A Foice

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E na entrada da grande cidade, debaixo de uma bela árvore um soldado aguardava sua amada.

Ofun tinha em seu bolso um anel, um anel com uma pedra escura como os olhos dela, estava ansioso para começar uma nova vida com sua cigana.

Tinha pedido uma reunião com o comandante Augustos, sabia que ele o ouviria apesar da fama de rígido era extremamente honrado e o ajudaria a retomar seu posto no exército e punir os que os traíram.

Olhou o céu e viu os pássaros voando, memórias de um dia feliz ao lado daquela que representava tudo de bom que havia no mundo, que havia em seu coração surgiram e sorriu com a doce lembrança.

As horas passavam e ele atentamente observava as pessoas que saiam e entravam da cidade, qualquer cor mais chamativa atraia a sua atenção.

As horas foram passando e logo o sol começou a ir embora, ele continuava lá, sabia que ela viria.

A noite chegou e duvidas começavam a surgir em sua mente, mas o fogo do seu coração, o fogo que Eurielle acendeu as espantava. Ele encostou-se à imensa arvore esperando por ela e cansado adormeceu.

Acordou no outro dia com os raios do sol iluminando seu rosto, o sol parecia querer acorda-lo, talvez iluminar a duvida que começava a se enraizar.

Ofun estava preocupado e enquanto segurava o anel pensava no que viveram, Eurielle o amava, se entregou pra ele, deu sua inocência a ele, algo muito precioso para uma cigana.

Logo o sol ia embora e nuvens negras apareciam no céu.

Ofun estava cansado, com fome, sede, mas não queria sair dali com medo dela não o encontrar.

Quando a noite chegou com sua intensa chuva, ele percebeu que algo estava errado.

E debaixo da chuva, raios, trovões... ele correu até o acampamento cigano.

Sua respiração estava irregular, seu peito apertado, mas sabia que ela não desistiria dele porque ele não desistiria dela, ela prometeu. Olhou para a cicatriz em sua mão e fechou o punho recuperando sua fé no seu amor.

E foi com uma intensa dor e desespero que viu que nada havia mais ali, o acampamento, suas tendas e cores não estavam mais lá e os ciganos já haviam partido, Eurielle havia partido, pior... Eurielle o havia deixado.

Ofun gritou com toda a sua força o nome dela. O céu pareceu ficar em silêncio e sua voz, sua dor ecoaram.

Seu corpo tremia pela intensa emoção, caiu na imensa poça de lama, socou o chão ate suas mãos sangrarem, quando não aguentava mais com seu corpo exausto, ele como uma criança se encolheu no chão enquanto a chuva caia sobre seu corpo.

Ele chorava, tremia, mal respirava. Pensava em Eurielle, ela não o amava como ele a amava, o ódio venceu o amor. No fim, ela não o escolheu, ela com seus véus o envolveu, o enganou e o abandonou.

Em meio às lágrimas sussurrava pra si, em desespero enquanto a chuva o castigava: "Eu não te pedi nada, apenas queria que me amasse como eu te amo.. Por quê? Por que no fim eu sou um maldito inimigo? Teu ódio é maior do que nosso amor? Você é tudo que quero! Só mais um dia, só mais uma chance e poderíamos ter resolvido as coisas. Por que não me esperou? A esperta cigana brincou comigo, eu baixei todas as minhas barreiras e você colocou seu punhal em meus sonhos, em meu coração. Eu acreditava que o amor era lindo, puro, o melhor sentimento que podíamos sentir e não percebi que quanto mais alto ele me levava, maior eu me machucaria com a queda. Por que me ferir assim? O que eu te fiz além de te amar da forma mais pura que já conheci? Um corte tão profundo eu não mereço! Por que Eurielle? Maldito seja o dia que você me salvou! Me deu a vida para depois tirá-la de mim!! Por quê?"

No chão frio Ofun sentia todo o calor que Eurielle provocou, que deixou em seu corpo, em seu coração, escapar devagar e dolorosamente pela abertura que o punhal dela causou em sua alma. E ele começou a tremer de frio.

Notas Finais


*A Foice é a décima carta do Baralho Cigano e mostra situações inesperadas, cortes, perdas, imprevistos, mas só saberemos se os eventos serão positivos ou negativos com base nas cartas a sua volta.
A Foice anuncia um corte brusco, o fim de um ciclo, que na maioria das vezes, se deu de forma muito dolorosa e abrupta, com sentido de perda significativa para o consulente.
A Foice indica que o corte foi inevitável e necessário, e apesar do sofrimento infligido, agora é a hora da colheita, de começar um novo ciclo, renovando as esperanças e indicando assim, uma mudança importante na vida do consulente.
Com sua lâmina afiada, a foice corta bruscamente onde passa, interrompendo desenvolvimentos (podendo ser eles bons ou ruins). Ela proporciona a possibilidade de renascimento, do recomeço, podendo assim te colocar em um caminho certo que te levará a vitórias e sucesso, ou acabar de forma triste algo que você gostaria que durasse em sua vida.
Lembre-se que nosso caminho é na verdade um aprendizado, onde precisamos conhecer e percorrer determinados trechos para nos tornarmos mais sábios e completos.
Temos um propósito muito maior para se cumprir neste mundo e por isso a foice no Baralho Cigano nos impulsiona a modificar nossa trajetória e a encontrarmos o que de fato devemos colher nesse Universo.

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