me dá chance de aproveitar esse calor muito tempo, virando-se para mim.
Os olhos dele penetram os meus, indo até à minha alma. Quase não percebo que as suas mãos vêm em direção do meu cabelo, fazendo pequenos carinhos nele.

"Ele foi o seu primeiro amor. Eu planeio ser o seu último." O meu coração pula com essas palavras, mas eu nem sequer tenho tempo de as digerir. Os seus lábios são rápidos em encontrar os meus. De forma desesperada, desajeitada e possessiva. Como se ele quisesse, precisasse afirmar isso. Tudo bem. A minha alma é sua, se você a quiser.

"Já é tarde. Fique comigo hoje." A verdade é que já está demasiado tarde para me aventurar em ir para o campus a essa hora. E não me apetece nada separar me dele. No entanto, a Yellen vai ficar preocupada.

"Mas a Yellen..." Ele coloca o seu dedo indicador sobre os meus lábios para calar.

"Tenho a certeza de que ela prefere muito mais que durma aqui comigo." Sussurra.

"Então, porque não relaxa e toma um banho quente?" Ele caminha até o chuveiro e abre a água. Depois, faz novamente o caminho até mim e coloca as mãos na beira da minha camisola, para a puxar para cima. As minhas bochechas estão a arder. Eu, por inteiro, estou a arder.
Ele me olha com luxúria, assim que fico novamente de roupa íntima.

"Você merece. Esforçou-se bastante hoje, foi uma boa menina." Ele sela os nossos lábios com um beijo rápido, saindo do banheiro. Não acredito que acreditei mesmo que ele vinha tomar banho comigo.... Oh, Deus.

A água quente desce pelo meu corpo, levando todos os pecados que eu cometi hoje, mas foda-se. Eu não estou arrependida, nem por um segundo. Acho que parte de mim, sempre teve um desejo por ele. Mesmo que eu não me permitisse admitir. Como podia admitir? Eu estava apaixonada pelo Castiel. Perdidamente apaixonada. Acho que me obriguei a acreditar que não existia nada por outro alguém que não ele. Mas o Nathaniel desperta sentimentos em mim, completamente fora do normal. É como se... eu não tivesse controlo sobre mim mesma ou sobre as minhas ações. Não sei até que ponto isso é bom, mas sei que faço tudo o por ele. Tudo o que ele quiser. Isso é o que eu sinto.
O facto dele ter estado com outras garotas, é algo que tenho de saber digerir. Ainda é tudo muito recente, só ontem é que tive coragem de admitir para mim mesma que existe algo entre nós.
E esta noite... Aconteceu tanta coisa esta noite... Caramba, eu fiz sexo com ele.
E eu não me arrependo nada! Quanto muito, quero mais.

Levo um bom tempo até tomar coragem de sair do banho, mas assim que saio, uma sensação relaxante toma conta de todo o meu corpo. A camisa do Nathaniel está em cima da pia, onde ele a deixou, então volto a vestir.
Faço o meu caminho para o quarto. O meu coração aquece com a visão que estou tendo.
O peito dele sobe e desce, acompanhando a sua respiração enquanto os seus olhos estão fechados, pacificamente. Os seus músculos estão relaxados, mas mesmo assim, estão vincados ao máximo.
Junto-me a ele, deitando-me do seu lado.
A minha mão viaja para o seu cabelo loiro, enquanto faço pequenos caracóis nele.
Só consigo olhar para ele. Desviar o olhar dessa obra de arte seria simplesmente... crime.

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