Eurielle corria pelo acampamento cigano, sua saia rodada e seu belo lenço preso em sua cabeça voavam com vento, chegou sem ar na tenda Luiza.
Luiza se levantou assustada e se aproximou da irmã que tentava recuperar o ar.
L: "Eurielle, o que foi? Por que esta assim?"
E: "O gadjé acordou! Ele..." – ela não sabia se estava assim pelo susto que teve ao ver tão próximo a ela ou a estranha sensação que invadiu seu peito.
Luiza preocupada perguntava: "Ele o quê? Ele a machucou?"
Eurielle tentava se controlar: "Não! Não... ele apenas acordou, mas desmaiou em seguida"
Luiza estava espantada pelo estado da irmã: "Calma, minha irmã! Respire..."
L: "Eu não esperava que ele fosse acordar tão depressa"
E: "Ele precisa ir embora, Luiza!"
L: "Você mesma disse que ele desmaiou. Ele não esta em condições de sair por ai sozinho"
Eurielle falou firme: "Não me importo! Ele tem que ir embora! Ou falarei com papai!"
Luiza respirou fundo: "Tome um banho! Vou buscar algumas roupas para você!" – e saiu da tenda.
Eurielle tomou banho na tenda da irmã e trocou de roupa, não entendia o porquê aquele homem ter mexido tanto com ela. A voz dele parecia conhecida e ela sentiu como se tudo dentro dela se acalmasse.
Após trocar de roupa, comer algo e conversar com Luiza foi para sua tenda e dormiu, estava cansada, pois boa parte da noite ficou olhando para aquele homem. Ela sonhou... estava sozinha num deserto com grandes dunas, ela caminhava e começava uma tempestade de areia, o vento levantava suas saias e véus, não conseguia enxergar muito bem, mas o som do vento chamou sua atenção, o vento parecia sussurrar a voz dele, a chamando e ela continuava caminhando quando viu que em sua direção vinha um homem com algum tipo de armadura de época, a tempestade passou e ela o viu... era o soldado que Luiza encontrou, ele estava com outra roupa, mas era ele.
Eurielle acordou assustada e sentiu uma imensa saudade, uma saudade que sentia desde menina, mas não compreendia o por quê. Talvez fosse de outras vidas como a velha Carmensita uma vez falou.
...
Luiza caminhou até a cabana e lá estava o soldado, ele estava dormindo e seu machucado estava com sangue, ela limpou e levantou a cabeça dele com cuidado, colocando um pouco d'água.
Ela não entendia, mas sentia uma estranha afeição pelo estranho. Arrumou algumas coisas para ir embora quando escutou ele se mexendo. Ela se virou.
...
O soldado acordava, seu corpo doía muito e sentiu um pouco d'água em seus lábios, quando abriu os olhos viu a cigana saindo da cabana. Tentou chamá-la, mas nenhum som saiu de sua boca, mas ela percebeu e se virou.
Ele estava confuso, ela era parecida, mas não era dela que se lembrava. Apesar de ser tão bela como a moça que viu ou sonhou.
...
Luiza se aproximou dele que tentava se sentar. Ela colocou sua mão no ombro dele.
Luiza com um terno sorriso falou no idioma dele: "Não se mexa! Você não pode se esforçar! O seu corte ainda esta aberto!"
Ele sentiu que de alguma forma podia confiar nela, sentiu a mesma simpatia que ela sentia por ele.
O soldado segurou a mão dela que se assustou com o gesto, mas não se moveu e ele falou - "Obrigado!". Ela sorriu.
L: "Você logo estará bem, mas precisa repousar"
Ele estava confuso, ela era amável, gentil, apesar de fisicamente lembrar a outra não eram a mesma pessoa - será que delirou, pensou.
O soldado estava fraco e adormeceu. Luiza voltou para o acampamento e resolveu algumas, depois levou algumas frutas para o soldado que ainda dormia.
Quando regressou ao acampamento foi procurar a irmã, a irmã estava se arrumando.
Luiza perguntou séria: "Falou com o papai?"
Eurielle não a olhou: "Sabe que não! Se papai soubesse já teria matado aquele infeliz!"
Luiza falou triste: "Por quê? Por que Eurielle esse ódio todo? Isso é veneno!"
E: "Esqueceu o que eles nós fizeram? Eles mataram a mamãe!"
L: "Não! Não há como esquecer, ainda me lembro da voz dela nos mandando fugir. Mas ao contrario de você e papai não enchi meu coração de ódio! Aquele rapaz deve ter a minha idade! Ele não estava lá aquele dia, minha irmã! Não o culpe por algo que ele não fez!"
E: "Bobagens! Ele é aquilo que defende, ele é aquilo que acredita! Eu me arrependo de ter te ajudado a salvar a vida dele" – e saiu da tenda deixando uma triste Luiza para trás.
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Maktub
RomanceA palavra Maktub, do árabe, significa "destino", e pode ser interpretado como "estava escrito" ou melhor, "tinha que acontecer". Eurielle ainda carrega muitas cicatrizes em sua alma, será que dessa vez com a benção do véu do esquecimento ela saberá...