Irmãos Vermelhos
Acordei um pouco tonto estava muito escuro, a luz do corredor mal iluminava a minha cela. Senti algo em meu corpo e me afastei assustado, tinha alguém ali dentro.
E então eu escutei a voz dela.
Eurielle: "Calma, sou eu, eu não vou machuca - lo, só estou limpando o seu ferimento. Se continuar inflamado assim e você morrerá."
Meu coração foi invadindo por uma intensa paz e fiquei feliz, pensei que ela não voltaria mais.
Estava tão perto seu perfume era doce, suas mãos eram pequenas, delicadas, nem pareciam que eram feitas p matar.
O: "Como conseguiu entrar aqui?"
E: "Como já falei eu conheço muito bem essa castelo. Agora não grite, vai doer um pouco, preciso retirar essa carne. Toma, morde esse pano."
Eurielle delicadamente limpou meu ferimento enquanto alimentava a minha alma com sua presença, ela parecia não querer me machucar.
Eu segurei em suas pequenas mãos e ela parecia assustada com o gesto - "obrigado por cuidar do ferimento, está bem melhor, obrigado pela refeição e principalmente por te voltado, senti sua falta" – falei enquanto olhava os olhos dela e vi que eles não eram vazios como eu pensava, eles eram apenas tristes.
Nos olhamos por alguns minutos, estava tão escuro, mas era como se um conseguisse enxergar o coração do outro.
Ali eu soube que a amava e não poderia viver sem ela.
E pensei que ela me amasse, precisasse de mim como eu precisava dela. Doce ilusão...
......
E no meio da densa floresta eu a olhava em sua negra armadura e minhas lagrimas doíam.
O: "Você me salvou, lembra? – tocava em seu rosto.
Ela me salvava, dava significado a minha existência para depois me abandonar.
Talvez eu estava condenado a não ser a escolha dela.
.......
Após fazer amor, ela repousava a cabeça em meu peito, seu cabelo era tão macio.
Ela se sentou na cama e olhou para a parede, abaixou a cabeça e se virou pra mim e ela nada falou, naquele momento eu soube que não seria a escolha dela, ela sempre escolheria... ele.
Os olhos dela estavam cheios de lagrimas contidas, ela lutava para não sentir e tudo que eu fazia era sentir por mim, por ela, por nós.
Não ser a escolha dela partia a minha alma.
E: "Me perdoe"
Ao contrario dela as minhas lagrimas escorriam livremente pelo meu rosto e puxei sua mão, colocando o anel que comprei pra ela, com uma pedra escura igual seus olhos. Aquele anel representava um futuro pra nós e tudo que ela fazia era me deixar sozinho num passado.
O: "É seu!" - coloquei o anel e junto entregava meu coração.
Ela tremia e por mais que me doesse eu tentei engolir a dor, a magoa, a decepção de não ser sua escolha e meu coração falou.
O: "Amo você!"
Em meus braços a envolvi como se ela fosse uma parte de mim e fizemos amor, mas dessa vez devagar guardando cada som, cada sensação, cada respiração... como se seus corpos tivessem tentando eternizar aquele momento.
Ela vestiu sua armadura e lá estávamos nós no meio da floresta.
Eu sentia uma dor horrível, minhas pernas tremiam e ela montou em seu cavalo me deixando, ela não olhou pra trás e percebi que não era apenas ela que ia, minha esperança, minha paixão, meu amor... também partiam.
Seja com sua espada ou seu punhal ela sempre partia o meu coração.
...
"A dor de um coração partido pode nos marcar de um jeito que uma vida, um século não são capazes de curar, apenas amenizam a dor, porém, a cicatriz está lá, e as vezes, a alma lembra."
....
Maktub
Após a tempestade passar Ofun continuou deitado no chão molhado ficou lá por muitas horas, talvez um dia ou dois.
Seu corpo estava extremamente fraco e sua alma vazia, não tinha mais o que fazer, o acampamento já tinha ido embora e ela partiu.
Eurielle não o escolheu e isso doía muito mais do que a dor física que sentia.
Caminhou de volta para a cidade e foi para casa, pegou algumas garrafas e bebeu até desmaiar.
O dia amanhecia e acordou com dores que não sabia descrever.
Sem ela, ele se sentia vazio, oco, como se fosse só um corpo vivendo no automático. Tomou um banho e foi até o quartel.
Entrou na sala do comandante Patrick Augustus.
O comandante notou o abatimento do general: "Esta tudo bem?"
Ofun respondeu sem emoção: "Sim"
A: "Estudei seu caso e não há duvidas sobre a covarde emboscada que sofreu. Todos serão presos, não admito traição entre meus homens. Só há uma coisa que fiquei em duvida. Como sobreviveu?"
O: "Pensei ter sido salvo por um anjo, mas agora entendo que anjos não existem!"
Augustos ficou sensibilizado com a dor na voz do general, mas nada demonstrou.
A: "Bem... isso não sairá dessa sala! Não quero que uma atitude baixa dessa manche a reputação do meu exército. Pode ir para casa e tirar uma longa licença, general"
O: "Não, eu não posso ir para casa. Quero ir para o sul, sei que algumas tropas avançam"
A: "Depois de tudo que passou é o mínimo. Vá para casa e procure se distrair com algum passatempo, amor..."
O: "A única coisa que sei fazer é ser um soldado!"
Augustos estranhou o tom que o general falou, parecia ter certo desprezo.
A: "Esta bem, general! Quando pode partir?"
O: "Agora mesmo, senhor!"
.....
E ele apenas sobreviveu não havia vida sem ela...
Notas:
*Associado ao Capítulo 3 e 10 - Livro Irmãos Vermelhos
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Maktub
RomanceA palavra Maktub, do árabe, significa "destino", e pode ser interpretado como "estava escrito" ou melhor, "tinha que acontecer". Eurielle ainda carrega muitas cicatrizes em sua alma, será que dessa vez com a benção do véu do esquecimento ela saberá...