E naquela fria madrugada em terras distantes, um homem não conseguia dormir e sozinho caminhava pela imensa casa enquanto carregava um copo numa mão e uma garrafa de bebida na outra, com lágrimas nos olhos, ele sentou nas escadas parecendo perdido, cansado, derrotado.
"Era assim que eu imaginava uma casa para gente. Nessa altura já teríamos filhos... é... filhos" – sorriu com o pensamento.
Levantou o copo para beber e dolorosas lágrimas começaram a cair pelo seu rosto, ele olhava a enorme cicatriz em sua mão, apertou o copo com toda a sua força e só parou quando o copo explodiu em sua mão, causando cortes e fazendo sangrar.
Ofun chorava e falava:
"Nenhum corte chega perto do corte que você fez, cigana.
Quase dois anos maldito, mas ainda dói como se tivesse acontecido ontem.
Tentei colocar isso no passado, focar em mim mesmo e não olhar para trás.
É... pelo que vemos" – sorriu ironicamente enquanto as lagrimas escorriam – "falhei nisso também!"
"Mas como deixar pra trás se eu nunca consegui avançar?
Eu morri debaixo daquela chuva te esperando.
Sonho com todas as coisas que nunca aconteceram.
Não consigo mais sentir essa dor. Não consigo respirar.
Tantas perguntas e você me negou todas as respostas.
Por que quis continuar sem mim quando nosso amor parecia tão bom, tão puro?
Eu me abri e deixei você me levar por onde queria.
Eu simplesmente estava cego com teus véus.
Cego por acreditar que algo tão lindo podia ser real, podia ser meu.
Você me fez acreditar que o meu melhor te bastava e que até meus defeitos eram amados por você.
Fez eu me sentir completo mesmo eu não sabendo que estava incompleto.
Todos os lugares que me levou, todas as formas que me marcou, eu posso sentir cada toque, cada beijo... meu corpo me trai e se acendi quando lembro dos nossos momentos... dói porque apesar de tudo o calor não é real e depois eu só sinto frio.
Frio nessa maldita solidão que você me condenou.
Deve esta casada com algum cigano tudo porque eu sou a merda de um inimigo.
Nos teus braços eu voei tão alto e você me deixou cair, estraçalhando o que de melhor havia em mim.
Eu fechei meus olhos e você me conduziu nos seus seguros passos.
Eu acreditava que nos tornávamos um, acreditava no pra sempre.
Ninguém merecer ser enganado, traído por aquele que ama, Eurielle.
Por que arrancar meu coração enquanto seus olhos sugavam a minha alma.
Sem coração, sem alma. O que sobrou de mim? Eu sou patético!
Dói, dói... eu me odeio por ainda amar aquilo que me machuca.
Dia após dia eu me odeio mais porque a cada dia te amo, te desejo mais.
É como se o teu punhal dia após dia ferisse meu orgulho, a minha dignidade... tudo porque sou um fraco e apenas desejo você que me tirou tudo.
Nunca irei me curar porque eu amo a doença.
Você partiu, mas ainda permanece aqui.
Sua sombra pelas paredes, nos meus sonhos. Eu não aguento mais acordar e perceber que era um maldito sonho.
Tentar odiar você é como uma luta diária, desgastante... que eu nunca vou ganhar."
Ofun jogou a garrafa de bebida com força no chão e continuou chorando enquanto o sangue de sua mão pingava o lembrando das marcas profundas que havia em sua alma.
Pedro estava triste ao seu lado e orava por Ofun.
Notas Finais
*A carta do baralho cigano "A Cobra", ou "A serpente" como também é conhecida, representa que há uma carga negativa reinando na sua vida no momento.
Nesta carta do baralho cigano a discórdia reina e a desconfiança, desarmonia, tristeza causada pelas traições, falsidades, perdas e afins tendem a deixar o momento um pouco amargo.
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Maktub
RomanceA palavra Maktub, do árabe, significa "destino", e pode ser interpretado como "estava escrito" ou melhor, "tinha que acontecer". Eurielle ainda carrega muitas cicatrizes em sua alma, será que dessa vez com a benção do véu do esquecimento ela saberá...