O cigano

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Ela estava tão maravilhosa em suas saias coloridas, o longo cabelo caia em seu pescoço, passando pelos ombros e repousando em seus seios.
Estava tão bonita na luz do fogo, em meio às chamas, ela não só aquecia o meu corpo como a minha alma.
Sua silhueta perfeita me hipnotizava e o jeito como as chamas brilhavam em seus olhos escuros iluminava partes de mim que eu não sabia que as possuía.

Não havia duvidas em meu coração e todas as vozes da minha razão simplesmente sumiam com o vento provocado pelos seus véus e saias.

Não tinha como pensar enquanto ela dançava... apenas sentir.

Não havia sons, distrações... apenas aquela visão de êxtase.

Na minha boca ainda tinha o seu gosto e no meu coração saudade.

Eurielle era tudo o que eu queria e quanto mais eu queria, menos eu tinha.

Assim como a bela e atraente fogueira ela podia machucar.

....

Havia se passado semanas desde o nosso encontro no rio, se antes ela já estava afastada agora eu mal a via.

Comecei a aprender mais sobre a cultura, costumes, a língua da tribo e minha amizade com Luiza se estendia ao seu marido Afonso. Eu comecei a ter algumas obrigações e ajudar no acampamento.

E numa manhã eu ia pegar alguns troncos na floresta e escutei uma voz que conhecia bem, o cheio dos incensos... apenas segui aquele canto como se fosse uma sereia que me chamasse.

E lá estava ela cantando em meio a frutas, incensos e velas.

Fiquei de longe a observando, a voz dela era linda e a floresta parecia ficar em silencio para escutá-la.

Ela recolheu suas coisas e se levantou quando percebeu que eu a observava, virou o rosto e repirou fundo.

Eurielle irritada repsondeu: "Nem com feitiço afasto você!"

Sorri com o comentário e a cara que ela fez - "Por que quer me afastar? Eu sou tão importante assim que mereço tudo aquilo?" – apontei para as oferendas.

E: "É claro que as minhas oferendas não são para você!"

O: "E são para quem?"

Eurielle respondeu séria: "São para mim! Ando tendo sonhos estranhos..." – parecia refletir - "Esquece! Nem sei por que estou te falando isso! Agora me da licença que tenho o que fazer!"

Eu fiquei mais próximo, na frente dela.

O: "Nós temos que conversar! Eurielle, eu não quis desrespeitá-la naquela noite." – foi sincero, eu não devia ter a tocado daquela forma, mas perdi o controle, o jeito que ela me olhava – "Me desculpe!"

Fiquei surpreso pela resposta dela, esperava algum fora ou silencio como ela costumava fazer.

E: "Eu também não devia ter feito aquela brincadeira sem graça"

O: "Você sabe por que eu fiquei irritado?" – ela negou com a cabeça – "Eu sempre tive o controle de tudo, sempre fui sozinho, sempre me cuidei! Mas com você não tenho controle e o que menos sinto quando você esta perto é solidão. Eu sei que mal nos conhecemos e que você me chama de inimigo, mas eu não sou! Por favor, me de uma chance! Eu sou muito mais do que aquele uniforme!"

Eurielle via verdade nele: "Por que você foi ferido daquela forma?"

O: "Estava acompanhando alguns colegas e descobri algumas coisas sobre meu comandante, coisas erradas e ele sabia que eu não ficaria calado. Bem... ele pensou num jeito de me calar"

E: "Não acredito que você foi traído pelos seus! Viu... vocês não tem união, vocês não têm honra!" – falou com desprezo.

Respondi firme: "Não, Eurielle! Talvez você seja muito nova e não tenha noção como o mundo é grande e mesmo com tanta maldade, ainda há beleza" – sorrir e toquei aquele belo rosto com meus dedos, tinha que fazer um enorme esfoço para não beijá-la – "ainda há... muita beleza!"

Os olhos dele brilhavam e ela sentia seu peito pular. Um toque dele, uma pequena aproximação e ela tinha que fazer um enorme esforço para não envolve-lo em seus braços, em seus lábios.

Eurielle olhava para aqueles olhos: "O que quer de mim, Ofun?"

Ofun sorria: "Acho que se falasse eu nunca mais a veria! Por agora... gostaria da sua amizade! Eu sei que posso conquistar a sua confiança!"

E: "Eu não sei! Meu pai nunca aceitaria que eu falasse com você!"

Ofun com um sorriso travesso: "Então ele não precisa saber!" – psicou.

Eurielle gargalhou e ele se perdeu naquele momento tão raro.

E ali começava uma amizade.

Notas Finais


* O cigano - carta 28 do Cigano do Baralho Cigano significa e representa o homem.
Revela o amadurecimento com que esse homem encara a vida.
No amor, a carta O Cigano pode significar um homem corajoso, honesto e protetor com quem se tem ligação.
Quando a carta O Cigano sai em um jogo ela pode indicar a chegada de um filho, marido...

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