As nuvens

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Luiza estava sobrecarregada no acampamento e com as reclamações de seu pai, Eurielle com um pouco de má vontade decidiu ajudar a irmã com o inimigo.

Ela levava a comida e trocava seu curativo algumas vezes para ajudar a irmã, eles não falavam nada, no máximo ela o xingava em romani. Ele não sabia o que ela falava, mas acreditava que não devia ser algo bom porque ela sempre estava de cara feia ao contrario dele que sempre sorria, mas quando ela aparecia o sorriso se expandia também pra os olhos.

...

Num entardecer Eurielle corria para levar alguns itens para a cabana e trocar o curativo do soldado, o tempo ameaçava com seus ventos e céu cinza.

Chegou à cabana e estava irritada, não queria, não deveria esta ali, mas não sabia negar ajuda a irmã. Com má vontade colocou alguns pratos de comida no chão perto do soldado que no máximo conseguia se sentar sozinho, o machucado continuava feio.

Ele percebendo que ela quase jogou a comida nele, respondeu com seu típico sorriso. Eurielle não entendia o porquê dele esta sempre sorrindo e isso a irritava mais.

Ofun: "Isso não foi muito gentil"

Eurielle respondeu ríspida: "Não tenho q ser gentil com você, gadjé!"

Ofun ficou extremamente feliz em escutar aquela doce voz, era a voz que ouvia em seus sonhos, cantando: "Sabia que falava meu idioma. Sabia que não tinha delirado... sua voz é linda" – falou com os olhos brilhando.

Eurielle não queria falar com ele, só depois percebeu que seus pensamentos tinham saído alto demais. Ela notava que ele a olhava de um jeito diferente, de um jeito familiar.

Ela se levantou, achou melhor não trocar o curativo e ir logo embora, mas a tempestade caiu com tudo. Fechou as janelas como pode e se sentou longe do soldado enquanto ele comia e a observava.

Ofun: "Você não gosta de mim, não é?" – esperou ela responder, mas ela nem se deu o trabalho de levantar o rosto para olha-lo. Ele sorriu, ela realmente não simpatizava com ele.

Ofun: "Eu poderia saber o por quê?!"

Eurielle cuspiu seu desprezo: "Você é um inimigo!"

O sorriso de Ofun sumiu, aquelas palavras o atingiram de forma profunda. Parou de olha-la e continuou comendo. O silêncio só não ficou maior pela intensa chuva que caia.

Eurielle percebeu o efeito de suas palavras se sentiu mal, não gostou de vê-lo daquele jeito.

Ficaram observando a chuva cada um em seu canto com seus pensamentos, ele dormiu e ela percebendo isso se aproximou. Ele era tão bonito, quase o tocou, mas se conteve e voltou para seu lugar, adormeceu.

...

Ofun acordou e viu que Luiza limpava seu machucado e Eurielle ainda dormia.

Ofun olhou para Luiza: "Obrigado! Obrigado por ter me salvado! Esqueci o que meu uniforme representa para vocês" – segurou a mão dela delicadamente – "mas saiba que eu prometo nunca levantar a minha espada contra seu povo, Luiza!"

Luiza viu verdade naquela promessa: "Esta tudo bem, Ofun"

Ofun olhou para Luiza e ela viu uma certa tristeza, ele geralmente não há tinha: "Sei que se não fosse por você e sua imensa bondade eu não estaria vivo"

L: "Não só eu! Minha irmã também, aquela que dorme ali. Eu não sou boa com ervas, feridas, ela é a melhor do acampamento e se não fosse por ela, você não estaria aqui!"

Eurielle que fingia dormir, escutava tudo e se levantou reclamando em romani, pegou uma maça e saiu.

Ofun e Luiza sorriram.

L: "Não ligue para o mau humor de Eurielle, ela é assim geniosa, mas tem um bom coração! Logo meu marido chega e vou poder tirá-lo daqui"

Na mente de Ofun aquele nome ecoava.

Notas Finais


*Carta as nuvens - representa instabilidade (afinal as nuvens mudam de forma o tempo todo), por isso de acordo com a sua simbologia ela pode trazer uma chuva que pode destruir ou salvar.

No Baralho Cigano essa carta tem a imagem de nuvens pesadas que cobrem praticamente todo o céu, escondendo a luz solar. Quando não se enxerga nitidamente o caminho ou as possibilidades, o melhor a se fazer é deixar que os acontecimentos sigam seu percurso normal. Espere até que o céu cinzento e assustador vá embora e a sensação de incapacidade para resolver os problemas passe.
O segredo é respeitar os ciclos e aceitar a incapacidade momentânea.

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