A Flor de Lótus

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Eurielle estava feliz com seu bebe, era saudável e lindo. Lucas era fisicamente muito parecido com o pai, os cabelos escuros, a pele clara, apenas os olhos escuros eram da mãe.

O nascimento de Lucas renovou a alma dela e seu coração repleto de amor voltava a alimentar a esperança que a natureza, que o Deus da madre cuidariam deles e eles se encontrariam, seriam uma família.

Apesar de toda a felicidade sabia que logo acabaria o prazo de três meses que as mães tinham. Após três meses do nascimento do bebe, elas tinham que ir embora.

Ela alimentava Lucas em seu peito e não permitia que nenhuma lágrima que não fosse de felicidade saísse de seus olhos.

Colocou carinhosamente o pequeno para dormir e foi ate o escritório da madre.

M: "Você me surpreende! Em todos os meus anos de vida nunca conheci alguém como você, menina! Menina talvez não seja mais o certo p você!" – sorriu – " Você se tornou uma mulher! Eu nunca vi alguém gostar e se empenhar tanto para ajudar os outros. Pensa que não vejo que mal come para sobrar mais p suas irmãs?! Você nunca reclamou e nesse momento tão difícil, eu apenas a vejo sorrir! Nosso Pai será bom com você!"

E: "Obrigada, minha amiga! Deus já foi bom comigo, não sei o que seria de mim sem a ajuda de Flavio e sem a sua ajuda, na verdade eu sempre fui muito ajudada!" – falou emocionada com as lembranças- "Semana que vem irei embora, mas quero pedir algo".

M: "Eurielle, por favor..."

E: "Por favor, me escute! Por toda sua fé em Deus, eu peço que me escute"

M: "Diga..."

E: "Meu coração dói em deixar Lucas. É uma dor horrível. Sinto que nossos corações estão ligados e não posso abandona-lo. Mas preciso ser forte por nós... amor também é isso!" – segurou as lagrimas –" Eu peço que me dê um ano, apenas um ano! Não deixe Lucas ser adotado porque eu voltarei!"

A madre estava acostumada àqueles pedidos e ficava triste.

A cigana se jogou aos pés da sensível senhora e implorou.

E: "Por favor! Eu preciso desse tempo! Sei que Deus, a natureza me fará recuperar Lucas! Eu imploro pelo que há de mais sagrado para a senhora. Eu não posso perdê-lo"

Pedro como sempre estava ao seu lado e se aproximou de Manuela. A madre sentiu uma intensa paz em seu coração e ajudou a cigana a se levantar.

M: "Será nosso segredo, Eurielle! Mas saiba que não poderá visitá-lo nesse tempo, dou a minha palavra que nesse um ano Lucas ficará aqui comigo!"

Eurielle feliz a abraçou.

...

Foi muito triste a despedida dela e de Lucas, o bebe apesar de pequeno era extremamente apegado a sua mãe e chorou quando ela se despediu, parecia que entendia o que acontecia.

E: "Não chore, meu amor! Eu voltarei! Eu nunca vou deixá- lo, Lucas!"

As outras mulheres grávidas, os órfãos, doentes e freiras choravam naquela despedia da amiga tão querida.

A madre chamou Eurielle e lhe deu um papel: "Tome! Quando o general Stuart a trouxe me fez outro pedido sem você saber".

Eurielle olhou para o papel e tinha um endereço, aprendeu a ler no convento.

M: "Ele sabia que esse dia chegaria e não queria deixa-la desprotegida. Não é a casa dele, na verdade ele vive mais nos campos de batalha que aqui, mas é de um amigo e ele falou que esse amigo a receberia se você dissesse que foi ele que pediu" – as duas amigas sorriram e se abraçaram.

Eurielle agradecia por Deus de tantas formas a presentear com anjos em sua vida, Carmensita, a madre Manuela e Flavio. Flavio mal a conhecia e fez tanto por ela sem pedir nada em troca, se existisse um anjo com certeza seria tão belo e bom como Flavio. E questionou que se há alguns anos o tivesse conhecido o teria julgado inimigo.

Como Manuela ensinou sobre gestos de amor e gratidão orou por Flavio para que estive seguro e feliz.

Eurielle pegou seus poucos pertences, colocou seu vestido de cigana e saiu do convento, secou as lagrimas, caminhou até o imenso quartel. Como um ano antes ela não foi recebida e não a deixaram passar pelos portões e o oficial responsável não quis recebê-la. Mas não se abalou.

O tempo mudava e ela caminhava pela longa estrada, o vento gelado trazia memórias e apesar da dor, da saudade, ela caminhava - como o calor de Ofun fazia falta, pensou.

A chuva começou e a estrada de terra começou a encher de poças de lama, seu belo vestido começava a ficar sujo, mas não importava os obstáculos ela continuaria caminhando.

Quando chegou à enorme mansão, ainda chovia muito e quando gritou nos portões ninguém veio atendê-la. Pensou que fosse o som da chuva abafava seus gritos ou talvez não tivesse ninguém. Exausta se sentou encostada nas enormes grades e deixou as lagrimas escorrerem, aliviarem seu coração, sem Ofun e Lucas seu peito não sobreviveria por muito tempo.

Do lado de dentro da mansão uma senhora olhava aquela cena horrorizada e fingia não escutar os gritos da mulher.

Eurielle estava fraca e desmaiou nos belos portões da mansão.

Notas Finais


*A flor de lótus é um tipo de lírio d'água, cujas raízes estão fundamentadas em meio à lama e ao lodo de lagoas e lagos. O lótus vai subindo à superfície para florescer com notável beleza. O simbolismo está especialmente nesta capacidade de enfrentar a escuridão e florescer tão limpa, tão bonita e tão especial para tantas pessoas.

À noite as pétalas da flor se fecham e a flor mergulha debaixo d'água. Antes de amanhecer, ela levanta-se das profundezas novamente, até ressurgir novamente à superfície, onde abre suas pétalas novamente.

No simbolismo budista, o significado mais importante da flor de lótus é pureza do corpo e da mente. A água lodosa que acolhe a planta é associada ao apego e aos desejos carnais, e a flor imaculada que desabrocha sobre a água em busca de luz é a promessa de pureza e elevação espiritual.

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